A Polícia Civil está ampliando as investigações contra organizações criminosas que exploram jogos de azar e lavam dinheiro por meio da aquisição de bens. E esta nova forma de atacar as finanças de quadrilhas foi colocada em prática na quarta-feira (14), na operação que desarticulou um grupo com mais de 50 pessoas envolvidas na compra de imóveis e veículos avaliados em R$ 16 milhões. Além dos integrantes da quadrilha e dos laranjas, o Gabinete de Inteligência e Assuntos Estratégicos (GIE) vai responsabilizar terceiros em casos que sejam comprovados a colaboração e a conivência com atividades ilícitas. Neste perfil estão bancários, corretores e locadores de imóveis que serão investigados.
A polícia, com apoio do Ministério Público, obteve sucesso para desarticular financeiramente a organização criminosa que mantinha um bingo na Avenida Cristóvão Colombo, zona norte de Porto Alegre, para capitalizar empresas de fachada, realizar diversos depósitos bancários e adquirir bens no Estado e em Santa Catarina. A Justiça acolheu a argumentação do delegado Filipe Bringhenti, responsável pela ação, sobre a chamada teoria da "cegueira deliberada", que é muito usada em outros países para o combate ao crime organizado. Ou seja, terceiros que são coniventes favorecidos e que auxiliam este tipo de crime, além da lavagem do dinheiro, também serão responsabilizados pelo mesmo tipo penal.
O diretor do GIE, delegado Cristiano Reschke, diz que é comum imóveis serem alugados para criminosos que pagam dois anos antecipados, com valores mensais acima do preço de mercado. Por isso, no caso de quarta-feira, por exemplo, locadores estão sendo investigados para verificar se aceitaram medidas semelhantes. Também estão na mira da polícia gerentes de bancos que permitiram empréstimos e transações financeiras de empresas de fachada. Estas empresas tinham um alto faturamento, já que o dinheiro do bingo era diretamente transferidos para elas através do pagamento de jogos de azar com máquinas de cartões de crédito vinculados, no entanto, não havia realizado nenhum tipo de venda.
— Nestes casos, o bancário tem um conhecimento prévio da irregularidade e, ao desconfiar da ilicitude, deveria ter a responsabilidade de informar e não apenas seguir lucrando com este delito, bem como favorecer atividades criminais organizadas — revela o delegado Filipe Bringhenti, do GIE.
Segundo ele, também está sendo apurada a atuação de corretores de imóveis. Os bens adquiridos pelo grupo criminoso foram apreendidos judicialmente e a polícia está solicitando à Justiça a apreensão de uma garagem na Avenida Cristóvão Colombo. O argumento é o mesmo para investigar bancários, corretores e locadores de imóveis. O local favorecia a exploração de jogos de azar, já que clientes do bingo estacionavam no local e entravam na casa de jogos pelo próprio estacionamento, por meio de uma porta secreta.