Tendo como origem o programa Inverno Gaúcho com Saúde, que combatia doenças respiratórias com atendimento noturno à população nos meses frios, a implantação do horário estendido em cinco unidades básicas de saúde (UBSs) em Caxias do Sul completa uma década com a aprovação da comunidade. O projeto, batizado de Saúde do Trabalhador, já que permite o acesso a consultas e outros procedimentos após o turno de trabalho de boa parte das pessoas, começou a funcionar efetivamente em setembro de 2008 nas UBS dos bairros Reolon, Esplanada, Vila Ipê, Desvio Rizzo e Diamantino. Ao contrário dos demais postinhos, esses estabelecimentos permanecem abertos até as 21h, com oferta de médicos, dentista e serviços de enfermagem, entre outros.
Ainda que o crônico problema de falta de médicos interfira na oferta do atendimento, o programa acabou fortalecido recentemente com o deslocamento de médicos que atuavam no Pronto-Atendimento 24 Horas. Conforme a Secretaria Municipal de Saúde, das 95 matrículas de médicos ativos no Postão, 59 foram transferidas para uma das 48 UBSs. As cinco com atendimento estendido, por sua vez, receberam o maior reforço em número de médicos e/ou horas médicas (veja quadro).
Presidentes de bairros avaliam positivamente o projeto, mas observam que, em períodos como janeiro e fevereiro em que muitos profissionais saem de férias, o índice de falta de médicos cresce.
— Os médicos da noite fazem muita diferença. Eu mesmo uso bastante. Mas semana passada, acumularam várias consultas quando procurei a UBS porque estamos só com um dos três médicos que atendiam. No geral, para o pessoal que trabalha de dia, é excelente encontrar o médico. Faz a diferença na nossa vida. Para ficar melhor, a prefeitura teria de colocar mais médicos — opina a presidente do bairro Vila Ipê, Zita Girardi.
— Com o quadro completo de médicos, é um projeto muito importante. Tem muita gente que não consegue ir até a UBS em horário normal. Mas o que vemos, muitas vezes, é que a equipe não é completa e é um problema que atinge as UBSs como um todo, não só as que estão em horário estendido_ opina a presidente do Conselho Municipal de Saúde, Fernanda Borckhardt.
O agendamento noturno varia conforme a unidade: algumas fazem apenas presencialmente, outras também por telefone, caso da UBS Reolon, por exemplo. Nas cinco unidades que há horário estendido, a procura ficou ainda mais intensa após o fechamento do Postão. A estimativa da secretaria é de aumento em 25%. No entanto, na UBS do bairro Esplanada, o aumento se aproxima de 40%.
Está em análise na Secretaria Municipal de Saúde um projeto que pode estender o projeto para outras UBSs. A ideia ainda ganha forma, segundo a diretora da Atenção Básica, Maria Elenir Anselmo.
"Eles se sentem valorizados"
Entre os profissionais que atendem nas UBSs, o programa também é elogiado. Gerente da UBS Reolon, a enfermeira Eliane Cogo diz que a equipe de profissionais percebe uma mudança entre os pacientes do dia e da noite.
— São pacientes que estão muito mais tranquilos, porque não há a pressão do horário de trabalho. Eles nos demonstram gratidão pelo atendimento que prestamos, se sentem valorizados — elogia.
Conforme Eliane, o posto procura oferecer, dentro do número de profissionais disponíveis, os mesmos serviços ofertados durante o dia: médico, dentista, exames preventivos de câncer de colo de útero, testes rápidos e curativos, entre outros.
Além de clínico e pediatra, por exemplo, a UBS conta com ginecologista.
— É uma vantagem para a mulher que trabalha de dia e não tem condições de ir ao médico com o marido. Assim, dá para trabalhar a questão do planejamento familiar e também fazer as consultas das gestantes — destaca a enfermeira. Por conta da oferta de profissionais ser escassa, por vezes, os atendimentos precisam ser escalonado em função de férias e licenças médicas.
— A gente se vira nos 30, como dizem. A gente abre a agenda na segunda-feira e vai preenchendo. Tem semanas que consegue até para o mesmo dia, em outras é um pouco mais demorado pois dependemos de ter profissional disponível. Mas a ideia é garantir o acesso para o trabalhador, facilitar a vida da pessoa que precisa desse horário. E nesse tempo, felizmente, temos conseguido alcançar esse objetivo.
Por enquanto, conforme ela, a UBS só não consegue ofertar vacinas durante a noite em razão da falta de pessoal.
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