
Os índices que desenham uma disputa polarizada no segundo turno da eleição presidencial, apresentados na última pesquisa Ibope, inauguram um novo momento na campanha.
Enquanto aliados de Jair Bolsonaro (PSL) tentarão ampliar sua vantagem em São Paulo, a equipe de Fernando Haddad (PT) apostará na moderação do discurso mirando o crescimento além dos Estados do Nordeste. Paralelamente, o segundo pelotão na preferência dos eleitores, com Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede), terá 16 dias para tentar recuperar os votos perdidos nas últimas semanas.
Bolsonaro, que alcança 28% de preferência no país, chega a 38% no Sul. Mas é no Sudeste que seus aliados irão centrar a artilharia na reta final da campanha. O bom desempenho do capitão reformado do Exército em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, faz com que aliados utilizem o mote do “voto útil”, na esperança de uma vitória no 1º turno. O pano de fundo será a aposta no antipetismo.
Incentivando a polarização, Haddad avançou de 11% para 19% em uma semana, de acordo com o Ibope. Embalado pela transferência de votos do ex-presidente Lula, a performance é puxada pelo Nordeste. Na região, supera todos os adversários e alcança 31%.Quem patina nas pesquisas deverá subir o tom contra os adversários. É o que fará Ciro, que também tem no Nordeste sua base.
O foco será o PT, mas haverá cautela para não criar fissuras irrecuperáveis em um eventual 2º turno. Alckmin, que já apostava em ataques contra Bolsonaro e Haddad, irá subir ainda mais o tom. O desafio será se vender como alternativa para não permitir o avanço do PT. O tucano enfrenta dificuldades até mesmo em São Paulo, Estado que governou por quatro mandatos.
Na segunda colocação no início da campanha, Marina aparece em quinto na preferência dos eleitores. Ela também apostará em eventos públicos no Nordeste, embora rechace a possibilidade de ataques pesados contra adversários.
A pouco mais de duas semanas das eleições, estrategistas sustentam que não há mais tempo para apostas. A tentativa de desconstruir adversários e o apelo ao voto útil irão dominar as manifestações, enquanto os planos de cada um para governar o país acabarão relegados a um segundo plano.
A pesquisa Ibope foi realizada com 2.506 eleitores dias 16 e 18, tem margem de erro de dois pontos e 95% de confiança. O registro no TSE é BR-09678/2018.
Onde está pior: Nordeste é o maior desafio na atração de eleitores, onde se destacam as performances de PT e PDT. Aliados seguirão em campanha em agendas públicas e nas redes sociais, mas a energia será direcionada a São Paulo, principal colégio eleitoral do país. Haverá ações para tentar reduzir a rejeição de Bolsonaro, a maior entre os concorrentes, e melhorar no eleitorado feminino.
Onde está melhor: Sul e Sudeste animam apoiadores que ainda veem espaço para crescimento em Estados como São Paulo e Rio de Janeiro. Apostando na vitória em 1º turno, a estratégia seguirá o caminho da polarização com o PT, com a defesa do voto útil. Eleitores de Alckmin serão cortejados. Transmissões ao vivo com Bolsonaro pelas redes sociais serão intensificadas.
Onde está pior: Sul representa o principal desafio de crescimento. Plano guardado para o 2º turno será antecipado. Haddad irá moderar o discurso e fazer acenos ao mercado. A estratégia é vender a imagem de conciliador.
Ele dirá ao eleitor que a disputa é entre a civilidade e a barbárie. A maior preocupação é neutralizar a onda anti-PT. Até a chance de diálogo com o PSDB não está descartada.
Onde está melhor: Nordeste consolidou o avanço de Haddad e surpreendeu até mesmo os mais otimistas.
A região é a que oferece o maior potencial de transferência de votos de Lula, tendo a Bahia como principal palanque, terceiro maior colégio eleitoral. A estratégia de usar o ex-presidente na TV e em discursos será mantida, ao lado da polarização com Bolsonaro.
Onde está pior: Sul terá as agendas mantidas, apesar do pessimismo quanto à melhora de desempenho na região. Um dado comemorado entre estrategistas é o menor índice de rejeição a Ciro entre os cinco líderes. Ataques ao PT serão feitos com cautela para não implodir pontes em eventual 2º turno. A precaução quanto à “língua afiada” de Ciro será ampliada para evitar situações embaraçosas.
Onde está melhor: Nordeste ainda dá os melhores índices a Ciro, mas há perda de espaço para Haddad. A região receberá maior atenção. Na TV, as propostas dividirão espaço com críticas à polarização, ao mesmo tempo em que a capacidade de liderança do petista será questionada. Estrategistas veem chance de avanço em São Paulo, com o mote do voto útil.
Onde está pior: Nordeste já era esperada como região mais difícil, mas a performance surpreende negativamente. A dispersão de integrantes do centrão é maior na região, com tendência a aproximação com o PT.
Já no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, a preferência recai sobre Bolsonaro. Não há benefício nem mesmo onde correligionários estão bem cotados para governos estaduais.
Onde está melhor: Sudeste dá o melhor resultado a Alckmin, mas mesmo assim não há o que comemorar, já que foi governador de São Paulo quatro vezes. Estrategistas entendem que o início do horário eleitoral, onde tem a maior fatia, não vem dando resultado esperado. Aliados querem artilharia pesada contra adversários, elevando o tom contra Bolsonaro.
Onde está pior: Sul e Sudeste são as regiões nas quais a dificuldade se acentuou. Para aliados, a oscilação é natural e foi provocada pela oficialização de Haddad como candidato petista. O discurso é de que o quadro da eleição ainda está em aberto e será definido a partir de agora. A queda na preferência do eleitorado feminino é vista como efeito da mudança na chapa do PT.
Onde está melhor: Centro-Oeste e Norte (na qual fica o Acre, Estado natal da candidata) é onde Marina tem o melhor desempenho, mesmo após a queda de cinco pontos percentuais na preferência do eleitorado em um mês. Seguirá sendo apresentada como a melhor opção para fugir da polarização. Nordeste, onde teve a maior queda, receberá atenção especial.