
O Raio X da reportagem começa pelo posto de saúde Castelo, na Restinga. Do lado de dentro das grades que protegem a pequena casa, a cena já intriga: mães com bebês de colo amontoadas no corredor. Se chover, todo mundo se molha. Elas estão ali porque o posto de estratégia de saúde da família é tão pequeno, que não há espaço para aguardar do lado de dentro, onde não tem nenhuma janela que abra, não passa mais de uma pessoa no corredor e o banheiro está tomado de mofo. No posto também não havia médico para atender os 15 mil pacientes da região e a equipe de 12 pessoas está pela metade.
No bairro Partenon, a reportagem encontrou a mesma realidade. O posto de saúde da família Maria da Conceição atende quatro mil pessoas e trocou quatro vezes de médicos em apenas dois anos. Além da falta de itens básicos, como produtos de limpeza, álcool e receituário, os funcionários ainda sofrem com a violência e os frequentes tiroteios no bairro, comandado pelo tráfico de drogas. Para casos de incêndio ou de ocorrer um tumulto lá dentro, há somente uma porta de saída. Hoje, não é possível usar o banheiro. Sem janela e estrutura de escoamento, os profissionais foram obrigados a colocar uma placa pedindo para que ninguém faça as necessidades ali.
No mesmo prédio funciona a unidade básica de saúde Pequena Casa da Criança. Uma população de cerca de 30 mil habitantes é atendida pelo setor de odontologia da unidade básica de saúde Pequena Casa da Criança. Há cinco anos, a mesma dentista atende sozinha todas essas pessoas que consultam ali, que não são somente da comunidade, mas também levadas por ONGs e casas de acolhimento. Quem faz a triagem de pacientes é o porteiro, já que a equipe de oito dentistas foi reduzida em 88%. A médica responsável pelo posto lida sozinha com a população de uma área que registra altos índices de infectados por HIV e tuberculose.
Na zona Leste da Capital, o posto de saúde da família Esmeralda, no bairro Agronomia, atende a comunidade local de sete mil pessoas. O posto trocou de médico três vezes em seis meses. Ninguém quer trabalhar ali. O problema se repete no posto Mato Grosso, no bairro Teresópolis. Faz pouco tempo que uma médica assumiu o local, que trocou de médicos três vezes em um ano. No posto de saúde da família Planalto, a realidade é a mesma. O detalhe é que este é o posto mais antigo da Capital e ainda funciona em um puxadinho do prédio de uma associação comunitária.
Ouça o que disse o secretário municipal da Saúde, Carlos Henrique Casartelli, ao Gaúcha Atualidade