Deomar Silveira Rodrigues, 60 anos, ainda tenta entender o brutal assassinato da filha, a dançarina caxiense Dhiuliane Damiani Martins, 32. Ela foi morta a tiros praticamente na porta de casa na Rua Visconde de Pelotas, no Centro, por volta das 16h do último dia (29), em Caxias do Sul. A Polícia Civil ainda investiga a identidade do adolescente que confessou a autoria do crime. Ele foi apreendido com a arma com a qual disparou pelo menos quatro vezes contra a dançarina. A identidade do jovem não é divulgada em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O jovem está recolhido no Centro de Atendimento Socioeducativo (Case).
Oito dias depois do crime, Deomar ainda se pergunta se poderia ter impedido o assassinato, se poderia ter protegido a filha, além de tentar entender o que levou um adolescente de 15 anos a matar a filha dele.
— Moramos perto de onde ela morava. Saímos para comprar os presentes dos nossos netos e ela mandou uma mensagem me pedindo ajuda para montar uns móveis que tinha comprado. Voltei para casa, peguei a furadeira e ia lá no apartamento dela quando soube que ela tinha sido assassinada. Me pergunto se eu tivesse chegado lá se teria impedido, se teria sido diferente — questiona ele.
O pai desabafa:
— Os tiros que mataram minha filha acertaram em toda a família e doem, eles só não nos mataram. Temos que aprender a conviver com a dor. Quem atirou e matou ela tem a vida normal e nos condenou ao sofrimento para o resto da vida. Tenho que lutar pela minha família para que nossos entes queridos não morram em vão.
Ele conta que a filha era alegre, sorridente e gentil e não consegue acreditar na maneira como foi morta.
— Ele estava esperando ela sair de casa, ela saiu para levar o lixo e foi assassinada. Eu ia montar os móveis dela, agora temos que desmontar tudo com toda essa dor que sentimos. Ela morreu na inocência. Não entra na minha cabeça. Ela era inocente, com um coração tão bom, e não tinha problemas com ninguém, com nada, com drogas, com bebida, nada. Minha filha era feliz, e gostava de viver — lamenta Deomar.
Para que a morte de Dhu, como era chamada por amigos e familiares, não caia no esquecimento, a família e amigos pretendem promover uma manifestação neste sábado (9) em busca de justiça. Como o autor que confessou o crime é menor de idade, os familiares cobram que as leis sejam mais rígidas:
— Temos que lutar por justiça. Se todo mundo baixar a cabeça muitas famílias vão sofrer ainda. Queremos que a polícia siga a investigação. Não faço ideia de quem fez isso, mas tenho quase certeza que alguém mandou, por ciúmes talvez, porque a história dele de desentendimento não tem cabimento. Ela era inocente, sem maldade, sempre feliz, gostava de viver. O povo tem que se unir, buscar leis mais rígidas.
O chapeador tem levado os dias tentando se fortalecer pelos netos que a filha deixou, uma menina de 10 e um adolescente de 13.
— Adolescentes são meus netos, porque criança brinca de jogar bola, de jogar vídeo game e não de dar tiro nas pessoas inocentes na rua. Eu tento me fortalecer, me apegar a Deus. Como moro perto do Parque dos Macaquinhos, vou até ali dar uma caminhada e tentar esfriar a cabeça. Teve a missa de sétimo dia, é de não acreditar. Tenho que ser forte pelos meus netos — afirma.
A luta por justiça também motiva Deomar a sair da cama e tentar preencher o vazio que ficou com a ausência da filha:
— Ele é menor de idade e daqui há pouco completa 18 anos e talvez faça outra vez. Se já não fez. Não podemos deixar assim. Só nos damos conta de algumas coisas quando acontece com a gente, quando a dor nos atinge. Não quero ver outra família sofrendo. Estamos agarrados em Deus, mas nos sentimos perdidos, um sentimento muito ruim, o que tem mais sentido é lutar por justiça.
A dor é uma companhia constante, tanto que ele pensa até mesmo em mudar de emprego, se reinventar, para amenizar o sofrimento.
— Confesso que não consigo passar pela Visconde de Pelotas, que seria o meu trajeto. Eu não consigo nem pensar em passar por ali. Vamos doar tudo o que tem no apartamento assim que conseguirmos ir ali. É uma maneira de tentar esquecer esse momento triste. Não tem cabeça que aguente. Não tenho mais ânimo nem para trabalhar e estou até pensando em mudar de ramo porque nossa vida está de ponta-cabeça — conta.