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Se o número de pessoas adultas que vivem em situação de rua em Porto Alegre preocupa, dados sobre as crianças e adolescentes que têm as vias públicas como lar mostram um outro cenário. De 2008 para 2016, a quantidade de jovens moradores de rua caiu 92,95%, saindo de 383 para apenas 27 neste ano.
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Os dados complementares a uma pesquisa divulgada no dia 15 de dezembro – que apontou aumento de 75% na população de rua adulta no mesmo período – foram divulgados nesta quinta-feira pela Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), na prefeitura de Porto Alegre. Realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o levantamento apontou investimento público e o trabalho diuturno de equipes de assistência social como os principais motivos para o resultado.
– São números bem pequenos para uma capital. E o que aponta a pesquisa não é diferente daquilo que já percebemos no dia a dia: há cada vez menos crianças em situação de rua em Porto Alegre – aponta Marcelo Soares, presidente da Fasc.
As 27 crianças e adolescentes (16 do sexo masculino e 11 do feminino) têm, em sua maioria, até seis anos: são 14 crianças encontradas vivendo na rua. O quadro difere do apontado pelo levantamento de 2008, quando 49,5% dos entrevistados tinham de 12 a 17 anos. A maioria, hoje, está na rua há menos de um ano, e 65% desses jovens relatam que não estão estudando.
O número reduzido chamou atenção dos pesquisadores, que tinham "uma expectativa original de pelo menos 10 vezes mais" crianças e adolescentes nessa situação, conforme afirma o sociólogo Ivaldo Gehlen, coordenador do estudo, na apresentação do trabalho.
Para o coordenador nacional do Movimento Nacional da População de Rua no Rio Grande do Sul, porém, os números não refletem a realidade:
– A prefeitura realmente investiu muito nas políticas para crianças e adolescentes, mas não acreditamos que esse número (de 27 jovens) seja real. Há muito mais crianças vivendo na rua do que isso. Essas foram apenas as que eles conseguiram entrevistar – contesta Richard de Campos.
As entrevistas com os jovens moradores de rua foram realizados em setembro e outubro de 2016 e, segundo os pesquisadores e a Fasc, representam, sim, a realidade atual da cidade.
– Havia uma época em que não se podia parar em uma sinaleira sem que uma criança estivesse ali. Temos todo o cuidado para permitir que elas tenham o necessário para que não precisem mais buscar a vida na rua – afirma Júlia Obst, coordenadora de proteção social especial na Fasc.
Para continuar esse trabalho, a Fundação pede que a população contribua acionando as equipes de abordagem social quando vir alguma criança ou adolescente em situação de rua pelos telefones (51) 3289.4994 (diurno) e (51) 3346.3238 (noturno).
Nova secretaria garante compromisso social
Apresentada também nesta quinta-feira, mas pela nova gestão de Porto Alegre, a Secretaria de Desenvolvimento Social deverá reunir as atuais áreas de habitação, direitos humanos, assistência social, acessibilidade e igualdade racial sob um único guarda-chuva. Ao anunciar o nome da defensora pública Maria de Fátima Zachia Paludo para comandar a pasta, o prefeito eleito Nelson Marchezan (PSDB) afirmou que "essas pessoas (em situação de vulnerabilidade social) serão o primeiro foco do governo" e que elas "precisam de mais ajuda da sociedade e da prefeitura".
Ressaltando que ainda não pode dar informações sobre a operação da secretaria que vai assumir, Maria de Fátima garantiu que, antes de tomar qualquer decisão, será preciso fazer uma análise profunda sobre a realidade da Capital. Ela já deu, porém, algumas indicações do que pode vir a ser feito.
– Será que não precisamos de um novo olhar para os abrigos? Porque (os moradores de rua) alegam, muitas vezes, que não querem ir porque é muito rígido. Temos que ver o que fazer. Temos que repensar – afirmou a futura secretária de Desenvolvimento Social.
Ao anunciá-la, ao lado da secretária-adjunta Denise Russo, Marchezan disse também que a pasta deverá trabalhar com mais avaliações e foco nos resultados, contando com mais dados, como os apontados pela pesquisa em relação aos moradores de rua, para implementar metas.