Na movimentada Avenida Independência, em Porto Alegre, operários entram e saem da tradicional Casa Godoy, construída em 1907. A estrutura de três pavimentos passa por grande obra de revitalização bancada pela prefeitura da Capital. O espaço, que ao longo do século 20 serviu de moradia a quatro famílias aristocratas, passará a ser sede da Diretoria de Patrimônio e Memória (DPM) e da Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural (Epahc), ambas ligadas à Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa (SMCEC).
A primeira fase da obra começou há nove meses, com custo de R$ R$ 2,2 milhões. Estão sendo feitos serviços de recuperação da cobertura, dos pisos, das escadas e o restauro de sanitários e das redes hidrossanitária, elétrica, climatização e PPCI, além da instalação de um elevador. Os trabalhos são executados pela empresa Costa Mar e devem se estender ainda até agosto.
— Aguardamos o restauro desta casa há mais de 20 anos. Dividimos em duas fases para começar logo, mesmo que com menos recursos. Agora estamos na fase de infraestrutura, para poder entrar na casa e continuar as etapas mais detalhadas — explica a arquiteta da Diretoria de Patrimônio e Memória, Rosilene Possamai.
Com 719 metros quadrados de área construída, a Casa Godoy é distribuída entre o andar térreo, um segundo pavimento e o sótão. O edital para a segunda fase da obra ainda está sendo elaborado, mas a prefeitura estima investir mais R$ 3 milhões, com a obra durando mais um ano e meio.
A próxima etapa inclui o restauro de esquadrias, elementos metálicos, rebocos, pinturas e revitalização de um jardim nos fundos, onde serão realizados eventos. O sótão será usado como biblioteca com acervo de livros especializado na área de patrimônio e de restauro. Os demais espaços serão ocupados por salas de trabalho para os servidores públicos. Pelo lado de fora, será mantida a cor amarela na fachada.
História
A Casa Godoy é um raro exemplar do estilo art nouveau em Porto Alegre, que estava em evidência na Europa do século 19. Projetada pelo arquiteto Hermann Menchen, a obra do espaço na Avenida Independência, 456, começou em 1904, ficando pronta três anos depois.
No térreo, um corredor de distribuição ligava os antigos quatro dormitórios a um banheiro construído entre eles. Neste pavimento, também ficava um gabinete e a sala de visitas, com frente para a avenida. Para os fundos do lote, havia uma sala para jantar, uma para fumar e, ao lado, a sala de música.
A casa foi construída pela família Meyer, que pouco tempo depois a vendeu para a família Grecco. Passou pelos Tschiedel, até ser comprada pelos Godoy em 1939. Além de moradia, o psiquiatra Jacintho Godoy utilizava parte do térreo para atender clientes.
— Era um espaço muito vivo. Os Godoy recebiam muitas pessoas, faziam reuniões. Era comum tomarem chá da tarde com a família e chamarem gente — conta a arquiteta Rosilene Possamai.
Em 1996, a Casa Godoy foi tombada e adquirida pela prefeitura de Porto Alegre. No espaço, a partir de 1998, se instalou a Coordenação da Memória Cultural da Secretaria Municipal de Cultura e a Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural (Epahc). A Epahc mais tarde mudou-se para outro prédio histórico, do outro lado da Independência, a Casa Torelly. Agora, com a reforma, voltará à Casa Godoy.
Nos últimos anos, o imóvel vinha sendo usado para guardar estátuas retiradas de espaços públicos de Porto Alegre, após sofrerem atos de vandalismo, como pichações, ou terem partes furtadas. Em 2022, a reportagem de Zero Hora esteve no local e mostrou que havia 15 obras nesta situação. Algumas peças seguem na Casa Godoy, mas após a reforma agora em curso, todas serão retiradas do local, segundo a SMCEC. O destino ainda não está definido.