Pela 10ª vez nos últimos 12 anos, Caxias do Sul ultrapassou a triste marca de 100 assassinatos. A estatística foi alcançada em um dos finais de semana mais violentos de 2017 – foram cinco assassinatos em menos de 48 horas. O número foi elevado na tarde de segunda-feira, com a morte de Isabella Theodoro Martins, de apenas oito meses.
Com relação aos 103 assassinatos, as autoridades policiais repetem que a maioria dos crimes é motivada pela disputa de territórios para o tráfico de drogas. A violência deste ano pode ser divida em três momentos.
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Janeiro e fevereiro mantiveram a sequência de 2016 – ano mais violento da história de Caxias, com 150 crimes contra a vida – e registraram 26 assassinatos. Em março, a criminalidade recuou diante da Operação Fratelli, da Polícia Civil, que identificou uma facção que dominava o tráfico de drogas em diversos bairros da cidade. Vinte e nove pessoas foram indiciadas por organização criminosa, sendo que 13 líderes foram transferidos para presídios de outras regiões. Diante do cerco ao grupo criminoso, 14 crimes contra a vida foram registrados na cidade entre março e maio. Os números remetiam à violência do início dos anos 2000, quando a média era de cinco assassinatos por mês.
Em junho, contudo, a chegada de uma segunda facção à cidade retomou os índices de violência e tornou os crimes ainda mais bárbaros. Apesar dos membros deste novo grupo criminoso serem da Serra, o nome utilizado é o de um conhecido grupo da Região Metropolitana. O armamento que possuem (vídeos nas redes sociais apresentam duas submetralhadoras) e a estratégia agressiva de ataque levam a crer que o grupo serrano seja uma ramificação do bando de Porto Alegre.
O foco dos bandidos, por enquanto, está no domínio do tráfico da Zona Norte. A ordem é que não podem ser vendidas drogas de outros fornecedores. Em vez de uma guerra declarada entre os líderes, os criminosos atacam os pontos de venda – geralmente casas abandonadas em que usuários em dívida com o traficante ficam responsáveis –, matam quem estiver lá, incluindo consumidores, e ateiam fogo para extinguir o local de venda.
Este é o cenário que explica a chacina de quatro pessoas, incluindo uma mulher e dois adolescentes, e outras seis ocorrências que tiveram duas ou mais vítimas neste ano, sendo cinco delas na Zona Norte. Entre os 15 bairros com mais mortes, seis estão na Zona Norte: Pioneiro, Fátima, Belo Horizonte, Santa Fé, Portal da Maestra e Cânyon.