Indicadores de criminalidade divulgados pela Secretaria da Segurança Pública do Estado dão a dimensão da violência em que os principais municípios da Região Sul estão mergulhados neste ano. No primeiro semestre, Pelotas e Rio Grande viram seus índices de assaltos, roubos de veículos e furto de veículos aumentarem na comparação com o mesmo período do ano passado. Mas a maior elevação está nos homicídios, um salto de 40% em Pelotas e 128% em Rio Grande.
Leia mais
Pelotas registra o maior aumento de roubo de veículos entre os cinco maiores municípios do interior do RS
Dos cinco maiores municípios do interior do RS, apenas Caxias reduziu homicídios no 1º semestre
Latrocínios caem 26,5%, mas homicídios têm alta de quase 8% no RS no primeiro semestre
Pelos menos quatro fatores estariam influenciando a violência na região. O primeiro deles é o avanço de facções que dominam o tráfico de drogas na Grande Porto Alegre para o Interior. Nesse contexto, a transferência, em 28 de julho, para a Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, de Fabio Luis da Silva Mello, 39 anos, é uma das apostas da Polícia Civil para reduzir a violência nos próximos meses. Fábio do Gás é apontado como o principal líder de uma quadrilha da Região Sul.
– Com essa ação, a gente espera que dê uma acalmada – comentou o delegado Rafael Patella, responsável pela investigações dos homicídios em Rio Grande.
O encolhimento do polo naval, decorrente da crise na Petrobras e da eclosão da Lava-Jato, também é tido como elemento responsável pelo aumento da criminalidade. Da euforia vivida em 2013, com 24 mil funcionários, os estaleiros se mantêm, atualmente, com quatro mil trabalhadores, conforme dados do Sindicato dos Metalúrgicos de Rio Grande e São José do Norte.
– Seis mil trabalhadores desempregados ficaram na região e hoje não têm no que trabalhar. Fazem bico e se viram do jeito que dá – disse o presidente da entidade, Benito Gonçalves.
A socióloga e especialista em segurança cidadã Aline Kerber lembra, ainda, que o Plano Nacional de Segurança Pública ficou restrito a Porto Alegre, e incentivou a dilatação das organizações para o Interior. Porém, o titular da Delegacia Regional de Polícia de Pelotas, Márcio Steffens, contesta a relação dos assassinatos ocorridos no primeiro semestre com o tráfico de drogas.
– Está sendo um ano diferente em Pelotas no que diz respeito a homicídios. A gente percebeu diminuição dos assassinatos motivados pelo tráfico de drogas e o aumento de casos pontuais, como brigas em bares, crimes passionais e outros desentendimentos. Esses crimes banais, por diversos motivos, cresceram – explicou.
Aline rebateu:
– Talvez não tenha relação direta com a dívida, com a disputa pelo ponto. Mas são casos que acontecem na ambiência do tráfico, onde se tem facilidade de acesso a armas. Assim, uma discussão, rapidamente, vira um homicídio – esclareceu a socióloga.
Quanto à elevação dos índices de crimes patrimoniais, o delegado acredita ser reflexo da falta de estrutura do sistema prisional.
– Esse prende e solta decorrente da falta de estrutura contribui para elevação dos crimes patrimoniais. Os autores se repetem, pois não ficam muito tempo com a liberdade restringida – complementou.
Cidades vizinhas, violência igual
Vizinha a Rio Grande, Pelotas também foi afetada pela retração das atividades no polo naval. No auge, 40 ônibus de trabalhadores se deslocam de Pelotas para Rio Grande. Isso porque o município tornou-se alternativa ao valor elevado dos aluguéis em Rio Grande.
– Hoje não vem nenhum ônibus de lá. O pessoal foi morar em Pelotas e lá ficou após as demissões – complementou Gonçalves.
Doutor em sociologia e professor do Programa de Pós-Graduação em Política Social da Universidade Católica de Pelotas Luiz Antonio Bogo Chies concorda que o empobrecimento da região devido à crise favoreceu o aumento da criminalidade em Pelotas e região.
– Em outro momento, havia a guerra do tráfico de drogas, que, agora, parece estar controlada – disse.
Separada de Rio Grande pelo canal da Lagoa dos Patos, São José do Norte, com 30 mil habitantes, teve aumento de 900% no número de homicídios no primeiro semestre deste ano. A disparada neste tipo de crime se deu pela atuação de um grupo formado por adolescentes e jovens adultos que passou a eliminar traficantes rivais para monopolizar o mercado.
Em maio deste ano, uma força-tarefa da Brigada Militar e da Polícia Civil foi montada para conter os assassinatos e resultou em cerca de 20 prisões e internações. Enfraquecido, o grupo agora está sendo substituído por outra organização que atua, em parceria com quadrilhas locais, em Rio Grande e Pelotas, e que juntas seriam responsáveis pela onda de violência. Em São José do Norte, além dos homicídios, aumentaram os roubos, em 180%, e os roubos de veículos, de zero em 2016, para dois em 2017.