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Um modelo de construção que virou tendência imobiliária caiu nas graças do poder público de Esteio, na Região Metropolitana. Casas moldadas a partir de contêineres metálicos — normalmente utilizados para o transporte de cargas — estão sendo entregues para moradores da cidade que dependiam do aluguel social.
A intenção da prefeitura é encerrar o gasto com este benefício, dando casas próprias para quem dependia do dinheiro. O aluguel social é destinado para famílias em situação de vulnerabilidade, que vivem em áreas de risco ou em situações precárias, conforme informações da prefeitura, que gastava cerca de R$ 11 mil por mês com o benefício.
O novo "condomínio de lata" de Esteio fica no bairro São Sebastião. Lá, foram entregues 13 casas de contêineres na sexta-feira passada, dia 29. Nesta terça (2), o Diário visitou o local e conversou com alguns dos novos proprietários, que receberam até escritura dos lotes de 110m².
Além da própria casa — que é formada por dois contêineres modulares galvanizados, acoplados lateralmente, formando um ambiente de 27,6m² (4,6m x 6m), com pé-direito (diferença de altura entre o piso e o teto de um ambiente) de 2,5m e banheiro —, as unidades estão com as instalações elétricas e hidráulicas. Os terrenos não são cercados e as casas não receberam pintura. Internamente, o teto e as paredes são revestidos com forros de PVC. O piso é de tábuas de compensado e não há divisórias internas. O custo estimado de cada conjunto é de R$ 30,3 mil. O investimento total foi de R$ 424,2 mil. Mais um conjunto de contêineres será instalado nos próximos meses, totalizando 14 casas no residencial metálico.
Segundo a prefeitura, as paredes são isotérmicas, ou seja, isolam a residência de excessos de calor ou de frio. Porém, alguns moradores reclamaram da temperatura elevada no interior dos contêineres. A prefeitura ainda salienta que o projeto tem aprovação dos bombeiros, com materiais diferentes, por exemplo, aos utilizados nos contêineres que incendiaram vitimando 10 jovens jogadores do Flamengo, em fevereiro.
Projetos
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A operadora de caixa aposentada Neli dos Santos Pereira, 60 anos, está realizada com o novo lar, que agora pode chamar de seu.
— O aluguel social era complicado, porque não eu não podia mexer em nada na casa. Agora, já estou cheia de planos para aumentar aqui — projeta ela.
Enquanto Neli tenta dispor os móveis no espaço interno, seu namorado, o motorista Lauri de Melo, 58 anos, faz a pintura externa. Munido de uma pistola de ar comprimido, ele espalha a tinta laranja e faz os contêineres de Neli se destacarem do resto, ainda prateados.
— Assim que ajeitarmos, vai ficar muito bom — projeta Neli, que pretende construir dois quartos no espaço atrás do terreno.
Duas casas para o lado, um caminhão descarrega madeiras e brita. Ali, a cuidadora Ângela Vargas, 47 anos, projeta o futuro junto da filha, Dhiule Vargas, 24 anos, que trabalha como operadora de caixa em Porto Alegre. Primeiro, ela quer cercar o lote e espalhar brita na frente de casa. Isso para evitar que o local fique embarrado em dias de chuva. Mais adiante, a ideia é construir uma varanda na parte da frente e dois quartos nos fundos do terreno.
— O terreno é grande, dá para fazer muita coisa. Estou muito feliz com a minha casa própria — comemora Ângela.
Insatisfação de alguns
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Mesmo que o terreno tenha sido doado aos moradores, há quem ainda prefira o aluguel social. A auxiliar de serviços gerais desempregada Gesebel Quadros Dutra, 34 anos, acredita que o espaço da residência é muito pequeno para abrigar ela e os dois filhos, Eduardo, 17 anos, e Jéssica, 12 anos.
— Na casa onde eu morava havia os quartos para os meus filhos. Aqui, estamos todos no mesmo espaço. Quem quer morar num contêiner? — questiona Gesebel.
Sem condições de arcar com a ampliação que alguns vizinhos já colocam em prática, a moradora acredita que passará por dificuldades nos próximos meses. A única renda da família era o dinheiro do aluguel social.
— Espero que consiga um emprego. Preciso ao menos fazer dois quartos para os meus filhos — explica ela, que ainda não conseguiu fazer a ligação para o abastecimento de água na residência.
Segundo a prefeitura de Esteio, cada morador recebeu os papeis necessários para pedir as ligações de energia elétrica e de água. A administração garante que as redes estão disponíveis na rua, bastando ir à Corsan solicitar a ligação.
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Atendimento
- A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitação (SMDUH) de Esteio segue disponível para atender os moradores do local.
- Dúvidas podem ser esclarecidas e auxílio pode ser requisitado pelos donos das casas pelo telefone 3433-8157.
- O atendimento também está disponível no balcão da SMDUH, no prédio da Prefeitura (Rua Eng. Hener de Souza Nunes, 150), de segunda a sexta-feira, das 12h30 às 18h.