Aos 73 anos, Francisco José Moesch vive em "estado de graça". Foram essas as palavras utilizadas por ele no dia 23 de maio, quando tomou posse como novo presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul (TRE-RS). Natural de Estrela, no Vale do Taquari, foi jurista, corregedor e vice-presidente da instituição, mas, aos 27 anos de magistratura, confidencia ter chegado a um dos maiores desafios de sua carreira no comando da Corte.
Formado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), também é graduado em Administração Pública e em Administração de Empresas, ambos os cursos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Além disso, tem duas pós, uma em Direito do Trabalho (1974) e outra em Direito Tributário (1975). Ao longo da trajetória advocatícia, foi juiz do Tribunal de Alçada pelo Quinto Constitucional da Advocacia entre 1995 e 1998 — ano em que tornou-se desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS), do qual foi vice-presidente (de 2014 a 2016) e presidente do Conselho de Relações Institucionais (de 2020 a 2021). Atualmente, preside a 22ª Câmara Cível do órgão.
Escolhido entre seis candidatos ao posto, o desembargador do TJ assume o TRE-RS no ano desta que promete ser uma das mais desafiadoras eleições desde 1932, quando surgiu a Justiça Eleitoral.
— A democracia tem espaço para todos. Conservadores, liberais, progressistas, extrema-esquerda, centro-esquerda, centro-direita e extrema direita. Tem espaço para todos. O Rio Grande do Sul tem uma tradição de grandes debates políticos, campanhas muito acirradas, o que é importante. Isso sempre foi o exemplo. O que nós queremos é o respeito ao outro. Isso sempre foi tradição no Rio Grande — diz o desembargador, enquanto se balança na cadeira da sua sala, na Avenida Duque de Caxias, no centro da Capital, onde fica a sede do TRE-RS.
Trajando terno preto, camisa azul e gravata marinho com um leve petit poá, o presidente do tribunal eleitoral conversou com Zero Hora durante uma hora e 27 minutos. Esclareceu que pretende fazer uma eleição transparente para o eleitor, minimizou o poder da desinformação no país e reforçou a segurança das urnas eletrônicas, que vêm sendo desacreditadas por parte da classe política.
— A nossa preocupação é fazer uma eleição transparente, tranquila e reafirmar ao eleitor a importância do voto para a democracia. Temos que combater também a desinformação. Não consigo atinar com isso (o descrédito das urnas). Temos praticamente 26 anos de urna eletrônica. Não existe nada fundamentado de críticas em relação às urnas — salienta, sentado à frente das bandeiras do Rio Grande do Sul e do Brasil.
Torcedor Tricolor, avô apaixonado
Filho único, Moesch perdeu o pai cedo. Ainda criança, viu a mãe — a professora Maria Ofélia Stein Moesch — ir para o Rio de Janeiro fazer um curso na Fundação Getúlio Vargas para, posteriormente, sustentar o filho. Nesse período, ficou aos cuidados dos avós. Maria Ofélia, que morreu em 2020, aos 95 anos, foi delegada de educação e uma inspiração para o filho, em quem despertou, pelo exemplo, o interesse pelo ensino — Moesch é professor licenciado do curso de Direito da PUCRS.
O Rio Grande do Sul tem uma tradição de grandes debates políticos, campanhas muito acirradas, o que é importante. Isso sempre foi o exemplo. O que nós queremos é o respeito ao outro. Isso sempre foi tradição no Rio Grande.
FRANCISCO JOSÉ MOESCH
Presidente do TRE-RS
A agenda corrida do desembargador do TJ e presidente do TRE-RS é conciliada com a vida familiar do marido, pai e avô Francisco. Casado há 45 anos com Teresa Cristina, também advogada, Moesch tem dois filhos: Frederico, que seguiu a carreira dos pais e é bacharel em Direito, e Carlos, engenheiro. Seu maior xodó atende por Teresa — filha de Frederico, de oito anos e que carrega o nome da avó paterna.
Prestando expediente em dois tribunais, Moesch segue à risca uma rotina diária: ao acordar, lê os jornais, verifica as informações nas redes sociais e faz seu desjejum — café com leite, pão de centeio com manteiga, bananas e mamão.
— Gosto mais do papaia, mas estou comendo mais o formosa. O papaia anda meio anêmico, meio amarelinho, sem muito gosto — confidencia, à mesa, enquanto toma mais um café com leite, dessa vez, ao final do dia.
Ao sair de casa, segue primeiro para o Tribunal de Justiça. Depois, para o prédio do Tribunal Eleitoral, normalmente, antes do meio-dia. Somente no mês de setembro, o desembargador terá 15 audiências para comandar na entidade.
Torcedor tricolor, Moesch é conselheiro jubilado do Grêmio e foi advogado do time entre 1983 e 1984. Além de ir aos jogos do clube do coração, tem como hobby, quando encontra tempo, caminhar pelo bairro Petrópolis, onde mora. Com ar nostálgico, lembra que foi um grande atleta na juventude — gaba-se de ter jogado futebol de campo, futsal, vôlei, basquete e tênis.
Como bom jurista, gosta de falar, ler livros fora da esfera jurídica (em média duas leituras por semana) e mantém dois grupos de “debates”. Quase todos os finais de semana, Moesch e seus companheiros se encontram em uma mesa no Leopoldina Juvenil, no bairro Moinhos de Vento — tradição que já dura 50 anos. Outra confraria da qual participa é chamada de “Senadinho” — realizada nas mesas do Barranco, um dos mais tradicionais restaurantes de Porto Alegre — um encontro com pessoas de vários nichos da sociedade, como servidores públicos, empresários, médicos, militares, publicitários etc, além, é claro, de nomes de notável saber jurídico. O ex-ministro Paulo Brossard, falecido em 2015, chegou a participar dos encontros. Servidos de vinhos, chopes e belas carnes, analisam, informalmente, as principais questões do Estado e do país.