A quinta vez em que a expressão Katolikillers foi estampada na fachada da Igreja Nossa Senhora da Conceição, no Centro Histórico, em Porto Alegre, motivou um desabafo do pároco nas redes sociais.
A provocação foi descoberta na manhã do domingo (20), e o padre Fabiano Schwanck Colares escreveu: "Amanhecemos pichados novamente! Com a expressão "katolikillers" (há mais de um ano estamos nessa de pinta, picha, pinta, picha). De que adianta sermos tombados como Patrimônio histórico Cultural do Município se o Município não nos tutela?".
O caso, que tem se repetido desde meados de novembro do ano passado, já motivou duas ocorrências na Polícia Civil e reuniões com vereadores, com o vice-prefeito, com o secretário municipal de segurança e com representante da Brigada Militar. O temor do padre Fabiano é de que a expressão possa ser uma espécie de aviso de alguém que pretenda fazer algo mais grave. No entendimento do pároco, que buscou informações com professores de inglês, o escrito, apesar da grafia não correta, poderia ter dois sentidos: católicos assassinos ou assassinos de católicos.
— Para além da pichação, tem a questão da segurança. Será que não tem alguém aí que está dando sinais de que poderia fazer uma maldade? — questiona Fabiano, que também tem preocupação com furtos e assaltos ocorridos na região.
Por conta da insegurança, a igreja, com apoio da comunidade, instalou duas câmeras e contratou um guarda particular para monitorar os fiéis na entrada e saída das missas. Dos contatos com a prefeitura, a igreja herdou um poste no qual a Secretaria Municipal de Segurança prometeu instalar câmera de segurança. Ele foi colocado no local em março e, no dia seguinte, teve fiação e relógio furtados. Está assim até hoje.
— Não tem luz nem câmera — diz o padre.
Ao lado da paróquia, há a escadaria do túnel da Conceição, que funciona como rota de fuga de criminosos e ponto para uso de drogas. Uma cerca lateral da igreja teve que ser aumentada para evitar invasões no pátio da casa paroquial. Em janeiro, quando a expressão Katolikillers foi pichada pela quarta vez na fachada — o padre já desistiu de limpar e pintar a parede lateral da igreja — a BM chegou a reforçar policiamento, segundo Fabiano. Mas em fevereiro, surgiram novas marcações na parte esquerda da fachada. E, no último domingo, mais uma vez a mesma inscrição.
— É sempre no mesmo lugar, a mesma palavra. Os órgãos públicos nos recebem bem, mas não cuidam do patrimônio. Do que adianta ter a igreja tombada dizendo que faz parte da história de Porto Alegre se o governo não ajuda a cuidar? Pelo fato de o prédio ser tombado, não podemos nem usar tinta antipichação. A cultura é a alma de um povo, se não temos cultura, não temos alma, logo não temos vida, nos tornamos zumbis, e não vamos conseguir entender para onde estamos caminhando e o que queremos no presente — desabafa o pároco, que ainda não sabe quando poderá repintar a fachada da igreja.
O que dizem as autoridades
Na Polícia Civil, uma ocorrência foi enviada ano passado para a Central de Termos Circunstanciados, devido ao entendimento de que se tratava de crime de menor potencial ofensivo, e outra ficou na 17ª Delegacia da Polícia Civil. Nenhuma teve avanço de investigação até esta segunda-feira (21). Ao tomar conhecimento do caso por GZH, o atual titular da 17ª DP, delegado Cleber dos Santos Lima, disse que o padre será intimado a prestar depoimento e o caso será apurado como dano qualificado por se tratar de ação contra imóvel tombado.
O comandante do 9º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Fernando Galha Nunes, informou que o assunto será tratado de forma especial, principalmente pela suspeita de que a inscrição possa ter conotação de ódio ou intolerância religiosa. Segundo Nunes, a BM mantém um banco de dados com informações de pichações e grupos suspeitos, o que pode ser útil na apuração.
Sem explicar o motivo para a demora de uma ação mais efetiva, já que o poste para colocação de câmera foi instalado em março, a Secretaria Municipal de Segurança informou que a "a prefeitura está em processo de implantação da câmera nesse local e em tratativas com a CEEE para a ligação da energia elétrica".