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Dois shoppings, dois sequestros relâmpagos e um alerta: nem mesmo a sensação de segurança que o ambiente vigiado proporciona evita que o cidadão se torne alvo da violência.
O caso da aposentada levada como refém do estacionamento do Bourbon Ipiranga até o Praia de Belas, nesta quarta-feira, foi seguido por outro sequestro, o de um homem que foi obrigado a conduzir a fuga de um dos criminosos. O outro ficou no Shopping Praia de Belas, carregando sacolas de compras feitas com os cartões da primeira vítima em meio a tantos outros clientes que passeavam no final da tarde de quarta-feira.
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Sem dados estatísticos para comprovar, são os casos que chegam aos jornais ou que repercutem nas redes sociais que chamam a atenção. O ataque à aposentada de 67 anos iniciou com o objetivo de levarem sua caminhonete HVR 2016.
Os casos acabam entrando no cotidiano de violência da Capital. Em junho, uma vítima acabou morta. Mineia Machado Sant Anna, 32 anos, deixava o estacionamento do aeroporto Salgado Filho em seu Uno 1996 quando foi abordada também por dois homens. O local do ataque não tinha cancelas ou portões (como nos shoppings), mas é vigiado por câmeras. A vítima foi levada a um matagal onde foi assassinada pela dupla que a assaltou.
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Três bandidos contra a vítima
Esses dois casos não são isolados. O tíquete comprova: a jornalista de 43 anos entrou no estacionamento do Zaffari, na esquina das avenidas Otto Niemeyer e Wenceslau Escobar, no bairro Tristeza, às 19h55min da quinta-feira, 22 de junho. A mulher, que prefere não se identificar, mal havia descido do carro – estacionado no local mais fácil que encontrou, próximo das árvores –, quando foi abordada por três homens em um Gol, estacionado a algumas vagas do seu Sandero.
– Passa a chave, passa a chave – disse um deles, de boné e capuz, mostrando a cintura e insinuando portar uma arma.
De imediato, a motorista jogou a chave no chão e ofereceu tudo o que tinha. Mas não foi suficiente: os outros dois se aproximaram, um a prendeu contra a parede do supermercado, outro tentou tapar a boca da vítima.
– Nessa hora passa um filme na cabeça. Eu já tinha sacado tudo que tinha naquele dia, estava sem celular, porque ficou carregando, não tinha nada além do carro. Com medo de que me levassem e matassem, resisti – confessa ela.
Vendo a situação da jornalista, uma cliente, que estava do outro lado do estacionamento, começou a gritar, chamando a atenção de outras pessoas. Acuados, o trio de assaltantes fugiu levando apenas o molho de chaves da vítima.
Trauma em estacionamento de supermercado da Zona Sul
Duas semanas antes, Nereida Rocha Otten, 55 anos, viveu o mesmo trauma. Ao meio-dia e meio de 7 de junho, uma terça-feira, a psicóloga e professora aposentada deixava o supermercado Nacional, na Avenida Teresópolis, quando um jovem se aproximou do HB20. Com as duas mãos no bolso da jaqueta, o bandido tomou a chave e pediu o celular da motorista.
Enquanto o jovem invadia o carro, a psicóloga gritou por ajuda a um grupo de taxistas e abriu a porta do carro, tentando evitar a fuga. Prensada pelo veículo ao lado, Nereida acabou sendo atropelada pelo próprio carro. A resistência lhe rendeu uma costela quebrada, um hematoma que cobriu a coxa e um "galo" na cabeça.
Depois de colidir em uma árvore, o assaltante conseguiu fugir a bordo do HB20 – carro mais roubado em Porto Alegre em 2015, segundo banco de dados federal de veículos segurados. O carro foi localizado no final do dia, na Vila Cruzeiro, com a roda danificada, quando Nereida já havia terminado o trâmite burocrático na polícia.
– Nunca me senti tão amedrontada como agora, depois de ser assaltada no estacionamento do super onde sempre vou, que é do lado da minha casa, e por uma segurança que supostamente paguei para ter – aponta.
Grávida foi atacada em outro supermarcado da Zona Sul
Uma enfermeira de 40 anos, que prefere não se identificar, estava grávida de cinco meses quando foi atacada no estacionamento do Zaffari Juca Batista. Eram 16h30min de uma segunda-feira, 30 de maio. O criminoso se aproximou da porta antes que ela conseguisse sair do carro, e se posicionou como se estivesse conversando com uma amiga.
– Eu disse que estava grávida e pedi que não me machucasse. Tinha R$ 10 na bolsa e R$ 2 no console. Ele queria mais, queria relógio, que não uso. Pegou o cartão do banco e dei a senha. Daí ele: pega teu carro e vaza – lembra a enfermeira, que apagou o carro em seguida devido ao nervosismo.
Com medo de ter o endereço exposto, ela não registrou ocorrência:
– Só bloqueei o cartão e não vou mais naquele supermercado. Agora cuido quando chego, olho, tento parar mais perto das entradas ou de onde tenha guarda.
Garagens têm sido alvo recorrente
Sem distinção, na base de dados estadual, do local dos crimes, não existe um levantamento que indique se os roubos em estacionamento têm sido mais frequentes. Mas com o crescimento da cidade, aumento da frota de veículos e da insegurança nas ruas, as garagens têm sido um alvo recorrente.
Segundo titulares de diversas delegacias de bairro ouvidos por ZH, há dificuldade na obtenção de imagens de câmeras de monitoramento de estabelecimentos e de fazer o reconhecimento de suspeitos pelas vítimas, devido ao trauma. Os bandidos, muitas vezes, não tê antecedentes ou então são adolescentes.
– Esse tipo de crime quase sempre é cometido por bandidos sob efeito de drogas, muitas vezes despreparados, e que chegam com arma engatilhada. Por isso, reforço: nunca reaja. Um movimento brusco pode custar a vida – destaca o delegado Cléber Ferreira.
O que dizem os estabelecimentos citados
Zaffari: "A Cia Zaffari está ciente do contexto atual de aumento da insegurança urbana e, como empresa atuante no setor de varejo, trabalha com uma estrutura de equipamentos e equipes de vigilância em suas unidades, no sentido de coibir, dentro do possível, tentativas de atos infratores. No entanto, não atua com poderes de polícia, e conta com a segurança pública para evitar as ocorrências referidas, visto que suas unidades são espaços abertos ao público".
Walmart: "Para o Nacional, a segurança de seus clientes e funcionários é uma prioridade. A empresa informa que a loja conta com sistema de segurança interno, colabora com as autoridades em relação ao caso. Está apurando a situação e dará toda a atenção cabível e necessária".
Praia de Belas: "O empreendimento segue colaborando com as autoridades competentes para solução do caso e opera normalmente", diz o shopping, em nota, sobre o caso ocorrido em 26/10.
Bourbon Ipiranga: "A empresa trabalha com uma estrutura de equipamentos e equipes de vigilância especializada em suas unidades, no sentido de coibir – dentro do possível – tentativas de atos infratores. Está à disposição das autoridades para colaborar com as investigações no que for possível."