As regras do crime, contra os criminosos. Conforme primeiros indícios apurados pela Delegacia de Homicídios de Alvorada, a brutal chacina, com quatro jovens decapitados encontrados em um carro na noite de quarta-feira, não seguiu o mesmo roteiro de outros casos de decapitações na Região Metropolitana. Os jovens provavelmente não foram vítimas da rivalidade entre facções, mas teriam sido punidos por assalto contra a família de um criminoso local.
– Esta é a única hipótese que apuramos de maneira mais concreta até o momento. Ainda é preliminar, mas o histórico das vítimas não nos leva a crer que tivessem algum envolvimento importante com o tráfico de drogas ou facções criminosas – explica o delegado André Lobo Anicet.
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Com este crime, a Região Metropolitana chegou à macabra contagem de 11 casos de decapitação desde o começo do ano – seis em Porto Alegre, um em Viamão e quatro em Alvorada. Em pelo menos um dos crimes na Capital a perícia comprovou que a vítima teve a cabeça extirpada enquanto ainda estava viva.
Entre os mortos da noite de quarta-feira não havia marcas de tiros nos corpos. Em um deles, um mamilo foi cortado, o que pode indicar que tenha sido torturado antes da morte. Há possibilidade forte, ainda a ser confirmada pela perícia, de que os quatro tenham sido mortos pela decapitação.
As vítimas foram identificadas como Eduardo dos Santos Salvato Chaves, 19 anos, Émerson Luís dos Santos Pereira, 19, Ederson León de Araújo, 20, e Bruno Barbosa Ferreira, 21. Todos tinham antecedentes por roubos, receptação de carros e porte ilegal de armas. Conforme o delegado, recentemente o quarteto havia se mudado e estava morando em Alvorada, entre a Vila Americana e o bairro Umbu.
O cenário encontrado pelos policiais militares de Alvorada por volta das 22h mais parecia o resultado de ação terrorista. Dentro de um Lifan 620, abandonado na Rua Tupã, no bairro Salomé, primeiro, encontraram o corpo de um jovem sem a cabeça, com mãos e pés presos por lacres plásticos, caído no banco traseiro do carro. Junto, entre os bancos, um saco preto de onde pendia uma cabeça. E não era tudo.
Ao abrirem o porta-malas, a maior surpresa. Outros três corpos, igualmente decapitados, estavam empilhados, com mãos e pés presos como o primeiro corpo. As cabeças daquelas vítimas estavam todas dentro do saco plástico encontrado dentro do carro que havia sido roubado no último sábado no bairro Rubem Berta, na zona norte da Capital.
No domingo, segundo a polícia, a casa da mãe de um detento foi assaltada na Vila Americana. Os bandidos fizeram a limpa na casa e levaram ainda um veículo da família. Desde então, informações teriam chegado à polícia dando conta de que comparsas do criminoso preso teriam iniciado uma caçada aos autores do crime.
Câmera é chance para identificar criminosos
O desafio da investigação agora é determinar como aconteceu o crime e os últimos passos das vítimas. A Brigada Militar foi acionada até a Rua Tupã por moradores próximos que flagraram o momento em que três homens armados estacionaram o Lifan 620 e saíram em direção a outro carro que os esperava.
Os investigadores já identificaram uma câmera de monitoramento da prefeitura de Alvorada a poucos metros do local do crime. As possíveis imagens armazenadas pelo equipamento, porém, ainda não foram analisadas.
No histórico das vítimas, apenas um vestígio de horas antes da chacina. Na manhã de quarta-feira, os familiares de Émerson registraram o seu desaparecimento em Alvorada. Horas antes, ele havia saído de casa na companhia de outros jovens – não identificados pela família – divididos entre um carro e uma moto. O detalhe é que Émerson, com antecedentes criminais por receptação, porte ilegal de arma e roubo, cumpria prisão domiciliar.