
Representante de uma aliança política que reúne quatro partidos na disputa pela prefeitura de Porto Alegre, Juliana Brizola (PDT) enfrenta resistências para garantir a fidelidade de metade da coligação. Embora tenham consignado apoio formal à chapa liderada por Juliana, PDSB e Cidadania não estão engajados na campanha e flertam abertamente com a reeleição de Sebastião Melo (MDB).
Última das quatro principais candidaturas a concluir a montagem de uma coalizão em torno de seu nome, Juliana atraiu primeiro o União Brasil, que indicou o vice Thiago Duarte. O apoio do PSDB só foi conquistado dia 4 de agosto, na véspera do prazo fatal para realização das convenções partidárias.
Até então, a cúpula tucana vinha tentando viabilizar uma candidatura própria, após as desistências da deputada Nadine Anflor e do ex-governador Ranolfo Vieira Jr, o partido bateu à porta de Nelson Marchezan. O ex-prefeito assentiu, mas acabou desistindo de concorrer diante de rejeições internas e da escassez de aliados.
Para o futuro político de Leite, o melhor caminho acabou se revelando o apoio a Juliana. Além de fazer um agrado aos quatro deputados estaduais do PDT, com quem espera contar em votações delicadas na Assembleia Legislativa, o tucano aguarda retribuição em 2026, seja na chapa que apoiar ao governo do Estado ou numa candidatura própria ao Senado ou à Presidência.
Contudo, Leite enfrentou problemas ao conduzir o partido para a campanha de Juliana. O Cidadania, com quem o PSDB forma federação e, por força de lei, precisa compartilhar o mesmo palanque eleitoral, preferia se unir a Melo.
Sem consenso, a questão foi levada à votação dentro da executiva bipartidária. O apoio à pedetista venceu por sete a quatro, com todos os votos tucanos a favor e todos os do Cidadania contra.
Com vários indicados políticos exercendo cargo na prefeitura e a despeito do resultado da convenção, os vereadores de ambos os partidos não estão fazendo campanha para Juliana. Presidente do diretório municipal do PSDB e vereador em segundo mandato, Moisés Barboza não pede voto nem exibe o nome da candidata em suas redes sociais. O comportamento é repetido pelos outros dois parlamentares tucanos, Gilson Padeiro e Marcelo Bernardi.
Nos bastidores, há desconfiança de que o trio pede voto para Melo. Esse temor cresceu após o prefeito participar da festa de lançamento da candidatura de Padeiro e de cabos eleitorais serem flagrados distribuindo panfletos de Barboza enquanto seguravam bandeira de Melo, de quem o vereador foi vice-líder do governo na Câmara Municipal. Procurado pela reportagem, Barboza não atendeu as ligações.
— Eles estão fazendo as campanhas deles. Não fazem abertamente a campanha do Melo, até porque seria infração eleitoral, já que a federação declarou apoio a nossa candidata. Mas é difícil lutar contra essa realidade — admite o presidente do PDT em Porto Alegre, José Vecchio Filho.
Um levantamento extraoficial do partido aponta que 16 dos 25 candidatos tucanos a vereador fazem campanha para Juliana. Um dos casos é Lucas Elefante, que realizou uma feijoada para 500 pessoas na Zona Norte que contou com a presença da candidata. Nas redes sociais, porém, esse suposto apoio dos demais candidatos é raro.
No comitê pedetista, a esperança é que a exibição dos programas de rádio e TV nos quais Leite reafirma o apoio a Juliana mobilize os tucanos. Na propaganda, Leite exalta a capacidade de diálogo da candidata e apresenta um discurso semelhante ao que o reelegeu em 2022, com foco na educação e recusa à polarização entre esquerda e direita.
A expectativa agora é contar com a presença do governador em atos de campanha, como comícios, carreatas e caminhadas. A 10 dias do primeiro turno, o PDT organiza mais dois grandes eventos e busca espaço na agenda de Leite. Dirigentes partidários tentam convencer a cúpula tucana a ser mais rígida na cobrança de apoio da militância, mas reconhecem que se trata de uma conversa difícil.
— Processo político é assim. Não existe nada imposto, de cima para baixo. É preciso diálogo e construção — afirma o coordenador da campanha de Juliana, Jonatas Ourique.
No Cidadania, o distanciamento de Juliana é ainda maior. O partido chegou a ensaiar a candidatura da deputada federal Any Ortiz, mas ela mesmo descartou a possibilidade e sempre defendeu apoio a Melo. À revelia da federação, Any e o vereador Cassiá Carpes salientaram apoio à reeleição do prefeito durante a convenção do MDB e nenhum dos 10 candidatos pede votos para Juliana.
— Com o Cidadania a situação é bem mais complicada. A Any tem uma relação umbilical com Melo — resigna-se Ouriques.