Corredores movimentados e lojas ocupadas por grandes marcas: assim era o Rua da Praia Shopping nas décadas de 1990 e 2000. Hoje, o cenário é diferente no tradicional centro comercial de Porto Alegre. Há pelo menos 10 anos, lojistas têm deixado o local devido à queda no movimento. Para reverter a situação, a gestão do empreendimento tem apostado em aluguéis temporários. Além disso, um projeto de revitalização do prédio está sendo desenhado.
Há quase um ano, o Rua da Praia foi parcialmente inundado pela enchente histórica que atingiu o RS, o que afastou algumas marcas. Mas antes o shopping já vinha sofrendo com a queda no fluxo de pessoas no Centro Histórico da Capital. O local onde fica o centro de compras, junto à Praça da Alfândega, foi tradicionalmente cercado de escritórios, agências bancárias, repartições públicas. Após a pandemia, muitos dos trabalhadores que circulavam diariamente por ali passaram a atuar em home office, relatam comerciantes.
Segundo a administração, o Rua da Praia tem, no total, 77 espaços para lojas. Em área bruta locável, o percentual de ocupação é de cerca de 50% — ou seja, quase metade da área para comércio no empreendimento está vazia. A reportagem de Zero Hora esteve no shopping na segunda-feira (14) e contou 32 empresas oferecendo produtos e serviços no local.
Desde a enchente de maio de 2024, a empresa Ponto Pronto, que faz a gestão do shopping, tenta aumentar a ocupação oferecendo a lojistas contratos com duração inicial de três a seis meses, com preços diferenciados no aluguel.
Cacau Show, de chocolates, e a livraria Pop Up, foram as primeiras a aderir ao modelo. Passado o período inicialmente contratado, as duas marcas escolheram permanecer. Antes da enchente, elas já tinham lojas fixas no empreendimento, mas em uma parte do shopping que foi inundada, e por isso haviam optado por sair.
— Agora, elas se tornaram operações fixas novamente. Foram para uma área mais elevada. É um sinal de que os clientes estão sendo fidelizados. Esse modelo de aluguel é como um test drive — diz o gerente de marketing da Ponto Pronto, Marcelo Depermann.
— Também começamos a fazer mais campanhas para que o cliente que compra no shopping concorra a prêmios. Pessoal tem aderido bastante — acrescenta.

A Ponto Pronto assumiu a gestão do Rua da Praia em 2023, com a estratégia de povoar um andar de cada vez. Antes da enchente, o plano estava dando certo, diz Depermann. A taxa de ocupação, por área, fechou em 58% naquele ano, mas caiu para 45% em 2024. Nos primeiros meses de 2025, houve leve sinal de melhora.
— Está voltando, mas mais devagar do que antes. Os negócios em Porto Alegre estão enfraquecidos, mais lentos — avalia o gerente de marketing.
Novidades
Ao menos cinco espaços do Rua da Praia serão ocupados nos próximos meses. A gestão do empreendimento não revela as marcas, mas são dos segmentos de alimentação, de moda e de colchões.
Uma novidade confirmada é a Natura, de cosméticos, que ocupará um ponto no primeiro piso deixado pela Paquetá em 2024. A loja tem entradas pela rua e por dentro do shopping, ficando em frente ao quiosque d'O Boticário, que vende produtos do mesmo segmento.
Outra aposta do shopping para atrair mais clientes — e por consequência mais lojistas — é uma grande revitalização a ser feita em sua estrutura. O projeto está sendo elaborado, e por isso ainda não se divulga o valor que será investido, mas o gerente de marketing da Ponto Pronto adianta que serão feitas melhorias nos corredores, na iluminação e na identidade visual da marca.
O Rua da Praia Shopping pertence ao Grupo Isdra, empresa tradicional do Rio Grande do Sul e que também é dona de outros imóveis na Andradas. A Ponto Pronto afirma que o centro comercial não está mais à venda — como indicava uma carta-convite enviada a interessados em 2022.
Primeiro piso e subsolo
O primeiro piso do Rua da Praia é o mais povoado de todo o shopping. Há apenas um ponto desocupado, justamente onde ficará a Natura. É neste pavimento que também opera o McDonald's, a primeira loja da marca no Rio Grande do Sul, que foi trazida para a Capital pela própria Ponto Pronto em 1989. Outros dois espaços com saída para a rua são ocupados pela Farmácias São João e pela Casa Maria.
No nível da praça de alimentação, ainda há seis espaços para lojas disponíveis. Há quatro opções de restaurantes. Em 2023, o shopping perdeu o Burguer King, de fast-food, mas ganhou recentemente a Sagrada Parrilla, de carnes. A operação estava prestes a inaugurar em maio de 2024, quando teve todo seu espaço tomado pela água, e o investimento de R$ 10 mil foi perdido.
O negócio foi aberto após reforma na praça de alimentação, que teve até o forro trocado. O dono do restaurante, Alexandre Silveira, diz que o movimento está abaixo do esperado. Ele trabalha com uma equipe de quatro funcionários e atende de 20 a 30 clientes por dia.
— Eu já tinha outro negócio no Centro, sei como era a coisa antes e como está agora. Aqui (na parrilla) o movimento está ruim. Vamos tentar reverter essa situação, ver o que o shopping vai propor. Se isso não se encaixar dentro da possibilidade de manter o restaurante, vou ter que fechar, infelizmente. Faço um bom trabalho, tenho um produto bom, carrego as pessoas "no colo", mas falta fluxo — reclama Alexandre.

