Um trabalho feito pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) identificou anticorpos para covid-19 em cerca de 240 recém-nascidos. A descoberta indica que a proteção tenha sido passada pelas mães durante a gestação.
O estudo foi feito entre abril e agosto, em cinco municípios mineiros, e reuniu mais de 2 mil bebês. A partir de amostras de sangue, coletadas durante o teste do pezinho, os pesquisadores conseguiram identificar que 15% deles foram reagentes para anticorpos.
Como a dosagem foi feita na primeira semana de vida, não seria viável que os recém-nascidos se infectassem e tivessem tempo de produzir anticorpos após o parto. Portanto, é possível afirmar que esses anticorpos foram transferidos da mãe para o filho durante a gestação, explica Cláudia Lindgren, professora associada do Departamento de Pediatria da Faculdade Medicina da UFMG.
— A primeira grande conclusão foi essa: eles receberam anticorpos na gestação — diz a pesquisadora.
Porém, por trás da boa notícia, há um dado preocupante: 40% das mulheres cujos filhos tinham anticorpos sequer sabiam que tiveram covid-19. Isso significa que uma parcela significativa de mães se contaminou e não tomou conhecimento da infecção.
— Isso abre um alerta sobre a importância de reforçar a proteção nesse grupo, pois o desfecho da covid-19 em gestantes é imprevisível e pode ser grave — observa Cláudia.
Apesar de ser uma informação importante, a presença de anticorpos não é garantia de proteção, argumenta a pesquisadora. Isso porque o teste usado no estudo não permitiu dizer se os anticorpos eram ou não capazes de neutralizar a ação do vírus.
— De qualquer forma, ter esses anticorpos é uma esperança de que pode ter proteção. Por outro lado, isso evidencia que houve infecção na gravidez, e não sabemos ao certo que consequências isso pode trazer para o bebê. Temos a experiência da zika e da rubéola, que, quando ocorrem na gestação, podem ter repercussões graves para a criança — avalia.
Para analisar se a infecção na gestação teve algum impacto no desenvolvimento infantil, uma nova etapa do estudo, que deve iniciar em outubro, vai monitorar esses bebês. A previsão de acompanhamento é de dois anos.