Ao visitar a família Belem na noite da última terça-feira, nem parecia que meros oito meses haviam se passado desde o primeiro encontro com a família que o Pioneiro irá acompanhar pelos próximos quatro anos. Desde aquelas vésperas de eleição, José Luceno Belem e Teresinha Ribeiro avançaram nas reformas da residência no Loteamento Villa-Lobos. A casa aumentou. Ganhou um novo cômodo, que faz as vezes de cozinha e sala de estar, e uma varanda com um extenso varal onde o sol bate pela manhã.
- A mulher às vezes reclama, mas eu acho que a vida está melhorando - comenta José Luceno, ao pé da escada que dá para uma rua ainda à espera de asfalto.
É verdade que para a família Belem as reformas não demandam investimento assim tão alto. Clara vantagem de se ter um construtor em casa, mestre na arte de reaproveitar o material que sobra das obras em que trabalha. E trabalho não tem faltado para o patriarca, ainda que Caxias passe por momento de retração econômica.
- A madeireira pra qual eu presto serviço não vende uma casa há uns dois meses. Ainda não afetou diretamente o meu trabalho porque já tinha algumas obras à espera e, por ser um dos mais velhos lá, tenho preferência. Mas o que tem de trabalhador indo lá pedir serviço é algo que não tinha visto ainda. Cinco ou seis por dia. E está tudo parado - alerta.
Outra novidade desde o último encontro com os Belem está na garagem. O Celta deu lugar a um Vectra, que divide espaço com uma Saveiro _ utilizada para carregar as ferramentas de trabalho de Luceno. É quando fala do utilitário que ele faz a primeira crítica ao governo de José Ivo Sartori (PMDB), de quem espera solução para as rodovias cada vez mais precárias.
- O Sartori vai enfiar todo mundo no buraco, literalmente. Porque esses asfaltos nas estradas nunca estiveram tão ruins. Fui recentemente a Nova Prata e me apavorei com a buraqueira. E a BR-116, uma estrada que antes era boa, agora tá horrível - reclama.
Luceno também não engole o argumento recorrente do governador, de que o Estado passa por uma situação pior do que imaginava estar antes de assumir.
- Se tu sabe que tem um precipício ali na frente, tu vai se jogar? Claro que não.
Os ovos de Dilma
A insatisfação da família Belem não é apenas com o governo Sartori. Na hora de avaliar o governo federal, José Luceno mostra não ter esquecido de uma declaração polêmica do então secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, que em outubro do ano passado sugeriu que a população trocasse a carne por alimentos mais baratos, como o ovo. A declaração foi considerada infeliz por Dilma Rousseff, mas é difícil dissociá-la de seu governo.
- Falaram que o pobre ia ter que trocar carne por ovo. Foi o que a gente fez (aponta para duas bandejas de ovos sobre um armário). Só que o ovo era barato e agora já tá valendo um quilo de carne. Se a Dilma sair (do governo), vou assar um churrasco de ovos - ironiza Luceno.
Teresinha, por sua vez, reclama do que considera um aumento abusivo da taxa de luz, referindo-se ao reajuste aprovado em fevereiro pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
- A gente nunca gastava mais do que R$ 60, agora está difícil baixar de R$ 100 por mês - compara.
Um a menos no ninho
Eram seis, agora são cinco na casa da família Belem. O mais velho, Matheus, recebeu boa proposta de emprego e mudou-se para São Marcos, onde mora em uma pensão. Visita a família nos finais de semana e sempre ouve pedidos da mãe para que volte.
- Já propus fazer uma casinha pra ele aqui atrás, no nosso terreno mesmo, mas ele não quer. Está gostando de lá - conta Teresinha.
Os outros três filhos seguem com os pais. Mayara, de 17 anos, concluiu o Ensino Médio e faz um curso Técnico em Administração. Durante o dia, trabalha como manicure em um salão no centro. Quase não para em casa (e até por isso não está nas fotos dessa reportagem).
Os dois mais novos, Maryana e Gustavo, seguem estudando. Para a menina, a mãe quer encontrar um programa de estágio. Enquanto passa a maior parte do dia em casa, a menina segue convivendo com as brincadeiras de ser a chefe da família. No dia em que a reportagem foi recebida, Maryana assou um bolo de gente grande.
Gustavo, ainda jovem demais para começar a dirigir caminhão e seguir a profissão que aprendeu a amar com o tio da Capital, ocupa o dia com vídeo game, televisão e brincadeiras de rua com os amigos da vizinhança.
Política
Família Belem avalia os primeiros seis meses dos governos Dilma e Sartori
Caxienses acompanhados pelo Pioneiro desde as eleições esperavam mais do peemedebista e da petista
GZH faz parte do The Trust Project