Se há uma pedra no sapato dos órgãos de segurança pública de Caxias do Sul neste ano, essa pedra é o roubo a transporte coletivo urbano. Até o início desta semana, já foram registrados 273 ataques a ônibus. A quantidade de crimes é 69% maior do que no mesmo período do ano passado — quando ocorreram 161 assaltos. Há ainda um agravante: se antes os ladrões tinha interesse apenas no conteúdo do caixa do coletivo, agora eles também estão mirando os celulares e o dinheiro dos passageiros.
Leia mais
Primeiro quadrimestre de 2017 registra o maior número de roubos a ônibus em Caxias do Sul desde 1999
Operadores de ônibus de Caxias do Sul já consideram roubos como parte da profissão
"Como que não vou andar com ônibus do meu bairro?", questiona passageira em Caxias do Sul
Diante deste cenário, o 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM) traçou uma nova estratégia e brigadianos começaram a andar nas principais linhas que são alvos de bandidos. Quatro policiais militares, escolhidos da nova turma de soldados que chegou a Caxias do Sul em agosto, atuarão dentro dos ônibus para dialogar com operadores e passageiros. A missão deles é colher informações e passar segurança à comunidade. Esses PMs terão apoio das equipes da Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas (Rocam) da Companhia de Operações Especiais (COE). Eles farão o acompanhamento da linha e o reconhecimento de suspeitos no bairro. Em caso de ocorrência ou identificação de algum criminoso, as equipes da Rocam darão suporte aos PMs que estão nos coletivos.
A Patrulha do Transporte Coletivo, que foi reativada em maio para conter o alto índice de roubos, seguirá atuando. A atuação da patrulha, segundo o 12º BPM, diminuiu o número de crimes em quase 20% e resultou em diversas prisões, porém não foi suficiente para estancar a onda de assaltos. A preocupação da BM cresceu diante dos relatos de ataques a passageiros.
— Diante do pouco dinheiro dos ônibus, os ladrões começaram a querer o dinheiro e celulares dos passageiros. Está aumentando o risco. Não podemos permitir que estes ataques ao patrimônio virem um crime contra vida — afirma o major Jorge Emerson Ribas, comandante do 12º BPM.
A nova estratégia estreou pelos ônibus das linhas dos bairros Santa Fé, Cânyon, Vila Ipê e Pioneiro. O capitão Diego Soccol, que lidera a contraofensiva, ressalta que os policiais irão trocar de linhas conforme orientação do setor de inteligência, pois os assaltos ocorrem em todas as regiões e horários.
"Cada parada olhamos e pensamos no pior"
A quantidade de roubos a ônibus assusta a comunidade desde o início do ano. O combate é considerado complicado devido à pulverização dos locais de crimes — a Zona Norte é a que mais contabiliza assaltos no ano, porém, dos 17 crimes registrados entre os dias 6 e 11 de outubro, apenas um aconteceu naquela região. Os relatos também apontam para autores diferentes e sem qualquer ligação entre si. A maioria seria usuários de drogas.
Com 13 anos de empresa, o motorista Antônio Claudecir Gomes Ribeiro afirma que nunca houve um momento tão inseguro. No final de setembro, Ribeiro foi assaltado duas vezes antes das 7h30min. O primeiro roubo ocorreu em uma quinta-feira e o segundo no sábado. A suspeita é que o autor tenha sido o mesmo.
— Eram dois homens, um me colocou a faca na costela e outro foi até a cobradora. A gente nunca sabe. Cada parada olhamos e pensamos no pior. Desculpa quem não tem nada ver, mas tem horas que a gente não para quando não reconhece — desabafa o motorista, que atua na linha Belo Horizonte há mais de oito anos.
A presença dos policiais militares foi bem recebida pelos operadores. Eles entendem que não dá para ter PMs em todos ônibus, mas acreditam que a estratégia irá tirar os bandidos da zona de conforto.
— Eles vendo que tem policial andando de ônibus vão pensar duas vezes, né? Um conta para o outro e a informação espalha. Estávamos precisando — exalta a cobradora Josiane Charles Teixeira.