Agravou-se mais ainda a tensão política pela qual passa o país nos últimos dias com a caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no sul do Brasil.
No Rio Grande do Sul, manifestantes jogaram ovos e pedras contra Lula e seus apoiadores e houve até cena de petista apanhando de relho em Santa Maria. No Paraná, um dos ônibus do comboio foi alvejado por quatro tiros no trajeto entre Quedas do Iguaçu, no oeste do Estado, para Laranjeiras do Sul, na região central. O veículo transportava jornalistas que cobriam a caravana.
A violência das manifestações é lamentada por especialistas consultados pelo Pioneiro e representam, segundo eles, um risco à democracia. Para o professor da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e doutor em História do Brasil Roberto Radunz, esse comportamento precisa ser pensado em um contexto mais amplo, de um refluxo conservador observado no país nos últimos anos.
— Aliás, não só no Brasil essa onda conservadora está presente. Se olharmos, por exemplo, as eleições nos EUA e em alguns países da Europa, a tendência conservadora e, por vezes, até de extrema direita, manifesta esse mal- estar do tempo presente. A violência começa onde a capacidade de argumentação finda — acrescenta.
Ele lembra que o comportamento violento sempre existiu. Um exemplo clássico é a violência praticada pela sociedade nazista contra aqueles considerados inimigos do partido. O que aparece como novidade, segundo o professor, é o ódio político acompanhado por uma enorme ignorância.
Mestre em Ciências Sociais e especialista em sociologia urbana, o professor da FSG Adão Clóvis Martins dos Santos concorda que sempre houve violência na política. O novo agora, conforme ele, é o "total esgarçamento da sociedade". Para Santos, parte da insegurança jurídica vivida atualmente é promovida, de certa forma, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), quando permite, por exemplo, a prisão em segunda instância.
— O STF, ao romper as regras constitucionais, rompe um dique que represa as águas. Não existem mais margens. Ao atender a supostas demandas da população, os ministros aceitaram romper o dique — avalia.
Radunz completa que a parcialidade de setores da Justiça e a falta de seriedade política acabam maculando a democracia:
— A democracia pressupõe ouvir o outro, o que não se percebe nas manifestações que demonizam o adversário agredindo com pedras e relhos. É maniqueísmo puro.
Acirramento e consequências
Com as eleições deste ano, a tendência é de um acirramento da tensão política. E diante de tamanha insegurança jurídica, segundo o professor Adão Clóvis Martins dos Santos, não se pode descartar até mesmo o cancelamento da eleição neste ano, na sua opinião.
— Existe uma tentativa de retornar à Constituição, mas não sei se não vai causar mais violência [...] A insegurança jurídica é tão grande que a eleição não está assegurada. Protelar é bem plausível. A partir do momento que você fragiliza, não há segurança de que as eleições vão ocorrer.
Um elemento novo da atualidade é a possibilidade de difusão de ideias pelas redes sociais. No entanto, nem sempre elas são utilizadas de forma adequada. Conforme o professor Roberto Radunz, a violência presente no ódio político acaba encontrando formas de expressão sem nenhuma necessidade de se checar as informações.
— Qualquer um posta, qualquer um compartilha, inclusive a ignorância.
Segurança nas eleições
Conforme a assessoria de imprensa do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), o planejamento sobre a segurança do pleito é realizada nos municípios, normalmente orientado pelo próprio juiz da Zona Eleitoral.