A maior chacina da história da Serra trouxe um novo nome para as disputas de facções na região, de acordo com investigações da polícia. Este grupo é formado pelos "traficantes resistentes" de Bento Gonçalves, que não querem ceder para a invasão de criminosos da Região Metropolitana, que estariam na região desde 2016. No mundo do crime, eles utilizam o mesmo nome da segunda organização criminosa mais antiga em atividade no Rio Grande do Sul.
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A origem desta facção remonta à segunda metade da década de 1990, no Presídio Central de Porto Alegre, a maior prisão gaúcha. Na época, haviam dois grupos criminosos distintos. O primeiro, que tem seu nome ainda espalhado em pichações das periferias gaúchas, almejava o monopólio da criminalidade organizada e tinha como ideologia a não colaboração com qualquer atividade de iniciativa da administração prisional e a defesa do crime como forma de vida. O outro grupo era quase uma antítese : sempre dispostos a colaborar com a administração, engajavam-se em movimentos com vistas a melhorias no presídio, procuravam trabalhar e estudar, mas sem abrir mão do crime.
Mas houve presos que não aceitaram ficar na sombra dos líderes destas duas organizações e decidiram, segundo uma gíria muito utilizada por eles, "se abrir". Eles, então, procuravam se isolar em outras galerias e acabaram formando um comando aberto: era uma espécie de livre iniciativa e concorrência, com cada preso mantendo seus próprios negócios dentro da galeria, com independência em relação à facção.
Com o passar dos anos e a polarização do tráfico em nome de duas facções, que elevaram o número de assassinatos em Caxias do Sul desde 2016, a união entre os resistentes é uma questão de sobrevivência. Em Bento Gonçalves, a utilização de um nome para identificar e unir os traficantes surgiu a partir do final de 2017, em meio ao pico de execuções que elevou a taxa de homicídios na Capital do Vinho.
O ataque ao Bar dos Amigos seria mais uma reação desses traficantes locais contra a invasão daqueles da Região Metropolitana de Porto Alegre. Essa é a primeira vez que, oficialmente, a Polícia Civil cita os resistentes unidos como uma organização criminosa. A liderança desse grupo já estaria recolhida ao sistema penitenciário, mas continuaria em atuação.
Apesar de seguir em atividade, essa facção aberta está enfraquecida em Porto Alegre. Ainda assim, mantém o domínio em pelo menos uma galeria do Presídio Central. Nas ruas, ainda mantém algumas bases na zona norte de Porto Alegre.