*Lisandra é pedagoga e psicopedagoga
E você já parou para refletir sobre o que é a infância hoje em dia? O que significa ser criança? O que o mundo espera das nossas crianças? Quem são suas referências? Quem são seus ídolos? Onde está o porto seguro da infância atual? Fico bastante incomodada quando escuto pessoas dizerem que a infância é a melhor fase da vida e que, quando crianças, não damos valor.
Sabe o porquê de acharem que é a melhor fase da vida? Por já terem passado por ela. Nós, seres humanos, temos o hábito nostálgico de acharmos que tudo era melhor antes. Óbvio que pensamos assim, afinal, o "perrengue" é o hoje! É hoje que sentimos o medo do amanhã, a angústia da incerteza, a dor do erro. Porém, todos esses sentimentos sempre existiram, sempre fizeram parte da gente. A diferença é que era proporcional à fase. Quando criança, problemas de criança. Quando adolescentes, crise da juventude. E agora, adultos, o sofrimento dói no coração, e muitas vezes no bolso. Essa é a única diferença.
Tenho o privilégio de conviver com 60 crianças diariamente. E procuro jamais menosprezar suas dores, seus receios, seus medos. Tento mostrar que para tudo há uma solução e que o tempo cura quase tudo - e o que não cura deixa pelo menos fora do foco.
Hoje em dia, a infância é quase solitária e autodidata. As crianças vivem nas escolas desde a mais tenra idade, e a cada ano mudam-se os cuidadores, as combinações, as salas e lá estão elas: firmes e fortes - às vezes, nem tão firmes e nem tão fortes assim.
As crianças mexem nos iPads com uma eficiência impressionante, mas muitas não sabem se equilibrar numa perna só, não reconhecem esquerda e direita e não conseguem ter 15 minutos de trabalho em equipe, afinal, o que é uma equipe mesmo? Num mundo onde o isolamento é cada vez mais comum, crianças e jovens se "reúnem", cada qual com seu tablet ou notebook, lado a lado, mas sem contato algum.
Quem são suas referências, seus modelos? Homens ricos e aparentemente bem-sucedidos e mulheres de corpo escultural. Claro que estou generalizando. Existem exceções, obviamente. Mas a maioria esmagadora tem como ídolos pessoas assim.
Não quero esperar que o tempo - aquele que cura quase tudo - mostre a elas que existe algo além do ter. Que ser é muito mais importante e que o bom coração tem um valor inestimável.
As crianças precisam de modelos saudáveis, de referências que mostrem mais do que contas bancárias estratosféricas e corpos bem torneados. Elas precisam de adultos mental e emocionalmente saudáveis, que saibam lidar com suas carências e inseguranças, que lhes deem o porto seguro de que tanto precisam, que não discutam em sua frente nem se desrespeitem, porque, querendo ou não, somos modelos.
Aliás, ótima sugestão de presente as suas crianças nesse dia 12 de outubro: bons exemplos.
No divã
Lisandra Pioner: Que referências têm as crianças?
Bons exemplos são uma ótima sugestão de presente para o dia 12
GZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: