Se há dificuldades para preservar prédios tombados em Caxias, há estruturas que não sobreviveram nem ao processo de análise sobre um possível valor histórico. É o caso do complexo da antiga Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa), às margens da RSC-453.
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Desde que veio a público que a área foi comprada pela empresa Havan para a instalação de uma megaloja em parceria com a Stock Center, pertencente à Comercial Zaffari, um grupo de arquitetos e pesquisadores tentou reunir informações para alertar a cidade sobre a importância histórica da edificação. A arquiteta Taísa Festugato escreveu que a estrutura da Cesa "foi a primeira edificação deste porte no Distrito Industrial, para onde se expandiram as industrias de acordo com o plano diretor da cidade".
O Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural (Compahc) emitiu parecer sobre a edificação em 28 de março. No dia seguinte, parte da estrutura já havia virado escombros. Na mesma data, o Ministério Público havia solicitado esclarecimentos sobre a demolição ao município e, até a última sexta-feira (6), não obteve retorno, conforme a promotora Janaina de Carli.
O parecer do Compahc diz que, embora a estrutura não tenha mais de 50 anos nem se enquadre em outros critérios legais que demandem aprovação da entidade para modificações, apresenta valor histórico e arquitetônico. Para o conselho, a conservação das edificações, mesmo que parcial, "seria uma ação respeitável à sociedade caxiense e à sua história".
A entidade também recomendou que os proprietários da área tivessem a "sensibilidade de tratar as edificações existentes como de relevância arquitetônica e histórica, e garantir, de alguma forma, a memória do funcionamento da Cesa e/ou o aspecto plástico-formal dos volumes e abóbadas".
Prefeitura diz que demolição passou por procedimento padrão
O Pioneiro perguntou à Comercial Zaffari, responsável pela área, se o ofício do Compahc foi recebido e se a recomendação da entidade seria seguida. A gerente de marketing da empresa, Mônica Cristina Schmitz, limitou-se a responder que não havia "informações ainda para fornecer".
A secretária municipal do Urbanismo, Mirangela Rossi, disse que o alvará de demolição foi emitido há cerca de um mês e que, na época, os proprietários já começaram a remover as estruturas internas e preparar a área para o desmanche.
— Tudo passou pelo procedimento normal. Ele não é um prédio tombado, não está gravado no Plano Diretor, não está inventariado e não pertencia ao município. Pertencia ao Estado e foi a leilão. Foi feita a solicitação do pedido de demolição, foi encaminhado à Divisão de Proteção ao Patrimônio Histórico e Cultural (Dippahc), que avalia o regramento, e autorizado — explica.
Para a presidente do Compahc, Maristela Guareschi, o parecer do Compahc foi um último apelo para que os responsáveis pela área considerassem o valor das edificações existentes. Para ela, porém, a ação dos órgãos de proteção ao patrimônio nunca será suficiente enquanto a preservação dos bens históricos não for um objetivo da sociedade.
— Se vivêssemos num meio de maior educação patrimonial, nem se cogitaria a demolição, e sim a revitalização do espaço com adaptações. É desanimador o fato de a rigidez do tombamento ser a única forma de garantir a preservação da nossa história. O processo de renovação urbana tem muitos agentes envolvidos. Com empresas e profissionais de arquitetura e construção civil comprometidos com as questões de preservação, não restaria ao Compahc e ao Dippahc esta posição ingrata de policiar — pondera.