O último debate entre os principais candidatos à prefeitura de Porto Alegre no primeiro turno colocou o prefeito Sebastião Melo (MDB) como alvo preferencial de Juliana Brizola (PDT) e Maria do Rosário (PT). Em reação, ele sustentou que ambas atuavam em combinação.
Promovido pela RBS TV e mediado pelo jornalista Elói Zorzetto, o confronto de ideias realizado na noite desta quinta-feira (3) teve embates diretos nos quatro blocos, com uma hora e 15 minutos de duração. Assista abaixo.
Postulante à reeleição e liderando as pesquisas de intenção de voto, Melo enfrentou cobranças sucessivas sobre a enchente de maio. O prefeito reagiu apontando escassez de experiência administrativa das adversárias e citando realizações de sua gestão.
Vestindo camisa branca e calça caramelo, logo no primeiro bloco Juliana cobrou Melo pela demora nos atendimentos de saúde, citando o caso de uma senhora cuja cirurgia foi marcada para 2031. Melo enumerou programas de governo e disse que reconhece as filas de espera.
— A senhora está falando da fila. Eu estou resolvendo a fila. Tem uma diferença grande entre nós — respondeu o emedebista.
— A gente tem aqui duas opções, a opção de continuar com a fila ou a opção de mudar. Por isso, te convido a vir com a gente, porque eu ganho de Melo no segundo turno — rebateu a pedetista.
Na sequência, sem poder questionar Melo, Rosário escolheu Juliana para debater sobre a enchente de maio e os mecanismos de defesa da cidade. De terno branco e camisa vermelha, Rosário prometeu recriar o Departamento de Esgoto Pluvial (DEP) e manter o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) sob controle estatal, lembrando que novos alagamentos ocorreram na semana passada.
— O serviço atual não está dando segurança aos bairros da cidade. Mais de 50% dos bairros atingidos foram atingidos novamente agora com as novas chuvas — afirmou.
Na resposta, Juliana falou sobre a necessidade de o governo buscar orientações técnicas, mas surpreendeu a petista ao pedir apoio afirmando ser a única capaz de derrotar o prefeito no segundo turno:
— Rosário, a gente precisa ganhar do Melo no segundo turno. E a única candidatura que pode ganhar do Melo sou eu.
De paletó azul sobre uma camisa branca, Melo encerrou o bloco citando a trajetória política de Rosário, de vereadora a deputada estadual e federal, para perguntar o que ela fez pelo sistema de proteção da cidade nas três décadas de vida pública.
— A senhora tem torcido para chover. Acho que nem dormiu torcendo para chover para ganhar voto — investiu Melo.
— Vamos falar sério. O senhor é o prefeito. Transferiu a responsabilidade (sobre a crise) para o Lula, para os moradores — reagiu a petista.
No segundo bloco, com temas definidos por sorteio, mais uma vez Melo foi escolhido por Juliana, desta vez para falar sobre transporte público. O prefeito citou melhorias, como linhas exclusivas para motociclistas e ônibus elétricos. Ao final, rebateu a fala de Juliana, para quem o sistema não havia melhorado nos últimos quatro anos.
— Quem decide se as coisas melhoraram ou não não é a candidata, é o povo. É ele quem vai escolher quem vai para o segundo turno — disse o prefeito.
— Melo teve quatro anos para fazer e não fez. Eu sou a única que pode mudar Porto Alegre. Peço teu apoio para mudar de verdade, tirando o atual prefeito — respondeu Juliana.
Na rodada seguinte, Melo cobrou de Rosário medidas para estimular a economia municipal e facilitar o empreendedorismo. Em tom elevado, eles trocaram provocações sobre estilos de gestão.
— Quando o PT governa, incha a máquina e aumenta imposto. Nós, quando governamos, aliviamos o lombo de quem produz — afirmou Melo.
— É só ataque ao PT, proposta para a cidade não tem — reagiu Rosário.
No terceiro bloco, Juliana voltou a questionar Melo sobre as ações da prefeitura na enchente, citando os alagamentos registrados na semana passada.
— Melo, tu bota a culpa no governo federal, estadual e até em São Pedro. Na última quinta-feira, alagou de novo. Não foi o rio que entrou na cidade. Os bueiros estavam jorrando água. Isso sim é falta de trabalho da prefeitura — afirmou a candidata.
— O povo de Porto Alegre me conhece, acho que nem na cidade a senhora estava na enchente. Não confunda responsabilidade com cobrança. Se eu não defender a cidade, quem vai defender? — respondeu Melo.
Rosário escolheu Melo para debater sobre saúde, mas logo o confronto de ideias partiu para ataques mútuos sobre corrupção, após a petista citar denúncias de supostas irregularidades num hospital do município. Além de apontar desvios em governos do PT, Melo manteve o embate, pedindo para a deputada falar sobre habitação e invasões de prédios públicos. Durante o enfrentamento, porém, a enchente voltou a dominar a discussão e o prefeito mais uma vez acusou a rival de torcer para que chovesse em Porto Alegre.
— Chuva de oportunismo, deputada, não é comigo — disse Melo.
— Seja mais respeitoso. Eu lhe ajudei muitas vezes, inclusive quando choveu e o senhor não conseguia falar com a CEEE Equatorial — afirmou Rosário.
O último bloco começou com Melo e Rosário mais uma vez em confronto direto. Por duas rodadas consecutivas, eles discutiram sobre habitação e ensino. Na pergunta final, Juliana questionou Rosário sobre soluções para a saúde. Na réplica, cobrou responsabilidade fiscal da petista e destacou o veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao projeto da adversária que isentava impostos sobre a compra de eletrodomésticos pelos atingidos pela enchente.
— Tudo que tu promete precisaria dobrar o orçamento municipal, e tudo que tu promete é amparada no governo federal. Por falta de articulação política, o presidente do teu partido não aprovou a isenção — cobrou Juliana.
— Ele não é presidente do meu partido, é presidente do Brasil. O que me espanta é que tu não conhece o trâmite de Brasília — respondeu Rosário.
Nas considerações finais, houve nova sequência de farpas. Encerrado o programa, porém, Melo e Rosário se cumprimentaram e trocaram impressões sobre o enfrentamento.
— A gente se conhece há muito tempo. O marido dela (Eliezer Pacheco) é meu amigo — explicou o prefeito.
— Ele me disse que se tu fosse agressivo, era para eu ir para cima — respondeu entre risos a petista, dissolvendo a tensão no ambiente.
O debate contou com a participação dos candidatos cujos partidos, coligações ou federações mantinham representação de ao menos cinco representantes no Congresso Nacional em 20 de julho, conforme a legislação eleitoral. Dessa forma, ficaram de fora Carlos Alan (PRTB), Cesar Pontes (PCO), Fabiana Sanguiné (PSTU), Felipe Camozzato (Novo) e Luciano do MLB (UP).