Uma organização criminosa investigada por explorar jogos de azar foi alvo de operação policial, em Porto Alegre, na manhã desta terça-feira (30). O grupo coordena três bingos na cidade e, segundo a apuração, lavava dinheiro ilícito adquirindo empresas de vários ramos e abrindo contas bancárias em nome de laranjas.
A Polícia Civil descobriu, após confiscar bens avaliados em mais de R$ 11 milhões, que os cerca de 50 investigados contavam com assessoria contábil e jurídica.
O delegado Filipe Bringhenti, da Delegacia de Repressão ao Crime de Lavagem de Dinheiro do Gabinete de Inteligência e Assuntos Estratégicos (GIE), diz que obteve um e-mail comprovando que a contadora de um grande escritório da Capital orientava os criminosos com informações de como "esquentar" o dinheiro obtido com os jogos de azar –bingos e caça-níqueis.
Por enquanto, apenas esta profissional é suspeita, mas a polícia apura o possível envolvimento de outros funcionários e ainda do responsável pelo escritório. Enquanto o inquérito não for concluído, nomes de instituições, empresas e pessoas não serão divulgados.
Em relação à assessoria jurídica, Bringhenti diz que pelo menos um advogado estariaenvolvido no esquema. Inclusive, a casa e o escritório dele foram alvos de mandados de busca na manhã desta terça-feira.
A polícia descobriu que o profissional era responsável por processos judiciais envolvendo todos os investigados, bem como por acompanhar toda a parte jurídica na abertura e fechamento de empresas usadas pelos suspeitos. O advogado e a contadora, por enquanto, estão sendo tratados como integrantes da quadrilha – respondendo pelos crimes de organização criminosa e lavagem de dinheiro.
Ao todo, foram cumpridos 23 mandados judiciais na Operação Nero em Porto Alegre, Sapucaia do Sul e Xangri-lá. O grupo tem pelo menos três bingos na Capital: Roma e Coliseu, na Rua dos Andradas, e uma unidade do mesmo bingo na Avenida Princesa Isabel.
GaúchaZH acompanhou o cumprimento de mandados em dois destes locais. Os bens apreendidos judicialmente e avaliados em R$ 11,1 milhões são imóveis e veículos. Durante a operação nesta terça-feira, várias máquinas de cartões de crédito foram encontradas e todas eram vinculadas às empresas adquiridas pelos suspeitos. Foram apreendidas quatro armas e cerca de R$ 20 mil. Duas pessoas foram presas em flagrante por posse ilegal de arma de fogo.
— Uma pessoa que jogava no bingo e pagava com cartão de crédito, o valor, via estas máquinas, era repassado diretamente para uma das empresas dos mais variados ramos. Não era repassado para o bingo, por exemplo. Isso configura uma forma de esquentar do dinheiro sujo e dificultar a identificação do mesmo para pagamentos de impostos — afirma Bringhenti.
A polícia está verificando ainda quantas contas bancárias foram abertas e, como foram em nome de laranjas, o número de investigados pode ser maior do que o atual. O GIE já apurou que 55 pessoas físicas e jurídicas estão envolvidas nos crimes apurados, incluindo a contadora e o advogado. No entanto, foram identificados três líderes do esquema, são três sócios ligados a todas as empresas que são alvos da Operação Nero.