Para pessoas com mobilidade reduzida, como cadeirantes e idosos, se locomover usando ônibus em Porto Alegre muitas vezes é uma tarefa árdua. Para testar a acessibilidade, ZH visitou na sexta-feira (21) os viadutos Jorge Alberto Mendes Ribeiro, José Eduardo Utzig e Jayme Caetano Braun, além do Terminal Triângulo, e constatou que, de 17 elevadores, apenas cinco estavam em funcionamento.
Segundo a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), o grande problema está na questão do vandalismo. A empresa diz que os elevadores e escadas rolantes não ficam mais de dois dias, em média, sem a necessidade de reparos quando estão em uso de forma ininterrupta. Mesmo com a contratação de uma empresa para a manutenção preventiva e corretiva, a depredação constante dificulta a vida das pessoas.
– Eu tenho um problema na perna e preciso todo dia descer e subir escadas quando venho ao terminal pegar um ônibus, é um absurdo isso – afirma, João Basilio Damasceno Neto, de 86 anos, no Terminal Triângulo – local onde nenhum elevador estava funcionando na sexta.
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A EPTC informou que, somente no ano passado, em razão da depredação de elevadores e escadas rolantes, foram gastos R$ 120 mil. Na tentativa de minimizar o problema, no Terminal Triângulo está em teste um elevador utilizado por meio de demanda, com acionamento do público necessitado, auxiliado pela fiscalização do órgão. Quando não é acionado, o equipamento fica trancado. Tal medida está sendo avaliada pela equipe, bem como outras, como a limitação de horários de funcionamento de alguns elevadores. De acordo com a empresa, desde que a reportagem visitou os terminais já foi realizada a manutenção em alguns equipamentos e, na terça-feira (25), sete estariam funcionando nos pontos citados.
Confira a situação de cada local:
Terminal Triângulo
De acordo com usuários, este é um dos locais mais críticos no que diz respeito a acessibilidade. Os quatro elevadores estavam inoperantes na sexta-feira e a única forma de entrar no terminal da Zona Norte é descendo um lance de escadas. De acordo com a EPTC, um dos elevadores estava operando na terça-feira (25).
A estudante Anielle Bernardes, 29 anos, conta que já passou por uma situação complicada com a sua mãe cadeirante. Uma vez, as duas chegaram ao terminal e perceberam que os elevadores não estavam funcionando. Então, Anielle precisou carregar a mãe no colo e pedir que um estranho carregasse a cadeira de rodas.
– Foi muito constrangedor. Desde aquele dia, não utilizo mais o terminal com a minha mãe. Descemos em outra parada e caminhamos muito mais – afirma a estudante.
De acordo com um agente da EPTC que estava no terminal no dia da reportagem, os agentes utilizam uma rampa que é carregada e colocada no meio fio da calçada para que os cadeirantes possam subir e descer. Segundo ele, os agentes também param o trânsito para que o cidadão consiga atravessar a via.
Anielle afirmou que isso nunca ocorreu nas vezes que teve de utilizar o terminal com sua mãe.
– Uma vez, pedi para o meu irmão procurar ajuda e falaram que não tinham o que fazer, o elevador estava estragado e não tinha solução – conta a estudante.
O aposentado Leodir Bianchi, 56 anos, enfrenta o mesmo problema. Ele conta que não consegue acessar o terminal.
– Eu vou toda semana ao Centro, preciso andar muito mais pegando ônibus em outra parada – afirma o aposentado.
Viaduto Jorge Alberto Mendes Ribeiro
Dos oito elevadores existentes no local, quatro operam. Devido à falta de funcionamento dos equipamentos, pessoas que têm mobilidade reduzida só conseguem utilizar duas das quatro entradas. Além disso, há também oito escadas rolantes, mas apenas três estão funcionando.
A falta de placas nos equipamentos inoperantes atrapalha ainda mais quem precisa deles. Muitas vezes, os usuários apertam o botão do elevador e ficam tempo esperando até perceberem que o equipamento não funciona.
– Não é apenas complicado e, sim, inviável. Tem pessoas que não conseguem acessar esse local. Não são somente idosos e cadeirantes, quem tiver qualquer lesão, tipo pé quebrado, não tem a mínima condição – afirma a auxiliar administrativa Cristina Oliveira, 56 anos.
Viaduto Jayme Caetano Braun
O viaduto tem quatro elevadores, mas apenas um estava funcionando na sexta-feira. De acordo com a EPTC, na terça-feira, havia dois equipamentos operando no local. Devido aos estragos, muitas vezes as pessoas com mobilidade reduzida só conseguem acessar um lado da estação. Os equipamentos inoperantes também não tinham placa.
O único elevador que funcionava quando a reportagem foi ao local estava precário e tinha um cheiro forte de urina.
Viaduto José Eduardo Utzig
O local tem um elevador e deveria ter duas escadas rolantes. Porém nenhum dos equipamentos funciona. Em uma das escadas rolantes só há a carcaça, sem as laterais. A outra está completamente coberta e, de acordo com a EPTC, não tem como voltar a funcionar.
A pedagoga Caroline Camaparro, 34 anos, tem um filho de dois anos. Ela conta que desistiu de utilizar o carrinho de bebê porque sabe que não tem condições.
– Aqui cadeirante não consegue descer, por isso não tentei utilizar carrinho de bebê, porque eu sei que não vai dar. Muita gente acaba não acessando esse local, precisam descer em outras paradas. É triste, isso é dinheiro da gente e a população não cuida – afirma Caroline.