
O Sistema Integrado de Mobilidade (SIM Caxias) completou um mês de operação e ainda requer ajustes para desafogar o trânsito na área central e facilitar a vida de quem depende do transporte coletivo. À reportagem, passageiros revelaram descontentamento com a baixa frequência de ônibus nos bairros, com os coletivos lotados em horários de pico e um maior tempo de viagem (ver quadro abaixo).
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O secretário de Trânsito, Transportes e Mobilidade, Manoel Marrachinho, diz que as reclamações são pontuais e os problemas estão sendo resolvidos.A prefeitura também precisará contentar condutores de veículos privados.
Na segunda-feira, um abaixo-assinado foi encaminhado ao prefeito Alceu Barbosa Velho com reclamações e sugestões referentes à proibição das conversões à direita e à exclusividade dos corredores duplos para ônibus nas ruas Pinheiro Machado e Sinimbu. O documento também aponta a sobrecarga do trânsito na Avenida Júlio de Castilhos, que passou a receber mais motoristas que precisam acessar as ruas transversais da Pinheiro e da Sinimbu.
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O tráfego pesado afetaria especialmente as imediações do Hospital Pompéia, onde o acesso precisa ser facilitado para ambulâncias. Conforme o médico André Leite, organizador do abaixo-assinado, a reclamação é endossada por cerca de 1,6 mil pessoas.
Por outro lado, taxistas estão contentes com a permissão para circular no segundo corredor segundo o presidente do Sindicato, Adail Bernardo da Silva, mas ainda reivindicam ajustes.
– Nas ruas Sinimbu e Pinheiro os táxis não tem onde parar para realizar o embarque e desembarque de passageiros. O ideal seria a criação de recuos a cada duas quadras, o que já foi considerado inviável pela prefeitura – detalhe Silva.Segundo Marinez Pegoraro, presidente da Associação dos Usuários de Transporte de Passageiros (Assutran), passageiros já estariam mais adaptados e vendo o sistema com outros olhos, até mesmo pela economia.
– Ainda temos algumas reclamações de demora para embarcar da estação para o bairro, e de maior tempo de viagem do bairro até a EPI, não sabemos o porquê desses problemas, mas estamos cobrando atitudes tanto junto à Secretaria quanto com a Visate. Esperamos que possa melhorar de forma definitiva – afirma a mulher.
Embora muitos usuários de ônibus questionem os benefícios do SIM, a avaliação do secretário é de que a maioria dos 80 mil passageiros diários do transporte coletivo aprovaram a mudança.
– Temos que trabalhar com indicadores, e eles apontam que o transporte coletivo está melhor. Todos os bairros que entraram no sistema tem maior número de horários disponíveis e troncais a cada 4 ou 6 minutos. Para alguém que se adaptou a sair e chegar em determinado horário e essa rotina mudou, pode ter ficado pior. Mas para a maioria ficou melhor – defende Marrachinho.
O QUE DIZEM OS PASSAGEIROS
Alguns passageiros do transporte coletivo foram ouvidos no final da tarde de segunda-feira na Estação Principal de Integração (EPI) Imigrante e comentaram o que acham sobre o novo sistema de funcionamento do transporte coletivo.
– Trabalho na Rua Vereador Mário Pezzi e pego o Troncal sempre lotado. Também é complicado pegar ônibus do Centro para a estação. Antes, no fim da tarde, eu chegava às 18h10min em casa e agora nunca chego antes de 18h35. Além disso, o ônibus do bairro Vitória demora para chegar na estação e algumas vezes vem tão lotado que preciso esperar pelo próximo. Meu filho Thiago tem 12 anos e antes voltava sozinho da escola e ia direto para casa. Agora, preciso buscar porque não acho mais seguro. Na minha opinião só tiraram a confusão do Centro e trouxeram para as estações. Márcia Heloisa da Silva, 46 anos, carteira.
