O ano de 2015 encerrou com uma redução histórica no número de vítimas fatais no trânsito de Porto Alegre. Conforme dados divulgados na manhã desta quinta-feira pela Empresa Pública de Transportes e Circulação (EPTC), no ano passado foram 98 vítimas nas ruas e avenidas da Capital - 43 a menos que em 2014, quando foram registradas 141 mortes.
Esta é a primeira vez desde 1998 – ano em que o balanço de mortes começou a ser registrado – que o número ficou abaixo dos três dígitos. Os dados seguem uma tendência nacional, que vêm registrando queda na quantidade de vítimas fatais em diversas cidades e regiões do país.
No Rio Grande do Sul, um estudo realizado entre os meses de janeiro a setembro de 2015 indicou índices de letalidade 12,81% menores do que os registrados no mesmo período do ano passado. Já em São Paulo, a redução foi de 21% entre os mesmos meses.
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Durante a coletiva de imprensa realizada em frente ao Paço Municipal para apresentar o balanço da Capital, o diretor-presidente da EPTC, Vanderlei Cappellari, atribuiu a queda superior a 30% a medidas que vêm sendo implementadas ao longo dos últimos anos.
Iniciativas como o projeto Educação para o Trânsito, a intensificação no controle de velocidade em ruas e avenidas e o combate à combinação de álcool e direção por meio da operação da Balada Segura deverão ser reforçados ao longo de 2016:
– A lombada física e a lombo-faixa, por exemplo, serão utilizadas largamente ao longo deste ano, pois é onde conseguimos praticamente 100% de obediência do limite de velocidade pelos motoristas.
Para o prefeito José Fortunati, que participou do evento, a Zona 30, projeto que prevê a redução da velocidade dos automóveis para 30 km/h em determinadas regiões da cidade, é uma das iniciativas que mais deve colaborar para a diminuição de acidentes:
– Isso facilita a vida do pedestre e ajuda a salvar vidas. O espaço urbano não é um espaço para automóvel, mas sim para as pessoas. A prioridade é o pedestre, depois o ciclista, em terceiro lugar o motociclista, e só em quarto lugar o motorista.
O controle da velocidade é, para o engenheiro de transporte Luis Antonio Lindau, diretor da WRI Brasil Cidades Sustentáveis, uma das principais medidas que devem ser intensificadas ao longo deste ano.
Conforme o especialista, os dados atuais apontam que a cidade hoje contabiliza uma média de sete mortos em acidentes de trânsito para cada 100 mil habitantes, um número três vezes menor que a média nacional, que é de 22 mortos por 100 mil habitantes:
– Estamos em um bom caminho, mas ainda temos muito para fazer. Em Londres, por exemplo, a média é de três mortes por 100 mil habitantes.
Uma medida recomendada pelo especialista é a redução na velocidade das avenidas da Capital, que passariam de 60 km/h para 50 km/h. A iniciativa parte de um programa mundial para o controle dos acidentes de trânsito, e que já foi adotado por algumas capitais brasileiras, como São Paulo.
Menos mortes, mas mais acidentes
A queda no número de mortes nas vias de Porto Alegre não significou, entretanto, uma redução no número de ocorrências de trânsito. Conforme os dados divulgados, em 2015 houve um aumento de 11% no número de acidentes de trânsito em relação ao ano de 2014. Para o diretor do Departamento de Segurança e Trânsito do Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul, André Moura, o principal motivo é o aumento na frota, que hoje contabiliza uma média superior a um veículo para cada duas pessoas.
– Temos mais carros nas ruas e, também, uma fiscalização que vem se intensificando ao longo dos últimos anos. Isso faz com que os motoristas tenham que reaprender a dirigir na cidade, o que pode resultar nesse aumento de ocorrências.
Para o especialista, a queda de mortes, apesar da elevação no número de acidentes, se deve principalmente à redução na velocidade de circulação dos veículos na cidade, que vem sendo fiscalizada com mais rigor:
– Normalmente, acidentes de trânsito com vítimas ocorrem quando os veículos estão em alta velocidade, e talvez por isso tenhamos um aumento de ocorrências somente com danos materiais. Aos poucos, é preciso ir mudando a consciência dos motoristas.
Construção de novas ciclovias segue sem definição
Apesar da motivação do governo em melhorar o espaço público e priorizar os pedestres e ciclistas, quando o assunto é o Plano Cicloviário de Porto Alegre, as perspectivas não são animadoras. Questionado sobre o atraso na implementação das ciclovias – dos 495 quilômetros previstos no projeto original, apenas 28,5 foram construídos até o momento na Capital – o prefeito atribuiu as dificuldades à crise econômica do país, e disse que é preciso ter cautela:
– Temos cidades que não estão conseguindo nem pagar funcionários, então não posso projetar o ano sem olhar a questão das finanças públicas. Se pudermos receber mais recursos do Governo Federal e tivermos um crescimento na nossa arrecadação, poderemos retomar as obras. Caso contrário, seremos cautelosos para, pelo menos, conservar e manter o que já foi feito.