Uma fotografia publicada no Facebook, mostrando uma caminhonete Strada vermelha, que seria do prefeito de Lavras do Sul, Alfredo Borges (PP), está sendo usada pelo Conselho Tutelar e pela Polícia Civil da cidade para tentar chegar a testemunhas de um crime do qual o prefeito é suspeito. Borges pode ter cometido uma infração de trânsito - o transporte de pessoas na carroceria do veículo - e distribuído bebidas alcoólicas para adolescentes na madrugada do último sábado. O caso começou a ser investigado porque a mãe de dois adolescentes que foram levados para casa pela Brigada Militar por estarem embriagados registrou uma ocorrência policial.
O Conselho Tutelar já ouviu seis pessoas sobre o caso, entre elas, adultos e adolescentes. Elas confirmaram que o prefeito teria pagado cerveja para quem estava na Praça Licínio Cardoso, na madrugada de sábado. Além disso, segundo um ofício do Conselho Tutelar recebido pela Brigada Militar (BM) ontem, algumas delas disseram que policiais militares chegaram a parar o veículo do prefeito enquanto ele transportava adolescentes para uma casa onde haveria uma festa, mas não o autuaram (leia mais abaixo).
No final da manhã desta terça-feira, Borges deixou a prefeitura em uma caminhonete Strada vermelha. Ele não quis falar com a imprensa. Mas posicionou-se por meio de uma nota oficial. Nela, o prefeito não fala nada sobre o transporte dos adolescentes em seu carro. Ele afirma que tem convicção que não fez nada de errado e confirma que estava na praça, mas alega que, quando chegou lá e se reuniu com um grupo de jovens, "todos já estavam bebendo" e que "apenas fez companhia a eles em um bate-papo informal". O prefeito também afirma que desconhece a idade das pessoas e que, "se forem menores, com certeza, cada uma tem o seu próprio representante legal, que por certo não é o prefeito municipal".
- O prefeito questiona qual é a minha razão para veicular a foto. É bem simples, sou um cidadão que viu o prefeito completamente embriagado, bebendo cerveja com os adolescentes e, depois, dirigindo, com eles na carroceria, em alta velocidade - afirma o digitador Rene Figueiredo, 48 anos, que é citado pelo prefeito na nota oficial por ter divulgado a fotografia na rede social.
Glenio La-Rocca, dono do restaurante e Pizzaria Telúrica, citado como o local onde teriam sido compradas as bebidas, garante que elas não foram vendidas a menores. Ele, no entanto, afirma que não sabe se quem pagou por elas foi o prefeito.
"O prefeito se dispôs a pagar pela bebida. Deu o cartão dele para um amigo comprar"
Um adolescente de 17 anos, filho da mulher que registrou ocorrência contra o prefeito Alfredo Borges (PP) pela distribuição de bebidas alcoólicas a menores de idade, conversou nesta terça-feira com o "Diário" por telefone e contou o que viu naquela madrugada. Segundo ele, a Brigada Militar chegou a parar o carro do prefeito, mas o policial militar pediu apenas para que quem estivesse na caçamba da caminhonete descesse.
De acordo com o relato do adolescente, o prefeito teria bebido antes de dirigir e teria dado dinheiro para a compra das bebidas oferecidas aos adolescentes. A irmã dele, que tem 15 anos, teria desmaiado depois de beber demais.
Diário de Santa Maria - O que você viu na praça?
Adolescente - Quando eu e a minha irmã chegamos lá, por volta da 1h30min, já tinha muita gente por lá. O prefeito estava dando dinheiro para irem buscar cerveja porque tinham corrido com ele do bar. Estava todo mundo bebendo junto. Tinha vários adultos e muitos menores. O prefeito também estava bebendo.
Diário - Vocês ficaram lá até que horas?
Adolescente - Até umas 3h30min. O prefeito tinha oferecido para a gente ir para a chácara dele. Mas não tinha como todos irem porque era longe e não tinha transporte, então, uma mulher ofereceu a casa dela. O prefeito se dispôs a pagar pela bebida. Deu o cartão dele para um amigo comprar quatro fardos de cerveja no bar.
Diário - Foi para ir até essa casa que vocês subiram na caminhonete?
Adolescente - Sim. Era perto, mas o prefeito disse para subirmos no carro, que ele nos levava. Então, todos que estavam por lá, umas 20 pessoas, começaram a subir na carroceria do carro. A minha irmã foi a pé com a dona da casa.
Diário - Quem dirigiu?
Adolescente - O prefeito. Ele fez a volta por trás da igreja e, quando chegou na esquina, a Brigada Militar estava vindo. Nós gritamos "olha a polícia", e ele começou a correr com o carro. Quando ele dobrou a esquina, várias pessoas desceram e se esconderam. Mas os policiais vieram atrás do carro dele e mandaram parar. O policial foi falar com ele, mas só mandou a gente descer e liberou o prefeito.
Diário - Você não ficou com medo de andar na carroceria e com um motorista que, segundo você conta, havia bebido?
Adolescente - Eu estava muito bêbado. Só o que a gente queria era se divertir, escutar música. Nem pensei em risco.
Diário - A sua irmã chegou a passar mal. O que vocês fizeram para ajudar?
Adolescente - Quando chegaram na frente da casa para onde estávamos indo, ela desmaiou. Peguei um cooler com gelo e água e despejei nela, mas ela não acordava. Então, estava tentando carregar ela para casa. Foi quando a Brigada Militar nos encontrou e nos levou embora.
Diário - Algumas pessoas falam que um vídeo foi gravado. Você chegou a ver alguém fazendo uma gravação?
Adolescente - Sim. Eu vi o vídeo. Foi a gente que gravou. É que dizem que ele (o prefeito) bebe e, no outro dia, não se lembra de nada. Então, a gente gravou para mostrar para ele. Gravamos ele dizendo que, na segunda-feira, ia pagar um churrasco e bebida para nós. Ele dizia que, "para menor, só podia dar refrigerante, mas que, como não sabia a idade de ninguém, então, todo mundo podia beber". Mas apagamos o vídeo.