Diante da aguda crise nas finanças públicas, 205 mil matrículas de servidores estaduais encerram setembro sem receber qualquer depósito salarial em suas contas. O atraso no pagamento dos vencimentos depois de mais de 20 meses de parcelamento deixa policiais, professores, técnicos, entre dezenas de outras categorias, desacreditados sobre o próprio futuro.
Na maioria dos casos, a finança individual, que já vinha complicada, agrava-se ainda mais a partir de agora, com o acúmulo de contas em atraso e a sobreposição de juros a pagar. Em uma série de protestos organizados nesta sexta-feira (29) em Porto Alegre, os relatos ilustravam (situação do) o colapso do funcionalismo gaúcho.
Pela manhã, em frente à sede da Secretaria da Segurança Pública, a comissária de polícia Daniela Beys, 45 anos, segurava nas mãos a fatura do cartão de crédito. R$ 1,2 mil com vencimento para segunda-feira (2). Sem receber, questionou como superar os boletos nas próximas semanas.
– Estava vivendo em cima de empréstimos, mas os limites de crédito terminaram. Como vou chegar para os meus credores e dizer que só vou pagar quando receber? Tenho uma filha de seis anos que precisa estudar, se vestir, comer – desabafou.
O inspetor Miguel Aleixo, 42 anos, queixou-se da dívida acumulada em razão do parcelamento. São mais de R$ 40 mil em passivos, disse. Segundo o servidor, o orçamento para o sustento dos três filhos depende unicamente dos R$ 4,5 mil líquidos que recebe da Polícia Civil. Há meses, vem recorrendo à antecipação salarial bancária, mediante acréscimo de juros, para vencer os compromissos financeiros.
– Vamos somar 50 dias trabalhando, fazendo campana, prendendo gente, mas sem receber. Não tenho como cobrar uma atitude de alguém na rua sem fazer a minha parte. A polícia tem de ser a primeira a cumprir as regras, então, virou juro em cima de juro – declarou.
No início da tarde, os policiais reuniram-se com outras categorias em ato no Largo Glênio Peres, no Centro. Por lá, a professora aposentada Marlene Moraes, 61 anos, endossou a preocupação dos agentes. Casada com um docente, viu o rendimento familiar permanecer zerado no último dia do mês:
– Nosso orçamento estourou. Se continuar assim, não sei o que será de nós.
Assistente social no Sanatório Partenon, Elsa Roso, 32 anos, tem contado com a ajuda dos pais para pagar o aluguel e o financiamento contratado para a compra de um imóvel. No protesto, questionou o critério de pagamento adotado pelo Piratini:
– Tenho colega que teve de mandar o filho sair de casa, para morar com uma tia, porque não conseguia alimentar toda a família. Os servidores públicos cumprem suas responsabilidades, exercem suas funções e ganham muito mal. Às vezes, uma família inteira depende de um servidor público. É um salário de sobrevivência. Essas pessoas têm de receber em dia.