A eleição geral dominou o cenário político em 2022. Desde o início do ano, as costuras para definição de candidatos já estavam em andamento. O cenário de polarização ajudou a tornar o ambiente ainda mais tenso. A culminância viu-se em 30 de outubro, com as eleições de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Presidência e Eduardo Leite (PSDB) para o governo do Estado, o primeiro governador a ser reeleito no RS. A eleição trouxe boas notícias para Caxias do Sul, com a conquista de duas cadeiras na Câmara Federal para representantes do município.
O ano de tensão foi pontilhado por pressões políticas para impedir agendas de ministros do Supremo Tribunal Federal em eventos na região e tentativas de boicote a estabelecimentos comerciais com o propósito de pressionar supostos apoiadores do candidato Lula. Bloqueios de rodovias e manifestações em frente a quartéis foram frequentes no pós-eleição. Em âmbito municipal, a prefeitura obteve a aprovação pela Câmara de Vereadores, em sessões tensas ao final do ano, da Reforma da Previdência para servidores ativos, aposentados e pensionistas.
Brasil dividido elege Lula presidente
O Brasil escolheu um novo presidente. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito com 60,3 milhões de votos para seu terceiro mandato à frente da nação, depois de uma campanha tensa, de pouco mais de dois meses. Lula ressurge depois de passar 580 dias na prisão em decorrência da Operação Lava-Jato. Em um cenário de divisão do país, foi a eleição mais acirrada da história da República depois de dois turnos de votação. O atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), que concorria à reeleição, fez 58,2 milhões de votos. O país emergiu das eleições presidenciais dividido ao meio. A diferença foi pequena. Lula fez 50,9% dos votos válidos. Ao longo da campanha o então candidato Lula conseguiu incorporar apoios na sociedade que contemplaram uma frente mais ampla de defesa da democracia. A exemplo do que já acontecera em 2018, a Serra Gaúcha seguiu dedicando votação expressiva a Bolsonaro, que venceu em 47 das 49 cidades da região. Em 19 cidades, Bolsonaro fez mais de 70% dois votos totais.
Leite se reelege governador
O governador eleito em 2018, Eduardo Leite (PSDB) foi o protagonista de uma façanha. Quase ficou de fora do segundo turno da disputa para o governo do Estado, obtendo a vaga por escassos 2 mil votos, mas se tornou o primeiro governador a ser reeleito na história do Rio Grande do Sul. Leite, que havia ficado em segundo lugar no primeiro turno com quase 700 mil votos a menos do que Onyx Lorenzoni (PL), conseguiu reagir no segundo turno e terminou com mais de 900 mil votos à frente do adversário. Foi ajudado pela votação destinada em primeiro turno ao candidato do PT, Edegar Pretto, que se transferiu maciçamente para Leite.
Bloqueios pararam rodovias
As urnas nem bem haviam sido apuradas e, ainda na noite do domingo de segundo turno, em 30 de outubro, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro começaram a bloquear estradas da Serra e pelo país, em protesto contra o resultado das eleições. Na Serra Gaúcha, chegaram a ser registrados 16 pontos de bloqueio nos dias que se seguiram às eleições. Quase dois dias depois de permanecer em silêncio, após a divulgação do resultado, o presidente Jair Bolsonaro fez sua primeira manifestação em Brasília. Desautorizou os bloqueios em estradas e deu início à transição.
Pressão contra ministros e boicotes na Serra
Foi um ano eleitoral muito tenso e com inúmeras tentativas de silenciar quem pensa diferente, protagonizadas pela Serra Gaúcha. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, cancelou participação em palestra em Bento Gonçalves devido a pressões políticas. O CIC-BG (Centro de Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves) desistira de realizar palestra-jantar na sede da entidade depois de manifestações contrárias de dois patrocinadores. As participações dos ministros Dias Toffoli e Cármen Lúcia, também do STF, em eventos em Gramado também sofreram pressões e tiveram de ocorrer de forma online. Houve boicote a uma vinícola de Farroupilha por participar, representando a Fecovinho, de evento em Porto Alegre com os candidatos a presidente e a vice da República, Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin. E, na reta final do segundo turno, começaram a circular listas de boicotes a estabelecimentos comerciais de pelo menos cinco cidades da região — Caxias do Sul, Flores da Cunha, Gramado, Canela e Nova Prata — com o objetivo de divulgar pessoas físicas e jurídicas que teriam, supostamente, apoiado o candidato Lula. Foi uma marca do ano político na região.
Caxias e Serra de volta ao Congresso
Caxias do Sul e a Serra Gaúcha voltam a ter representação na Câmara dos Deputados. Os vereadores caxienses Mauricio Marcon (Podemos) e Denise Pessôa (PT) foram eleitos para o Congresso. Marcon surpreendeu e fez 140.634 votos e foi o candidato à Câmara mais votado do partido. Denise conquistou 44.241 votos, ficando com a sétima vaga do PT.
