
As mulheres gaúchas contam um novo apoio para romper o ciclo de violência doméstica. A partir desta semana, as vítimas de violência podem denunciar em farmácias, de forma discreta, casos de agressões. A campanha Máscara Roxa surge diante do distanciamento social, devido à pandemia de coronavírus - muitas mulheres passaram a ficar mais tempo em casa, perto dos principais agressores, o que dificulta as denúncias à polícia. Em Caxias do Sul, 11 farmácias fazem parte da campanha.
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A iniciativa foi lançada pelo Comitê Gaúcho Impulsor Eles por Elas / He for She, ligado à ONU Mulheres, e conta com o apoio de órgãos da segurança e do Judiciário. Coordenadora-executiva do comitê, Karen Lose destaca que, apesar dos diferentes números de telefone para denunciar casos de violência contra a mulher, muitas não conseguem ficar tempo suficiente longe dos agressores neste período de pandemia — o que impede as ligações. Assim, buscou-se uma alternativa que permitisse uma denúncia silenciosa:
— Mesmo nos lugares onde a restrição está mais alta em relação ao coronavírus, farmácias continuarão abertas. Outros países adotaram estratégias parecidas, por indicação da ONU, e aqui escolhemos a máscara roxa, cor que simboliza a nossa luta. O prazo inicial da campanha é de seis meses, mas pode ser extinta antes ou até prorrogada — explica.
Agora, a mulher vítima de agressão pode procurar uma farmácia que tenha o selo "Farmácia amiga das mulheres" e pedir uma máscara roxa, como se tivesse a intenção de se proteger do coronavírus. O atendente, já treinado, dirá que o produto está em falta, mas pedirá quatro informações para avisar sobre a chegada do equipamento de proteção: nome, endereço e dois telefones.
Imediatamente, as informações serão repassadas para um número de WhatsApp disponibilizado pela Polícia Civil. Com o telefone, disponível 24 horas, é possível iniciar uma investigação em qualquer município do Estado:
— Assim é possível criar um fluxo com as farmácias, que é por onde conseguiríamos ter acesso a esses dados das vítimas pra iniciar o processo de investigação e de proteção das mulheres em situação de violência. O WhatsApp foi escolhido porque é um canal disponível para todo o Estado, silencioso. Basta que o farmacêutico digite os dados da vítima, adotando o código de "máscara roxa", que faremos todo o processo de busca ativa, independentemente do município — diz a delegada Tatiana Bastos, diretora da Divisão de Proteção e Atendimento à Mulher (Dipam).
Por enquanto, a parceria foi firmada somente com a rede Farmácias Associadas. Os selos chegaram na terça-feira (9) à central da empresa, em Porto Alegre, e deverão ser distribuídos às unidades que toparam participar a partir de sexta-feira (12). Além de Caxias do Sul, Bento Gonçalves já conta com sete lojas e há outras cinco que aderiram em Farroupilha.
Os estabelecimentos que quiserem aderir ao projeto devem contatar o comitê pelo telefone (51) 99199-3641 ou pelo e-mail comite.gaucho.elesporelas@gmail.com.
Integram a campanha Polícia Civil, Brigada Militar, Ministério Público Estadual, Tribunal de Justiça do RS, Poder Executivo do RS (por meio do Departamento de Políticas Públicas para as Mulheres), Defensoria Pública, Farmácias Associadas, ONG Themis _ Gênero, Justiça e Direitos Humanos, Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (Cladem), Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho e Agência Moove.