Dos 91 feminicídios registrados no Rio Grande do Sul no ano passado, apenas quatro mulheres possuíam medida protetiva contra o agressor. O dado consta em levantamento divulgado pela Polícia Civil gaúcha nesta quinta-feira (4) durante coletiva de imprensa sobre a Operação Marias. O mapa dos feminicídios busca traçar o perfil das vítimas e dos autores, além de características do crime, para tentar ajudar a prevenir novos delitos.
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A Serra registrou 11 feminicídios em 2019, conforme acompanhamento do Pioneiro. A cidade com mais crimes foi Caxias do Sul, com cinco vítimas (detalhes abaixo). As características destes feminicídios são semelhantes ao levantamento estadual. O estudo mostra, por exemplo, que 65 mulheres foram mortas na casa delas ou dos agressores. Ou seja, o local mais perigoso é a própria residência.
Sobre os assassinatos, 33 foram cometidos com arma branca, como facas, e 32 com armas de fogo. Mais da metade dos crimes aconteceu entre sábado e segunda-feira, período considerado mais crítico para ocorrências de violência doméstica.
Sobre o perfil das mulheres mortas, o estudo aponta que a maioria havia cursado somente o Ensino Fundamental, e que predominantemente eram brancas e jovens. Das 91 vítimas, 54% tinham até 40 anos.
Quando se analisa o perfil dos agressores, ele é semelhante: a maioria cursou até o ensino fundamental, é jovem e branco. Ainda em relação aos homens, a análise mostra que 19 deles cometeram suicídio após matarem as companheiras e 52 foram presos.
— A violência doméstica não é um caso só de polícia. É preciso identificar o contexto que envolve esses crimes. Um dos pontos que nos chamou a atenção é que a maioria não tinha curso superior (somente cinco vítimas). Precisamos começar a trabalhar com o que aconteceu no passado para evitar novos casos. Por isso, é tão importante a identificação do autor e da vítima, traçar esses perfis — avalia a chefe da Polícia Civil, delegada Nadine Anflor.
FEMINICÍDIOS NA SERRA EM 2019
Caxias do Sul: 5
Bento Gonçalves: 2
Bom Jesus: 1
Carlos Barbosa: 1
Garibaldi: 1
Guaporé: 1
EM CAXIAS DO SUL
:: Três investigados foram presos e confessaram os feminicídios
:: Um crime ainda não foi esclarecido
:: Quatro vítimas foram mortas na casa em que moravam
:: Uma mulher foi atacada quando dirigia seu carro
:: Apenas uma das vítimas possuía medida protetiva contra o assassino
:: O duplo feminicídio aconteceu no sábado. Segunda, quinta e sexta-feira também registraram mortes.
:: Dois ataques à noite e outros dois na madrugada. Um feminicídio aconteceu à tarde.
:: Três vítimas tinham entre 20 e 25 anos. Uma mulher tinha 42 anos. A vítima de 81 anos foi atacada junto com a neta.
:: Três mulheres foram mortas a tiros, uma foi asfixiada e outra foi atacada com ácido.
Relembre os casos:
:: Ana da Silva Correa, 81 anos
:: Tailine Correa, 22 anos
O ex-namorado de Tailine atirou contra jovem, a filha dela, de quatro anos, e a avó dela. O crime aconteceu dentro da casa que o casal morava no bairro Mariani. A única sobrevivente do ataque foi a criança. Rafael Souza dos Santos foi preso.
:: Ariana Victoria Godoy Figuera, 24 anos
A venezuelana foi atacada com ácido quando chegava em casa no bairro Desvio Rizzo. O ex-companheiro Deivis Lobato Braga, 36, foi preso em flagrante e confessou ter jogado o produto na vítima.
:: Ereni dos Santos, 42 anos
Estava em seu carro quando foi morta a tiros no bairro Desvio Rizzo, logo após participar de uma audiência de conciliação, para acertar a divisão de bens, com o ex-marido. José Waldemar Engelmam confessou o crime e foi preso preventivamente.
:: Nayara Medeiros de Mello, 20 anos
A jovem morava em Santa Maria e estava hospedada em uma casa há duas quadras da rodoviária. Ela recebeu a visita de um homem e foram para o quarto. Uma hora depois, este homem saiu do cômodo e atacou as outras três mulheres que moravam na casa, que conseguiram se desvencilhar e gritar por socorro. Nayara foi encontrada morta asfixiada. O assassino fugiu e a Polícia Civil ainda não esclareceu o caso.