A quinta-feira (28) alterou sensivelmente a rotina em escolas de ensino fundamental e médio de Porto Alegre. A ameaça de suposto atentado divulgada pela internet e compartilhada em grupos de WhatsApp desde a noite de quarta-feira (27) criou uma onda de apreensão em pais e diretores das escolas da Rede Marista, que tiveram a segurança reforçada com viaturas da Brigada Militar e da Polícia Civil. Mesmo que a instituição tenha mantido o funcionamento normal de todas as suas unidades, alguns pais e responsáveis tomaram medidas adicionais de segurança e houve grande número de ausências entre os estudantes.
— Notamos poucos alunos mesmo. Pouca gente. Mas tem muita polícia o tempo todo por aqui, está todo mundo atento — relata um funcionário da escola Marista Ipanema, na Avenida Coronel Marcos, na zona sul de Porto Alegre.
Os funcionários também foram orientados a prestar atenção em qualquer movimentação extraordinária. Apesar de ter uma viatura estacionada no portão da escola, o empresário Carlos Eduardo Mattos, 53 anos, buscou a filha na aula no intervalo do turno.
— Estou com receio. Não sabemos o que está acontecendo. Fiquei com medo que ela ficasse abalada. Achei melhor retirar.
Segundo a filha de Mattos, metade da turma, de 30 alunos, faltou na manhã desta quinta-feira. A assessoria de comunicação da instituição confirma que houve evasão, com algumas turmas tendo a presença de oito alunos e outras, de apenas duas crianças. Toda Rede Marista suspendeu provas e testes para não prejudicar os alunos.
Avisada pela direção do Colégio Rosário, Fernanda Amarilio, 44 anos, levou a filha de 12 anos como faz todas as manhãs à instituição.
— A escola nos tranquilizou e disse ter acionado os órgãos de segurança.
O local teve duas viaturas da BM, além de uma caminhonete da Polícia Civil, com policiais armados.
Champagnat sem metade dos alunos
Segundo o comandante do Batalhão de Choque, tenente-coronel Claudio Feoli, 25 equipes reforçam a segurança tanto na Rede Marista quanto em instituições públicas da Capital.
Na escola Imaculada Conceição, na Avenida Padre Cacique, em frente ao estádio Beira-Rio, uma viatura ficou das 7h às 10h, segundo o responsável pela portaria, Nei Prado, 56 anos.
Nós achamos que se trata de um trote, um boato. Mas optamos por não deixar elas irem hoje. É aquela coisa, a gente passaria o dia inteiro apreensivo. E se ocorresse algo? Então, melhor assim. Agora, amanhã, a intenção é retomar.
ANA CRISTINA DE SOUZA CAMPOS
dentista e mãe de duas estudantes
— Movimento normal para nós hoje — disse Prado.
O motorista Lusiandro Noal, 47 anos, não notou qualquer alteração na van que dirige, com alunos da escola estadual ensino fundamental Euclides da Cunha, no bairro Menino Deus.
— Normal. Transporto em torno de 12, e todos vieram hoje.
A dentista Ana Cristina de Souza Campos, 46 anos, tem duas filhas estudando no Rosário, em turmas dos ensinos Fundamental e Médio. Ainda na noite de quarta, a decisão da família foi de não enviá-las à aula, mesmo que, ao longo da noite, as informações passadas pela escola transmitissem tranquilidade.
— Nós achamos que se trata de um trote, um boato. Mas optamos por não deixar elas irem hoje. É aquela coisa, a gente passaria o dia inteiro apreensivo. E se ocorresse algo? Então, melhor assim. Agora, amanhã, a intenção é retomar — diz ela.
No Colégio Champagnat, a estimativa é de que metade do turno da manhã, de cerca de 650 alunos, não compareceu nesta quinta-feira. Recepcionistas e seguranças regulares da instituição atuavam com ainda mais atenção na identificação de visitantes na portaria, ao mesmo tempo em que policiais militares passavam rumo à sala da direção para reuniões que estavam programadas para ocorrer ao longo do dia.
Como funciona junto à PUCRS, PMs foram convidados a circular dentro do campus da universidade, que tem outras entradas que podem levar à escola. Na central de monitoramento das câmeras de segurança, mais policiais acompanharam o movimento. Mas, segundo a direção da escola, os agentes tinham apenas a tarefa de monitorar, não de realizar abordagens. As provas que seriam realizadas nesta quinta na escola ainda não têm data prevista.
Para o turno da tarde, a expectativa também é de pouca adesão, principalmente por se tratar do turno das turmas de Ensino Fundamental. Outra das escolas da Rede Marista em Porto Alegre, o Colégio São Pedro, na Zona Norte, teve rotina semelhante, com policiais civis circulando no pátio e PMs circulando a pé do lado de fora. O movimento também caiu bastante segundo as professoras. Uma das primeiras a chegar, a diretora do colégio passou o dia recepcionando pais e explicando a situação.
— Cheguei às 7h, e já tinha polícia aqui na frente. Fiquei a manhã na entrada recebendo os pais, explicando que as aulas seriam normais. Outros nos ligavam, ouviam o nosso posicionamento, entendiam, mas diziam preferir não mandar os filhos. E nós também entendemos perfeitamente essa situação.
Enquanto uma viatura da BM permanecia na esquina, com vista para as duas entradas da escola, outro veículo da Polícia Civil ficou estacionado bem em frente. A instituição, que tem 540 alunos no no total — 310 no turno da manhã e 230 à tarde — promete seguir com normalidade nas atividades nesta sexta-feira (29).