No mês de maio, das 8.290 consultas marcadas no Centro Especializado de Saúde (CES) de Caxias do Sul, 1.405 não foram realizadas porque os pacientes não compareceram. Ou seja, cerca de 17% dos usuários que haviam agendado atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) faltaram. Conforme a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), o percentual de faltas, historicamente, mantêm-se em torno dos 15%.
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Faltar a uma consulta parece um contrassenso em virtude da conhecida dificuldade de conseguir horário com um médico especialista ou mesmo com o clínico geral em unidades básicas de saúde (UBSs) do município. Um levantamento realizado em abril já mostrava que mais de 23 mil pessoas aguardavam por atendimentos com especialistas na cidade e um déficit de 3,6 mil consultas por semana na rede básica.
O próprio tamanho da fila, porém, é motivador das ausências dos pacientes: a especialidade em que os usuários mais faltam, por exemplo, via de regra é a dermatologia, com mais de 20% de ausências: pelo menos um em cada cinco pacientes não comparecem aos agendamentos.
Ao mesmo tempo, a demora para consultar com um dermatologista em Caxias pode chegar a 606 dias, mais de um ano e sete meses. É a fila mais longa entre as especialidades no SUS. Conforme a diretoria do CES, o número de médicos é reduzido, e como o atendimento na modalidade costuma ser procurado por razões estéticas ou doenças de pouca gravidade, o paciente acaba resolvendo o problema na rede privada.
O mesmo não acontece em especialidades que preveem acompanhamento constante. Mesmo que demore até 375 dias para conseguir consulta com um cardiologista, por exemplo, o índice de faltas fica em pouco mais de 10%. Isso ocorre, segundo a diretoria do CES, porque as doenças cardiovasculares costumam a ser crônicas e o usuário precisa retirar os medicamentos pelo SUS, o que faz com que esteja sempre atento ao tratamento.
De qualquer forma, se for faltar à consulta, a recomendação da prefeitura é uma só: avisar com antecedência. Caso o paciente não compareça e não avise, o horário da consulta fica vago e só resta ao médico aguardar pelo próximo paciente. Se o usuário comunicar o CES ou a UBS onde marcou a consulta com pelo menos 72 horas de antecedência, por outro lado, há tempo hábil para que outra pessoa seja avisada e ocupe o horário vago.
O paciente que não comparece a um agendamento sem avisar também não pode marcar nova consulta diretamente com o especialista: ao invés de poder agendar um retorno em até 90 dias, como de praxe, tem de percorrer todo o caminho desde a UBS outra vez para um novo atendimento.
11% faltam em exames
Em 2017, dos 189.610 exames agendados no SUS em Caxias, 20.351 deixaram de ser realizados porque os pacientes não compareceram. Ou seja, 10,7% dos usuários se ausentaram em agendamentos na Central de Exames e nos prestadores de serviços que realizam os procedimentos. Conforme a prefeitura de Caxias, os serviços terceirizados não cobram pelos exames não realizados, mas o horário deixa de servir para outros pacientes. Além das faltas, 25% dos usuários não retiraram o resultado de exames realizados na Central de Exames.
NA SERRA
:: As faltas em consultas pelo SUS não são exclusividade de Caxias do Sul. Um levantamento mostra que a situação é semelhante nos principais municípios da Serra.
:: Em Bento Gonçalves, por exemplo, as ausências em agendamento com especialistas costumam ficar em torno dos 17%. A maioria das ausências ocorre em consultas com nutricionista, ginecologista, e fonoaudiólogo.
:: Já em Farroupilha, na rede básica, em 2018 as faltas variam entre 9%, nas consultas com clínicos gerais, até mais de 18% para ginecologista, pediatra e obstetra. Nas outras especialidades oferecidas no município, as faltas não chegam a 10%, em média, mas alcançam 16% na dermatologia e 18% em consultas com ginecologistas no CES do município.
:: A prefeitura de Garibaldi divulgou que, em maio, nas cerca 2,6 mil consultas oferecidas pelo município, 400 pacientes não comparecem, chegando a 15% de ausências nos atendimentos agendados.