Sob diferentes nomes e partidos, o grande vencedor da eleição de 2024 nas capitais brasileiras foi o político de perfil tradicional.
O bom desempenho das campanhas e alianças convencionais, em oposição à narrativas mais extremistas que parte da direita encampou em pleitos anteriores, foi sinalizado no primeiro turno e confirmado na segunda rodada de votação realizada neste domingo (27) em 15 capitais.
Saíram vitoriosos 80% dos candidatos à reeleição e, entre todos os concorrentes, 85% dos eleitos tinham o maior ou segundo maior tempo de propaganda eleitoral na primeira fase do pleito (na segunda, os tempos são equivalentes) — indicando a importância de uma estrutura partidária robusta.
O centro e a direita avançaram principalmente graças a nomes de perfil mais moderado, por meio de partidos como MDB, PSD e PL, em oposição a figuras ligadas de forma mais visceral ao bolsonarismo.
— O resultado nas capitais pode ser caracterizado como uma vitória da política tradicional. Em que se pese o fenômeno do Pablo Marçal em São Paulo, não se observou uma vitória da narrativa ou das forças que se apresentaram como antipolítica. Isso marca um revés dessa onda antipolítica que teve seu auge na eleição municipal de 2016 e na vitória de Jair Bolsonaro em 2018. Agora, estamos vendo um refluxo — afirma o cientista político e analista da Arko Advice Carlos Borenstein.
Segundo Borenstein, apenas um entre 11 concorrentes mais próximos de Bolsonaro e do discurso antissistema conseguiu se eleger na primeira ou na segunda etapa de votação: Abilio Brunini (PL), em Cuiabá.
Os demais expoentes do bolsonarismo raiz fracassaram, como Alexandre Ramagem (PL) no Rio, ainda no primeiro turno e, no segundo, Marcelo Queiroga (PL) em João Pessoa (PB), André Fernandes (PL) em Fortaleza (CE) ou Cristina Graeml (PMB) em Curitiba. Em Belo Horizonte (MG), Bruno Engler (PL) foi superado pelo atual prefeito Fuad Noman (PSD).
Para o cientista político, o fato de MDB e PSD terem conquistado o maior número de cadeiras nas capitais, com cinco para cada partido, seguidos por PL e União Brasil (quatro prefeitos cada uma), confirma uma tendência de "voto inclinado à direita" no país. Porém, de forma mais fragmentada e ainda sem um nome forte que desponte como capaz de aglutinar esse campo político nas eleições presidenciais de 2026 — a despeito do fortalecimento do governador Tarcísio de Freitas, que afiançou a candidatura bem-sucedida de Ricardo Nunes (MDB).
No outro lado do espectro partidário, siglas de esquerda acumularam derrotas ou desempenhos modestos. PDT e PSOL deixaram de comandar capitais, enquanto o PSB manteve um eleito. Já o PT voltou a emplacar um vitorioso em uma das principais cidades brasileiras, depois de não ter vencido em nenhuma em 2020, graças a Evandro Leitão em Fortaleza (CE).
— Apesar disso, podemos considerar que é um desempenho ruim do PT, já que apenas repetiram o cenário de 2016. Mas não considero que o resultado geral seja uma derrota do governo Lula. Foi uma eleição muito pautada na discussão das cidades, não passou muito pela nacionalização da discussão — complementa Borenstein.
O saldo da disputa nas capitais deixa para os dois campos políticos opostos tarefas a serem cumpridas até o embate de 2026: o PT precisa se reposicionar para tentar garantir a reeleição de Lula, enquanto a direita tem a missão de encontrar um nome capaz de unir forças que até poucos anos atrás se concentravam ao redor de Jair Bolsonaro, mas agora aparentam ter se fracionado.