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A Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Caxias do Sul acredita que desavenças e desentendimentos dentro do sistema penitenciário podem estar por trás dos assassinatos mais recentes na cidade. Os casos dos dois homens mortos em menos de 24h chama a atenção pela quantidade de tiros efetuados pelos executores. Maicon Willian Vieira da Silva, 31 anos, foi assassinado com mais de 20 disparos por volta da 0h30min desta terça-feira (7), na Rua Procópio Silvestre de Abreu, dentro da garagem da casa onde morava no bairro Esplanada. Antes disso, por volta das 13h30min de segunda-feira (6), Junior Cesar de Borba, 36, foi morto dentro do carro que conduzia, na Rua Deonillo Zanela, no bairro Santa Lúcia, com mais de 17 tiros.
O delegado Caio Márcio Fernandes, titular da DHPP, explica que as vítimas tinham antecedentes criminais, inclusive, por tráfico de drogas, mas as características dos crimes não apontam para disputa de pontos de venda de drogas.
— Nossa principal linha de investigação é que trata-se de uma possível desavença entre os relacionamentos interpessoais da vítima.
Sobre Borba, o delegado ressalta que a maneira que o crime foi cometido aponta para um homicídio encomendado e planejado:
— Considerando a extensa vida criminosa da vítima e os inúmeros antecedentes policiais, obviamente é vinculada à facção criminosa. Entretanto, o modus operandi como foi praticado o delito parece que foi uma cobrança de algum relacionamento anterior ou alguma inimizade feita dentro do sistema penitenciário ou fora também algum desentendimento fora do presídio com alguém. Nós identificamos também que os executores provavelmente não são de Caxias do Sul, o que aponta para uma morte encomendada e planejada.
O delegado ressalta que ainda é cedo para determinar se os crimes têm relação, mas as circunstâncias da morte de Silva também levam a Polícia Civil a crer que o crime pode ter sido motivado por desavenças.
— Com base em algumas circunstâncias que testemunhas narraram, a vítima estava mexendo no celular antes do crime, e parecia preocupado durante o dia, e até a feição do rosto havia mudado, como se ele estivesse sabendo ou pressentido o que ia acontecer. É como se ele já tivesse recebido um aviso que estava na "berlinda" e podia ser vítima de um homicídio.
O titular da delegacia de Homicídios reforça que esses crimes são similares, e também são diferentes dos ataques de grupos criminosos que marcaram o mês de abril e maio em Caxias. Naquela ocasião, o clima de violência e a disputa de território para o tráfico de drogas entre organizações criminosas deixaram vítimas que não tinham relação com o crime, como a adolescente Larissa Mariá Barbosa da Silva, 14.
—Tudo indica que essas mortes são fruto de uma relação interpessoal, diferentemente dos homicídios no final de abril e começo de maio. É diferente dos ataques aleatórios a pontos de venda de drogas, sendo que qualquer um que estivesse no local podia acabar sendo atingido e morrendo, como infelizmente, aconteceu com uma adolescente de 14 anos. Acreditamos em uma motivação pessoal, ainda que eles tenham envolvimento com o crime. Não é uma motivação empresarial em busca de território ou pontos de drogas.
Sobre os crimes
Silva foi executado com mais de 20 tiros dentro da garagem da casa onde morava no bairro Esplanada. De acordo com informações da Brigada Militar (BM), uma ligação anônima informou que haviam sido disparados muitos tiros na casa de Silva. O comunicante informou ainda que um homem saiu de um carro de cor branca e efetuou os disparos contra a vítima. A polícia encontrou Silva morto na garagem da moradia. Ainda segundo a BM, ele tinha antecedentes criminais por furto, lesão corporal no contexto de violência doméstica, roubo a pedestre, receptação, tráfico de drogas e usava tornozeleira eletrônica.
Já Borba foi morto na tarde de segunda-feira, na Rua Deonillo Zanela, no bairro Santa Lúcia, por volta das 13h30min. Borba dirigia um Renault Clio quando o veículo foi alvejado por, pelo menos, 17 disparos de arma de fogo. Segundo informações da Polícia Civil, Borba foi surpreendido por criminosos que estariam em outro veículo. Eles efetuaram os disparos em direção ao Clio. Borba conduziu o automóvel por mais alguns metros e morreu no interior do carro. A esposa e o filho da vítima, que estavam no carro também foram atingidos, mas sem gravidade.