Nas últimas semanas, a intensa movimentação de policiais tem chamado a atenção da comunidade de Caxias do Sul. São diversas viaturas, motocicletas e até helicóptero percorrendo ruas da cidade ou fazendo barreiras e abordagens especialmente aos finais de semana, o que leva muita gente a imaginar que uma grande ocorrência está em andamento. Na verdade, é ao contrário. Esse tipo de mobilização, que só ocorria poucas vezes no ano, agora tem sido rotineiro. A estratégia tem como ponto central a visibilidade da força policial, o que serve para inibir crimes e passar a sensação de segurança.
Atualmente, são quatro tipo de operações diferentes que são organizadas em dias diferentes e por corporações diferentes em conjunto ou separadamente, de acordo com a necessidade. Geralmente, envolvem o 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM), o 4º Batalhão de Choque, a Guarda Municipal, a Fiscalização de Trânsito e as polícias rodoviárias Estadual e Federal.
Ainda que muitos agentes de segurança e o apoio aéreo ao mesmo tempo despertem a curiosidade, o uso da aeronave já é considerado rotina pela Brigada Militar (BM). O helicóptero é acionado sempre que não está em outras missões devido ao alcance e a possibilidade de ser visto e ouvido a distância.
— É uma opção do novo comando local. Uma estratégia de ser mais visível, com operações mais rotineiras. A intenção é realmente mostrar que estamos trabalhando, sermos vistos. A sensação de segurança só é possível quando o cidadão avista um policial ou uma viatura. É algo que estamos tendo uma repercussão bastante positiva — aponta o major Wagner Carvalho, subcomandante do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM).
Não há números relacionados diretamente às operações, por exemplo, se houve menos homicídios ou roubos em determinada semana por causa da mobilização policial. Contudo, é nítido que esse tipo de trabalho tem contribuído para manter a criminalidade em baixa. Um dos efeitos práticos da presença ostensiva das forças policiais ficou evidente num áudio interceptado pela BM na semana passada em Caxias do Sul. Na conversa, suspeitos de tráfico de drogas falam sobre a necessidade de estar atento e agir rápido diante da "operação real" das forças policiais. Ouça abaixo:
Transcrição da conversa interceptada pela BM:
"O negócio é o seguinte, tem que ter comunicação. O cara estar sempre esperto e online, entendeu cupincha? Na real, o cara postou operação da Brigada e pá, já tem que baixar os bagulhos, entendeu? Não pode ficar de bobeira na banda. O maluco postou o status, os loucos saindo fortemente lá dos trilhos. Operação real! Já tem que baixar os bagulhos. Deixa para outro dia. Liberdade não tem preço, entendeu cupincha?"
A realização das operações semanais é possível graças ao incremento de horas extras. Desta forma, o comando consegue mobilizar uma parte considerável da tropa sem prejudicar o policiamento rotineiro dos outros dias. As operações contam com a parceria do 4º Batalhão de Choque, da Polícia Civil, da Guarda Municipal e da Fiscalização de Trânsito.
— Temos uma possibilidade de abranger uma área maior quando acontece esse acréscimo de policiais com apoio de outras forças, de dentro ou fora da Brigada. É de conhecimento que trabalhamos com efetivo abaixo do previsto. É um trabalho que otimizamos diariamente, com ações direcionadas e mais pontuais. Com essas grandes operações, conseguimos ampliar — destaca o major Carvalho.
A quantidade de policiais e viaturas, que pode remeter a uma grande perseguição ou ocorrência, portanto é um formato estratégico. Já o foco depende de cada operação. Em outubro, as ações se concentraram na área central para combater os roubos a comércio, devido a um aumento desse indicador. Os homicídios e o tráfico de drogas também são necessidades recorrentes.
Segundo o comando do 12º BPM, o policiamento é distribuído conforme a análise dos indicadores criminais. Quando um tipo de delito tem crescimento, as patrulhas são direcionadas para atuar na área e nos horários com mais registros de casos.
— Esse levantamento da inteligência nos direciona. Nossa estratégia é congelar os acessos daquele bairro e fazer incursões a pé para revistar e identificar suspeitos. Nas entradas e saídas, fazemos as barreiras. Temos uma lista feita pela inteligência de veículos roubados ou clonados e indivíduos (suspeitos) que estão atuando na região daquela operação. Só que acontece de estarmos procurando um veículo e "cair" outro que acabou de ser furtado ou está com drogas. Por isso, a importância de abordar todos. Não temos como saber (antes) quem está em situação de crime. Abordagem é um trabalho preventivo, de evitar crimes —explica o capitão Jorge Mascarin, comandante da Força Tática do 12º BPM.
As operações em Caxias do Sul:
= Operação Hoplitas - mobilização semanal que tem o foco no combate a homicídios. Essa é uma demanda estadual do comando da Brigada Militar, que mobiliza todos os seus batalhões. Cada unidade tem autonomia para adequar a estratégia conforme as características de sua área, por isso o formato pode variar. A estratégia é escolher os dias para que essa mobilização aconteça em várias cidades ao mesmo tempo. O foco é o final de semana porque, historicamente, os homicídios acontecem nesse período.
= Operação Sentinela - é uma iniciativa voltada para diminuir o indicador criminal que estiver mais elevado na área de cada comando regional. No mês de outubro, em Caxias do Sul, a ação foi contra os roubos ao comércio que tiveram um pequeno aumento (foram 10 casos nas duas primeiras semanas). Essa operação acontece duas vezes por mês. A orientação do comando é que a mobilização movimente policiais no Estado inteiro.
= Balada Segura e Perturbação do Sossego - são operações realizadas nos finais de semana em parceria com a Guarda Municipal e Fiscalização de Trânsito. As equipes controlam a movimentação nos finais de semana. A presença da BM é uma necessidade para caso aconteça um flagrante de crime. A Balada Segura já está consolidada contra os motoristas que dirigem alcoolizados. Demanda antiga da cidade, as ações contra perturbação do sossego cresceram diante da necessidade de combater aglomerações em razão da pandemia de coronavírus.
= Operação Black Rriday - estratégia que será lançada neste mês de novembro com foco na segurança do comércio. A estratégia leva em conta o início dos pagamentos do 13º salário. Com a maior movimentação de dinheiro, as ações criminosas também crescem. Por isso, a BM terá uma ação preventiva na área central, principalmente com as equipes com motocicletas e a tropa montada em cavalos, que possuem mais mobilidade. A operação deverá ser substituída pela tradicional Operação Papai Noel em dezembro, com um foco semelhante.