O empresário Marcos Bressan é dono do restaurante Tipo Exportação, de bufê, que está no shopping desde 1995. Apesar da enchente, ele optou por reabrir a loja e se manter no local.
— Eu já tinha meu ponto, minha clientela. Mesmo tendo que reconstruir a loja, ainda era mais barato do que abrir em outro lugar. O investimento é muito alto para abrir uma nova loja. E eu iria me mudar para onde? Conheço todo mundo aqui no entorno. Recebemos trabalhadores e moradores de todo o bairro — diz o empresário.
No subsolo do Rua da Praia, segue fechado o grande ponto que era da Americanas. Ele ficou completamente inundado e ainda passa por manutenção. Segundo a administração do shopping, ainda não há marcas interessadas em assumir o ponto.
Segundo piso
Ao chegar ao segundo piso, o frequentador do Rua da Praia nota mais lojas desocupadas. São 20.
Um novo salão de beleza foi inaugurado há uma semana. Marcia Valentina abriu o MV Studio junto do marido, Cristian Oliveira. Os dois estão estão com boa expectativa para o negócio:
— Trabalho no Centro há 15 anos como funcionária. Agora, tenho o meu espaço. Escolhi estar no Rua da Praia porque o meu público é do bairro, trabalha aqui no entorno. Minhas clientes vêm da Caixa, da Assembleia. Está todo mundo perto — diz Marcia.
— Não dependo do fluxo de clientes do shopping. Se pegar alguém que está passando por aqui, tá ótimo. Mas já tenho uma clientela fiel — completa a empresária.

A empresária Maria Eduarda Severo, sócia da ótica Gold Vision, porém, diz estar preocupada com o movimento não só do shopping, mas do bairro.
— Desde a enchente, sentimos um baque muito grande no comércio do Centro. Na pandemia, já sentimos bastante a diminuição do fluxo de pessoas aqui. As vendas caíram mais de 50%. Com a enchente, fechamos uma loja de açaí que tínhamos na praça de alimentação do shopping e resolvemos ficar só com a ótica — conta.
Além da ótica de Maria Eduarda e do salão de Marcia, o segundo piso do Rua da Praia conta com lojas de roupas, uma de suplementos, uma estética, uma academia e uma agência dos Correios.
Terceiro piso
Subindo ao terceiro piso, os nostálgicos lembram do antigo cinema do Rua da Praia, fechado na pandemia. Desde então, não houve interessado em assumir as duas salas. Logo ao lado, o espaço que era do restaurante Chef do Rua, muito movimentado no passado, também está vazio.
São 11 espaços vagos em todo o terceiro piso. Ainda seguem abertos um salão de beleza, uma cafeteria, uma gráfica, duas lojas de informática, um espaço de massagens e a loja Ásia Presentes, que está desde 1997 no shopping. Uma das donas, Julia Zhao, diz que teve de demitir todos os funcionários após a pandemia. Hoje, apenas ela e a família trabalham no local.
— Não é por causa do movimento no shopping que vamos sair. Temos clientes fixos de anos — disse Julia, que veio da China na década de 1990 junto com seus familiares.