*Lisandra é pedagoga e psicopedagoga
Frustração: negação de uma realidade insatisfatória.
Resiliência: poder de recuperação.
Creio que nem seja necessário comentar que uma coisa tem totalmente a ver com a outra, não é?! Mas, como dizia Paulo Freire, "o óbvio precisa ser dito", e é exatamente sobre isso que vou falar.
Cada dia mais tenho percebido a dificuldade de as pessoas aceitarem as frustrações. Frustração gera raiva, tristeza, decepção e, além disso, exige reflexão e retomada. Aí está o problema. Vivemos na geração da satisfação plena, da nova configuração familiar, do imediatismo, da necessidade dos desejos satisfeitos, dos pais mais ausentes e mais culpados, da volatilidade, da superficialidade. Então, como aceitar sentimentos dolorosos e retroceder, repensar, parar?
A resiliência - tanto quanto outras qualidades, como a facilidade de trabalhar em grupo - tem sido cada vez mais considerada pelas empresas (e pela vida afora). A capacidade de se reinventar, de retomar a vida, de se refazer é, sem dúvida, um adjetivo louvável e que só tem a acrescentar no currículo e no caráter de um ser humano.
Mas e o que fazer para se tornar resiliente? Isso se aprende? SIM! Resiliência se aprende ao longo da vida. Mas, para ser apre(e)ndida, leva tempo, paciência e tolerância. É preciso aceitar algumas frustraçõezinhas aqui e ali, sem fazer disso um drama, uma dificuldade intransponível.
Pai e mãe: querem ajudar seus filhos a tornarem-se resilientes? Permitam que eles se frustrem! Estejam atentos, mas não antecipem os acontecimentos. Estendam a mão, mas não resguardem de todo e qualquer possível tombo (as quedas são inevitáveis mais cedo ou mais tarde, e, pode ter certeza de que, quanto mais tarde, mais dolorosas).
O Pedrinho tem 20 jogos de computador? Não compre o 21º sem necessidade.
A Joana acabou de comer uma barra de chocolate? Não compre mais um sorvete só porque ela passou na frente da lanchonete.
O Lucas tirou nota baixa? Não tente dar desculpas, aproveite para mostrar que a falta de dedicação tem consequências (e a nota é uma das menores).
A Patrícia atirou papel de bala no chão? Faça-a juntar, mesmo sabendo que milhões de pessoas fazem o mesmo.
O João não fez o tema? Exija que faça. É obrigação dele na fase escolar.
Chega de crianças exageradamente sensíveis e pais exageradamente condescendentes. Educar não significa desamor - carinho e regras podem andar juntos.
O mundo está aí, pronto para esmagar quem não aprendeu a lidar, superar e se transformar com as adversidades.
Coluna Nossos Filhos/No divã
Lisandra Pioner: A importância da frustração
Permitir que os filhos se frustrem é uma atitude necessária
GZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: