Os picos de homicídios em Caxias do Sul coincidem com as transferências (ou rumores de novas movimentações) de líderes de duas facções – ambas com relações estreitas com grupos homônimos da Região Metropolitana de Porto Alegre.
Os objetivos são as disputas por território para traficar drogas. São estes pontos de venda que são atacados e resultam em chacinas – como a ocorrida na noite de quinta-feira. É sobre estes líderes que as forças policiais pretendem contra-atacar.
O enfrentamento ao crime organizado já havia sido alvo de uma reunião no Ministério Público (MP) no dia 25 de julho. Na ocasião, os principais representantes da segurança pública caxiense traçaram duas prioridades: conseguir a transferência dos líderes das duas facções que disputam o controle territorial da venda de drogas nos bairros e a instalação de bloqueadores de sinal de celular para a Penitenciária Estadual do Apanhador, onde ambas organizações criminosas têm suas bases de comando.
Leia mais:
Polícia Civil investiga relação entre triplo homicídio do Primeiro de Maio e chacina do Planalto em Caxias
Após ataques em Caxias, BM terá reforço para operação contra homicídios
Identificados os mortos em ataques ocorridos nesta quinta-feira em Caxias do Sul
Quatro são assassinados em chacina no bairro Planalto, em Caxias do Sul
Homem é morto a tiros no bairro Panazzolo, em Caxias
Homem é assassinado no bairro Castelo, em Caxias
– O maior problema são as facções, com seus líderes comandando as organizações diretamente do Apanhador por meio de conversas telefônicas. Toda a Rota do Sol (RSC-453) até lá não tem sinal de celular, mas quando chegamos lá no presídio, o sinal funciona. É uma situação bem atípica – aponta a promotora Letícia Viterbo Ilges que, com o apoio de informações policiais, tem a responsabilidade de justificar a necessidade das transferências das lideranças criminosas para fora de Caxias do Sul – preferencialmente para presídios federais.
As mortes de seis pessoas em menos de 30 minutos na quinta-feira, contudo, alertou as forças policiais da necessidade de um contra-ataque imediato. A preocupação principal foi a simultaneidade dos ataques em três bairros diferentes – que remetem a uma organização nunca vista antes no município.
Reforço do BOE
A primeira resposta veio com a Brigada Militar (BM) ainda na sexta-feira, com a chegada de dezenas de agentes do Batalhão de Operações Especiais (BOE) de Porto Alegre.
– Se eu quero matar alguém, preciso ir até o bairro dele. Se saturarmos este bairro, poderemos evitar o homicídio. Principalmente nestas mortes ligadas ao tráfico,
vemos uma direção. Este grupamento veio para ser direcionado especificamente para saturar estes bairros deflagrados – aponta o major Emerson Ubirajara, subcomandante do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM).
– A atuação das patrulhas nestes bairros, principalmente no Primeiro de Maio e Planalto, será muito mais preventiva, em favor destas comunidades, do que repressivas. Estarão lá para prevenir novas execuções e farão abordagens para identificar foragidos e retirar armas que podem estar circulando. Atuaremos no meio destas duas facções em atritos – complementa o tenente-coronel Jorge Emerson Ribas, comandante do 12º BPM.
Neste sentido, o comando da BM ressalta a importância do apoio das comunidades, por meio de informações, para o sucesso do trabalho dos órgãos de segurança. Um levantamento do Comando Regional de Policiamento Ostensivo (CRPO) da Serra aponta que 62% das vítimas de assassinato na cidade têm envolvimento com drogas, sejam como usuários ou traficantes.
AS MORTES
19h37min – Uma motocicleta se aproxima de uma lavagem de veículos na Rua Santo Ceroni, no bairro Panazzolo, onde ocorria uma festa. O caroneiro desembarca e atira mais de uma vez. A vítima cai e os criminosos fogem, mas logo retornam e atiram novamente contra o alvo. Maicon Ricardo Bordin, 40 anos, foi atingido por oito disparos e morreu no local. Uma segunda vítima, um homem de 47 anos, foi ferida, mas não corre risco de morte.
19h44min – Luis Eduardo Biegelmeyer dos Santos, 34 anos, é morto a tiros dentro de um bar na Rua Governador Euclides Triches, no bairro Castelo. Testemunhas relatam que a execução foi praticada por dois homens em uma motocicleta.
20h04min – Quatro pessoas são mortas a tiros em uma viela conhecida como Esperança, junto à Rua Natal Idalino Fadanelli. Na chacina morreram José William Oliveira Machado, 23 anos, Tatiane Vidal dos Santos, 19 anos, Emerson Luiz da Cruz Ferreira, 39 anos, e Cassia Valadão dos Santos, 21 anos. A suspeita é que os atiradores tenham fugido em um carro, no entanto, não foram encontradas testemunhas do crime. Conforme a polícia, o beco é conhecido pela venda de drogas.