A Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Smoi) de Porto Alegre realizou, nesta quinta-feira (29), uma prova de uso no corredor de ônibus da Avenida João Pessoa, no bairro Santana, para verificar se as intervenções para acessibilidade atendem às expectativas de mobilidade de pessoas com deficiência física e visual. A ação ocorreu na Estação de Ônibus Jornal do Comércio, onde estão sendo realizadas obras de recuperação, e contou com a participação de usuários.
Como parte integrante da obra, quatro estações de ônibus receberam intervenções para acessibilidade com sinalização tátil. Atualmente, a conclusão está em 75%.
Para a prova de uso, foram analisadas a estrutura e o resultado dos trabalhos, de modo a avaliar a funcionalidade e a adequação aos padrões de acessibilidade universal. O teste, realizado em conjunto com a Secretaria de Desenvolvimento Social (SMDS), focou na verificação do tempo de travessia, na presença de possíveis obstáculos e na funcionalidade dos equipamentos instalados.
— Queremos, com a participação dos usuários, identificar possíveis problemas, ajustar caso seja necessário, adequando as obras às necessidades de cada um. Assim como estamos fazendo com esta, faremos com as outras obras que incluírem intervenções em acessibilidade — afirma Pablo Mendes Ribeiro, secretário de Obras e Infraestrutura.
Adilso Corlassoli, assessor técnico da Coordenadoria de Acessibilidade e deficiente visual, participou do teste e destacou a importância da inclusão de pessoas com deficiência nestas iniciativas:
— A nossa participação neste tipo de teste é imprescindível para que todas as intervenções e ajustes necessários sejam feitos ainda durante a execução da obra. Assim evitamos problemas e adaptações futuras, que gerariam transtornos e necessidade de novos investimentos e obras.
Nelson Kalil, cadeirante e presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Comdepa), destaca que a iniciativa é um avanço, pois permite avaliar as condições e corrigir erros. A acessibilidade, entretanto, continua sendo ruim para os cadeirantes, na sua opinião.
— A parada continua muito esburacada, muito cheia de problemas. As rampas do lado contrário ao corredor de ônibus não existem. Tem uma parte que a gente teria que passar pelo meio da rua, mas prometeram corrigir isto em seguida — afirma. — Mas esse é o avanço, que a gente está discutindo e podendo consertar esses erros que já vem de muito tempo, não são de agora.
Kalil também relata que não se sente seguro ao se locomover pela cidade.
— São raríssimos os lugares em que a gente se sente seguro para atravessar — lamenta.
O presidente do Comdepa indicou ainda que o problema é mais recorrente na Avenida Farrapos, que não possui nenhuma parada de ônibus acessível para cadeirantes, e na Assis Brasil.
— A Salgado Filho deu uma melhorada, mas a cidade toda está assim — afirma, garantindo também que quer pensar de maneira positiva: — Está muito ruim, mas já foi muito pior. A gente vem tendo alguns avanços.
Kalil ressalta que não quer apenas criticar e que percebe uma “boa vontade”, mas que há um passivo grande a ser corrigido, bem como um desconhecimento por parte da população, que também poderia se beneficiar da acessibilidade. Por fim, reforça que as pessoas com deficiência podem colaborar, discutindo diretamente e sendo procuradas para sugestões - evitando, assim, gastos adicionais com adaptações de acessibilidade em obras.
Resultados
— Nosso objetivo é validar a locomoção e mobilidade de todos, em especial das pessoas com deficiência, que poderão realizar a travessia com mais segurança, conforto, autonomia, dignidade e respeito — pontua Paulo Brum, secretário-adjunto da SMDS e cadeirante que também participou da ação.
A prova de uso aprovou as intervenções de piso tátil, gradis e outras instalações feitas no corredor. No entanto, serão necessárias adequações nas calçadas, dos dois lados da avenida. Segundo a Smoi, essas modificações serão realizadas assim que a obra for concluída, visto que não integram o projeto.
*Colaborou Fernanda Polo