A pouco mais de cem horas da abertura das urnas, o último debate do primeiro turno da eleição ao governo do Estado foi marcado por um confronto aberto entre os três candidatos que estão à frente das pesquisas. Durante quase três horas, Eduardo Leite (PSDB), Onyx Lorenzoni (PL) e Edegar Pretto (PT) trocaram críticas e provocações.
Promovido pela RBS TV, o programa teve quatro blocos de perguntas entre os participantes. Além de Leite, Edegar e Onyx, foram convidados todos os postulantes ao Piratini cujos partidos têm representação mínima de cinco cadeiras no Congresso Nacional: Argenta (PSC), Luis Carlos Heinze (PP), Ricardo Jobim (Novo), Vicente Bogo (PSB) e Vieira da Cunha (PDT).
Desde as 20h de terça-feira (27), simpatizantes de Edegar e Onyx já balançavam bandeiras e entoavam palavras de ordem em frente à sede da RBS TV. Mais tarde, chegaram apoiadores de Heinze. Em grande parte do tempo, a troca de provocações envolveu a eleição nacional, com gritos de "Lula ladrão" e "Bolsonaro genocida".
Antes do começo do debate, o clima era amistoso na sala reservada aos candidatos e assessores. Leite conversava com Edegar, Jobim falava com Bogo, Heinze cumprimentava Argenta e Vieira repetia uma piada contumaz da campanha, segundo a qual seria parente do governador Ranolfo Vieira Júnior, também ali presente.
Todavia, bastou o jornalista Elói Zorzetto anunciar o começo do programa para o ambiente ganhar tensão. Logo na primeira pergunta, Onyx enfileirou dados negativos sobre o governo Leite e citou um redirecionamento de recursos federais da educação para pagamento de servidores.
— O senhor desviou de finalidade R$ 1,2 bilhão do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) — atacou Onyx.
— Essa denúncia é armação eleitoral que o senhor prepara às vésperas da eleição — reagiu Leite.
No segundo bloco, Leite revidou. Respondendo a uma pergunta de Jobim sobre o valor das licenças ambientais, o ex-governador disse que antes de reduzir custos precisou ajustar as contas públicas para evitar os sucessivos saques ao caixa único do Estado.
— E aqui não estou falando de caixa 2. Caixa 2 é um problema de outro candidato — provocou Leite, em referência ao uso confesso de recursos não contabilizados por Onyx nas eleições de 2012 e 2014.
Na sequência, Edegar tentou equiparar Leite e Onyx, lembrando que ambos votaram em Bolsonaro em 2018. Também citou a recente passagem de Onyx por cinco ministérios e a presença do filho, Rodrigo Lorenzoni, no secretariado de Leite enquanto 25 mil pequenas e médias empresas teriam fechado as portas no Estado, gerando milhares de desempregados.
— Nada como um dia depois do outro: vocês destruíram 3 milhões de empregos em dois anos. Nós criamos 5 milhões de empregos — respondeu Onyx, destacando dados das gestões do PT na Presidência.
— Você representa um projeto de governo do negacionismo, negou a ciência e vacina. E Eduardo Leite ficou pintando mapinha, fechado no Palácio Piratini, e as empresas fecharam — devolveu Edegar.
No terceiro bloco, mais uma vez houve rusgas entre o trio. Onyx criticou a política sanitária de Leite, questionando Edegar sobre uma dívida do Estado com hospitais filantrópicos e santas casas.
— A realidade é muito triste. Eduardo Leite, em vez de se preocupar em cuidar da saúde das pessoas, preferiu cuidar da sua carreira política, cuidar da sua vaidade e renunciou. Já o governo Bolsonaro cortou 60% dos recursos da farmácia popular — respondeu Edegar.
No último bloco, de novo houve embate direto entre Leite e Onyx, com o candidato do PL cobrando o tucano a divulgar o volume de recursos recebidos do governo federal durante a pandemia.
— Foram os R$ 7 bilhões que o senhor recebeu do governo Bolsonaro que lhe permitiram colocar as contas em dia, mas o senhor omite isso — argumentou.
— Não são R$ 7 bilhões. Foram R$ 2 bilhões para repor perdas que aconteceram. O senhor não fala a verdade — disse Leite.
Longe do pelotão de frente
Distanciados do pelotão da frente nas pesquisas, Argenta e Bogo ressaltaram as principais bandeiras de suas campanhas. Empresário, Argenta repisou a necessidade de gerar empregos.
— Onde tem pleno emprego tem paz, alegria, segurança e bem-estar para todos. Temos de ser audaciosos e transformar o Rio Grande no melhor Estado do Brasil — afirmou.
Já Bogo citou o projeto de diagnóstico de vocações produtivas regionais que conduziu quando foi vice-governador (1995-1998).
— Eu criei o Reconversul, que discutiu a matriz produtiva da Metade Sul do Estado. É preciso organizar um projeto de desenvolvimento. Sem inovação e tecnologia, vamos continuar tendo uma região atrasada — comentou.
Defensor histórico da educação, Vieira da Cunha destacou a piora nos indicadores estaduais, com o Rio Grande do Sul ocupando o quarto maior índice de evasão no Ensino Médio.
— Os jovens estão abandonando as escolas porque estão sucateadas, os professores estão desmotivados. Onde tem ensino em tempo integral, a evasão é praticamente zero — afirmou Vieira.
Um dos principais temas da campanha, a adesão do RS ao regime de recuperação fiscal pautou embate entre Heinze e Jobim. Reclamando da falta de recursos para investimentos, o senador defendeu uma rediscussão da dívida com o governo federal.
— O que temos de fazer é rever essa conta. A conta é impagável, esse número é irreal — reclamou.
O candidato do Novo fez coro ao gigantismo do passivo, mas se disse a favor da política de responsabilidade fiscal e declarou apoio à adesão do Estado ao regime.
— Não temos opção, dizer que não vai pagar não é solução. Não quero que volte o primeiro ano do governo Sartori, quando os servidores recebiam atrasado — disse.