Para a Assembleia, três candidatos de Caxias e cinco da Serra foram eleitos: Pepe Vargas (PT), Neri, o Carteiro (PSDB), Professor Claudio Branchieri (Podemos), Elton Weber (PSB) e Guilherme Pasin (PP). No dia 23 de dezembro, ao anunciar a composição do secretariado, o governador Eduardo Leite chamou dois deputados eleitos do MDB para o primeiro escalão, abrindo vaga na Assembleia para Carlos Búrigo (MDB), que ficara como segundo suplente do partido. Assim, serão quatro deputados de Caxias do Sul e seis da região na Assembleia. Uma representação importante.
Manifestações na frente do quartel
No pós-eleição, logo depois de cessarem os bloqueios em rodovias para protestar contra o resultado das urnas que elegeram Luiz Inácio Lula da Silva presidente, as manifestações passaram a se concentrar, e ainda prosseguem, na frente de quartéis pelo país. Em Caxias do Sul, elas seguem se realizando na frente do 3º Grupo de Artilharia Antiaérea, o 3º GAAAe. Os manifestantes ainda reivindicam a palavra de ordem SOS FFAA, que significa SOS Forças Armadas, um pedido explícito de intervenção militar, portanto, em desrespeito ao resultado das urnas, para tentar impedir a posse de Lula na Presidência, marcada para este domingo (1º). Em diversos dias após o segundo turno, os manifestantes bloquearam totalmente o tráfego de veículos na Avenida Rio Branco.
Drama e recuperação de Estela
A vereadora Estela Balardin (PT), parlamentar mais jovem eleita em Caxias do Sul, precisou ser internada na UTI do Hospital Geral em 30 de março deste ano. Ela teve alta em 16 de maio, depois de ficar por 29 dias na UTI. Retornou às atividades da Câmara 103 dias depois da internação, em 11 de julho, e voltou a participar de uma sessão plenária um dia depois. Em seu retorno, Estela teve aprovado projeto de sua autoria para inclusão da programação Julho das Pretas no calendário oficial da cidade. Em outubro, a Câmara aprovou proposta de Estela para a criação da Frente Parlamentar em Defesa da Saúde Mental.
Caxias comandada por mulheres
Fato marcante do ano político caxiense foi a representatividade das mulheres em postos de comando em Caxias do Sul. A cidade foi comandada por mulheres. Em maio deste ano, a juíza Joseline Mirele Pinson de Vargas assumiu como diretora do Fórum da Comarca de Caxias. Ela juntou-se a outras mulheres à frente de cargos públicos: Paula Ioris (vice-prefeita), Denise Pessôa (presidente da Câmara), Tatiane Frizzo (vice-presidente da Câmara). Na prefeitura, além de Paula, há outras oito mulheres em postos de secretária municipal ou de primeiro escalão. Na Câmara, são cinco vereadoras eleitas, tendo assumido outras três como suplentes. As mulheres ainda ocupam a presidência da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) subsecção Caxias, duas vice-presidências da CIC e 58 associações de moradores (ou 35% do total) no movimento comunitário.
Nova aposentadoria em sessões tensas
O final do ano foi movimentado pelo encaminhamento pela prefeitura do projeto de Reforma da Previdência para os servidores municipais ativos, aposentados e pensionistas. O projeto foi encaminhado em 30 de novembro, com pequeno tempo para debate na Câmara, Foi votado e aprovado em tensas sessões extraordinárias nos dias 15 e 16 de dezembro, com o plenário repleto de servidores. Ele objetiva amenizar o impacto de aportes da prefeitura ao Fundo de Aposentadoria e Pensão do Servidor, o Faps. Este ano, o aporte deve ficar em R$ 290 milhões e, para 2023, a projeção era de cerca de R$ 400 milhões. Com a aprovação da reforma, a transferência deve ficar em torno de R$ 240 milhões. Com a reforma, aposentados passarão a contribuir com uma alíquota progressiva a partir de 14% sobre a fatia do salário que exceder uma faixa de isenção. Também a idade mínima foi ajustada para 62 anos para mulheres e 65 anos para os homens.
Prisões na Operação Cáritas
A Operação Cáritas, desencadeada pela Polícia Civil, que investiga corrupção na prefeitura do município desde abril de 2021, prendeu este ano o secretário do Meio Ambiente de Canela, Jackson Müller, durante a oitava etapa, em maio, e o ex-secretário de Turismo, Ângelo Sanchez, na décima fase da operação, em dezembro. Na oitava etapa, foram investigados contratos feitos sem licitação em uma soma de mais de R$ 7,3 milhões de recursos públicos envolvidos. O secretário Müller foi solto em agosto. No caso do núcleo de investigação na Secretaria do Turismo, a Polícia Civil apurou que eram feitas contratações de empresas por inexigibilidade de licitações, com repasses de parte das quantias para agentes e servidores públicos da pasta.