No meio da mata que cerca Cotiporã, no caminho de quem desce a serra costeando o Rio das Antas em direção a Bento Gonçalves, uma barreira policial formada por agentes jovens e experientes é a prova de que a Brigada Militar está mesmo disposta a encontrar os assaltantes foragidos.
Entre homens e mulheres, nove soldados munidos de fuzis e um armamento pesado interditou a passagem do carro da reportagem de Zero Hora quando nos aproximados da barreira. Com cara de poucos amigos, os policias nos mandaram abrir o porta-malas, sair do carro e nos apresentar. Em meio a mata escura, todos são suspeitos.
Aos nos apresentarmos, a orientação era fazer o mínimo de barulho, manter apagadas as lanternas e faróis das viaturas e o mais importante: correr para trás da árvore ou para o chão quando outro carro se aproximasse.
No local, apenas o som do rio e de alguns pássaros notívagos distraíam os policiais até a nossa chegada.
- Para manter-se acordado, o jeito é ficar de pé e falar baixo - afirmou um dos brigadianos.
A estratégia de abordar os carros nas vias de acesso à cidade, explica o Sargento Admar, líder da equipe na barreira, foi uma decisão do Serviço de Inteligência da Brigada Militar mantida durante todo o dia. A noite, a estratégia continuou levando em conta o cenário do crime, a declividade do terreno e o depoimento dos reféns.
- Vamos pegar eles no cansaço. As vítimas disseram que os assaltantes estavam perdidos. A uma hora dessas, também devem estar com fome e sem comunicação, pois a bateria do rádio não dura mais de quinze horas - analisa o Sargento.
A postos para o serviço de resgate dos reféns desde as 8h da manhã de sábado, o sargento e sua tropa vieram do município de Farroupilha para reforçar a operação. O cansaço perceptível após dezoito horas de trabalho não deixou baixar a guarda nem o farol em meio a selva. Qualquer piscada de olhos poderia ser fatal.
Além da barreira em que fomos parados, outras três cercam a cidade na tentativa de encontrar algum foragido. As tropas se revezam. Enquanto acompanhávamos o trabalho do 36° Batalhão da Brigada Militar de Farroupilha, outra equipe - mais enxuta - chegou de Gramado para render a tropa.
O horário de encerramento do expediente é um mistério. As buscas devem permanecer ao clarear do dia, e espera-se a orientação oficial do Comandante da BM para definição dos trabalhos no último dia do ano. O certo é que quase todos os policiais já estão preparados para não estar em casa na festa da virada.
Mas se dependesse da vontade de Lisandra dos Santos, 25 anos, uma das mais jovens da operação, a polícia estaria embrenhada na mata mesmo com a escuridão.
- Temos que respeitar a orientação. Mas por mim, estaríamos percorrendo a floresta atrás dos bandidos, indo nas casas. Essa adrenalina é o que renova nossa vontade de vestir a farda e vir trabalhar todos os dias - afirma a policial.
Veja onde fica o município de Cotiporã, na Serra
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