A editora Companhia das Letras anunciou nesta segunda-feira, 10, que suspendeu a distribuição do livro João de Deus: Um Médium no Coração do Brasil, publicado pelo selo Fontanar em 2016. O livro é de autoria de Maria Helena Pereira Toledo Machado, professora de História da Universidade de São Paulo (USP) e frequentadora da Casa Dom Inácio de Loyola, onde o religioso promove seus atendimentos na cidade de Abadiânia (GO).
Por meio de nota, a editora disse estar "surpreendida com as denúncias de práticas de estupro e de abuso sexual contra o médium" e que tomou a decisão de "comum acordo com a autora".
As denúncias vieram à tona na madrugada de sábado (8) durante o programa Conversa com Bial, da Rede Globo, que trouxe relatos de quatro mulheres que relataram terem sofrido abuso sexual em Abadiânia.
— Ele me pediu para ficar de costas e começou a passar a mão pelo meu corpo. Eu fiquei incomodada e pensei: até que ponto você pode deixar um médium passar a mão pelo seu corpo? — disse uma das entrevistadas, cuja identidade foi mantida em anonimato.
No total, foram ouvidas 10 pessoas que afirmam ter sofrido abusos. A única identificada foi a coreógrafa holandesa Zahira Leeneke Maus, que esteve no local de atendimento do médium em 2014.
— Eu tinha medo de eles me mandarem espíritos ruins. Eu estava com muito medo. Agora me sinto protegida e sinto que a verdade tem de vir a tona — afirmou Zahira, que conversou com Pedro Bial nos estúdios do programa.
O Ministério Público e a Polícia Civil de Goiás abriram investigação contra o religioso e somente nesta segunda-feira (10) a força-tarefa criada pelo MP recebeu 40 denúncias. As duas instituições começaram a agendar os depoimentos. As conversas informais ouvidas até o momento pelo MP indicam que a investigação terá como ponto central o abuso sexual.
Será avaliada também a prática de outros crimes, mas nem Ministério Público nem Polícia Civil informaram quais seriam os demais delitos.