Coisas estranhas acontecem em táxis e carros de aplicativo em Porto Alegre. Levar o passageiro ao seu destino chega a parecer tarefa secundária: tem motorista que ajuda a conter galinha em fuga, que persegue cônjuge infiel e que precisa servir os passageiros de formas nada convencionais:
— Taxista, me vende suas meias?
Essa última aconteceu com um dos maiores contadores de causos da Sertório à Juca Batista, o taxista Mauro Castro. Buscado no motel, o passageiro reparou que estava com uma meia branca e outra com detalhes em cor de rosa, uma perigosa evidência. A ideia de que nunca mais vai encontrar o motorista incentiva muitos a agirem sem filtro.
— Tem quem fale coisa íntima. Tem mais de 5 mil motoristas de Uber em Porto Alegre, eles acham que nunca mais vão me ver — justifica Cristiano Aquino, o Criba.
O que esse motorista de aplicativo faz? Escuta. E tenta não interrompê-lo – é que Criba é um tagarela convicto. Descobriu que as pessoas só querem ser ouvidas, muitas vezes.
— Esses dias, só faltou eu dizer: “Amiga, larga desse cara” — ele ri.
Taxista há 30 anos, Luciane Silveira de Vasconcellos se sente psicóloga de alguns. Tanto dos que nem sabe o nome quanto daqueles clientes fixos do bairro – “Tu te tornas eternamente responsável pelo passageiro que adicionas no Whats”, já diria um colega.
Os causos viram motivo de descontração no ponto de táxi depois, quase uma competição de absurdos. História de taxista é a versão urbana do causo de pescador.
— No ponto sai história cabulosa. Uns mentem muito — alerta ela.
A seguir, GZH apresenta memórias de Mauro, Criba e Luciane, uma amostra do que vive quem passa o dia atrás do volante na Capital. Confira: