Após três horas reunido com a direção do PP, nesta sexta-feira (3), o deputado federal Luis Carlos Heinze (PP-RS), adiou para sábado (4) a definição sobre sua situação nas eleições deste ano. Até quinta-feira (2), Heinze era o nome do PP no Estado para concorrer ao Piratini, mas a ida da senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS) para vice na chapa do presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) tornou essa possibilidade inviável. Informações de bastidores indicam que o deputado estaria disposto a concorrer ao Senado, mas descartando apoiar o candidato tucano ao comando do Executivo gaúcho, Eduardo Leite.
Heinze deve decidir sobre o caso neste sábado, em reunião realizada antes da convenção do partido. A resolução 23.555/2017 define que a escolha do vice deve acontecer até o domingo (5) e o requerimento de registro dos candidatos precisa ser apresentado até as 19 horas do dia 15 de agosto. Nesta sexta-feira, Ana Amélia afirmou que iria participar da convenção do PSDB, que ocorre neste sábado.
Na prática, Heinze rejeitaria o acordo firmado com o PSDB na quinta-feira, com Ana Amélia aceitando o convite dos tucanos.
Um dia de tensão no PP
Heinze tenta manter a ligação com suas bases, mais ligadas a Jair Bolsonaro (PSL). As lideranças do PP rejeitaram essa opção e informaram-no que a proposta de assegurar recursos para a candidatura ao Senado seria retirada. Pressionado pela família e membros do partido, Heinze ficou diversas horas reunido com o presidente da sigla, Celso Bernardi, discutindo seu futuro político. Na sala ao lado, toda a executiva do PP aguardava decisão.
No fim da tarde de quinta-feira, em Brasília, Heinze havia concordado em abrir mão da disputa ao Piratini. Em troca, assumiria a legenda até então destinada à reeleição de Ana Amélia Lemos. Após sacramentar o acerto, com a consequente adesão do PP a Leite, Heinze recuou. Em nota distribuída à imprensa à noite, disse que mantinha a candidatura a governador.
A mudança causou um rebuliço na sede do PP. Desde as primeiras horas da manhã, dirigentes e parlamentares correram ao sobrado da Praça da Matriz tentando entender o que estava acontecendo. Na tentativa de pacificar o partido, o presidente Celso Bernardi convocou encontro da executiva para o fim da tarde. Heinze chegou com uma hora e meia de atraso e se reuniu a sós com Bernardi. Após mais de 90 minutos reunido a portas fechadas, com deputados entrando e saindo, comunicou que aceitava disputar o Senado.
A turbulência começou na manhã de quinta-feira. Quando a comitiva gaúcha do PP chegou à Brasília, foi surpreendida pela pressão do setor político e empresarial para que Ana Amélia aceitasse o convite de Geraldo Alckmin (PSDB). Depois de discursar na convenção que selou a aliança nacional com os tucanos, a senadora reuniu parte dos gaúchos em seu gabinete. Admitiu que pretendia abrir da reeleição em prol de Alckmin, mas condicionava a decisão a um acerto do partido com o PSDB no Estado.
Todos concordaram, mas ainda havia um complicador: Heinze não estava presente. O deputado foi chamado ao gabinete e rebelou-se. Alegando que 80% dos delegados haviam decidido pela candidatura própria na pré-convenção, disse que não estava disposto a trocar a disputa pelo Piratini por uma vaga no Senado.
Ana Amélia, então, revelou que havia feito uma exigência à direção do PP: os R$ 3 milhões que ela receberia para a custear a reeleição seriam destinados na íntegra para a campanha dele. Heinze balançou. Uma de suas maiores queixas era justamente a escassez de recursos depois que sua cota foi reduzida de R$ 4,55 milhões para R$ 1,36 milhão por conta da infidelidade às orientações partidárias nas votações na Câmara.
O deputado pediu um tempo para pensar, deixou o gabinete e consultou a família e conselheiros, como o ex-governador Jair Soares e o ex-ministro da Agricultura Francisco Turra. Enquanto isso, Ana Amélia conversava por telefone com Leite e costurava as bases do acordo no Estado.
Por volta das 17h, Heinze voltou e disse que aceitava concorrer ao Senado. Leite voltou ao telefone e, pelo viva-voz, chegou a oferecer ao deputado a vaga de candidato único na chapa, comprometendo-se a convencer o outro candidato, Mário Bernd, a desistir da empreitada. Heinze agradeceu, mas não chegou a fazer a exigência.
Terminada a reunião, posou para fotos ao lado de Ana Amélia durante o anúncio oficial e em nenhum momento manifestou desconforto. Passava das 22h quando todos foram surpreendidos com uma nota oficial divulgada pelo deputado na qual ele dizia que iria conversar com a família e a base partidária antes de tomar qualquer decisão. "A princípio (...) está mantida a candidatura ao governo do Estado", escreveu.
— Ninguém entendeu nada — resume um dirigente que acompanhou toda a negociação.
A pressão para que Heinze repensasse a decisão partiu principalmente de um neto, Luiz Vicente, apoiador de Jair Bolsonaro no Estado. Foi ele quem convenceu o avô a redigir a nota.
Nesta sexta-feira pela manhã, Heinze, a mulher, a filha e o neto conversaram com Bernardi na sede do partido. A família reclamou da forma intempestiva como ele fora coagido a abrir mão da disputa pelo Piratini e pediram mais tempo para pensar. À noite, o impasse persistiu e o PP seguia dividido às vésperas de sua convenção, neste sábado.