A apressada bebê Maria Júlia retornou ao endereço no qual nasceu, na zona sul de Porto Alegre. Nesta sexta-feira (4), desceu do carro, no colo da mãe, e acessou a unidade de saúde Tristeza. Há dois dias, Maju, como já foi apelidada, não esperou o avô chegar até um hospital, nem sequer deixou a família sair do veículo: o parto foi realizado no banco de trás do automóvel, pelas mãos das profissionais do posto.
— Graças a elas, o parto ganhou nota 10 — afirma a mãe, Letícia Arrojo da Silva, 35 anos.
Maria Júlia da Silva Legg já tem uma fã: a jornalista da TV Globo Maria Júlia Coutinho, a Maju, que inspirou seu nome, publicou no Twitter um comentário assim que soube do caso: “Que presente! Vida longa à pequena Maju num país menos desigual no futuro".
Desempregada, Letícia afirma que a chegada da quarta filha traz esperança à família. Toma emprestada as palavras do pai, e classifica as atendentes como “anjos”.
Há dois dias, relembra, as contrações aumentaram durante o trajeto, e a gestante começou a se preocupar com possíveis sequelas. Pensou no pior, mas foi acolhida de tal forma que garantiu a graduação máxima na concepção, certificado pelo Hospital Santa Clara, do Complexo Santa Casa. Ambas permaneceram na instituição por 48 horas, em observação, após o parto.
O reencontro emocionou as profissionais da saúde, e muitos pacientes permaneceram no pátio do posto para registrar a cena. Maju dormia, enrolada em um casaco rosa de flores coloridas. Pela segunda vez, a enfermeira Edinara Peglow, 36 anos, viu a menina — foi dela o primeiro rosto que Maria Júlia encontrou, logo que nasceu.
Mesmo de máscara, a profissional transparecia um grande sorriso, com os olhos claros ainda mais brilhantes. Funcionária do Hospital Vila Nova, que presta serviço à Unidade de Saúde Tristeza, não resistiu e pegou a garota nos braços.
— Essa criança entrou na minha vida de uma forma muito especial — afirma a “madrinha de coração”.
Filha da enfermeira, Larissa Peglow, oito anos, chorava bastante nesta manhã, com a bebê escorada sobre suas pernas. Surpreendeu ao explicar o motivo:
— É que eu achei ela muito bonita.
A técnica em enfermagem Marilde Bueno, 44 anos, e o porteiro Paulo Roberto Padilha Júnior, 46, também participaram do parto. Nesta manhã, não demonstravam a tensão vivida no momento que o Nissan Versa estacionou na Avenida Wenceslau Escobar.
Motorista de aplicativos, Osvaldo Fraga, 60 anos, ganhou sua quarta neta. No dia do nascimento, ele prometeu registrar Unidade de Saúde Tristeza como local de nascimento em uma forma de agradecer o esmero da equipe. Reafirmou que a certidão de nascimento saiu conforme planejava.
— Eu não consigo parar de chorar — interrompe a frase, mais uma vez emocionado.