– Estamos com muitos problemas nos ônibus da Linha De Zorzi/Campos da Serra. Pegamos a linha A, que vai direto para o bairro, mas no fim da tarde ela sai da EPI tão lotada que preciso esperar mais até vir um ônibus que dê para embarcar. Uso o transporte coletivo todos os dias para levar minha filha para a escola, que fica ao lado da Rodoviária e piorou muito a qualidade depois que começou a vir para a estação. Tem muito mais gente dentro do ônibus, às 6h vem todo mundo espremido do bairro até a EPI, tem dias que ficamos esperando uma hora por um ônibus no bairro quando a promessa é de um ônibus a cada 9 minutos, ou 13 minutos nos horários de pico, mas isso não está acontecendo. Fim de semana é pior ainda. Acho que deveriam separar a linha do De Zorzi e do Campos da Serra, como era anteriormente. São 10 prédios no Campos da Serra com 180 famílias em cada um. Para piorar, tiraram os articulados e colocaram ônibus menores. Está muito complicado. Sabrina Cardoso, 33, dona de casa.
– Antes do SIM tinha ônibus articulados no bairro, agora são ônibus menores e estão sempre lotados. Ficou muito ruim, principalmente porque agora é inverno e tem que ficar mais tempo esperando aqui nesse terminal gelado, demora mais pra chegar em casa. Moro no DeZorzi, e ônibus demora muito no bairro. No sábado é pior ainda, mas eu trabalho no sábado também, como eu faço? Preferia pagar duas passagens e ter ônibus com mais frequência e que dê para entrar. Maria Borma, 53, doméstica.
– Achei a estação pequena para toda essa gente, além de mal organizada. As pessoas não esperam quem está dentro do ônibus descer para depois embarcar. Quando o ônibus chega todo mundo corre, qualquer dia vão pisotear alguém. Moro no Loteamento Ouro Verde e na semana passada fiquei uma hora na parada do bairro esperando passar um ônibus. Achamos que iria melhorar mas não foi o que aconteceu, antes a gente sabia o horário que o ônibus ia passar. Dayene Pechi, 18, manicure.
– Antes saía de casa e em 15 minutos estava no trabalho. Agora não demoro menos de 30 minutos. Para ir da estação para o bairro demora mais ainda porque o ônibus faz todo o retorno. Para mim ficou pior. José Neto, 32, metalúrgico.
– O ônibus do bairro Bela Vista sai sempre lotado da estação às 7h. Já o das 6h40min está sempre vazio. Gostei das estações. A do Floresta é maior e mais organizada, mas acho que deveriam ajustar os horários da manhã e de saída do trabalho. No fim da tarde é o horário que está todo mundo cansado e querendo ir para casa. A frequência também não está como prometido, era para ser a cada 20 minutos, mas não está acontecendo. Marcelo Meira, 40, motorista.
– Achei a estação pequena para toda essa gente, além de mal organizada. As pessoas não esperam quem está dentro do ônibus descer para depois embarcar, quando o ônibus chega todo mundo corre, qualquer dia vão pisotear alguém. Moro no Loteamento Ouro Verde e na semana passada fiquei uma hora na parada do bairro esperando passar um ônibus. Achamos que iria melhorar mas não foi o que aconteceu, antes a gente sabia o horário que o ônibus ia passar. Dayene Pechi, 18, manicure.
PROBLEMAS X SOLUÇÕES
Flexibilização do corredor duplo
Na Rua Sinimbu, que tem um segundo corredor de ônibus contínuo, as duas pistas reservadas para carros e caminhões estão quase sempre congestionadas no horário de pico enquanto o corredor de ônibus está completamente livre. Na Pinheiro Machado, o problema estaria relacionado a variedade de pistas que confunde os motoristas – há trechos com três pistas, onde o corredor é compartilhado entre os ônibus e veículos privados, e trechos com quatro pistas, onde o corredor de ônibus é duplo. Esta é a principal reclamação dos condutores de veículos privados. Conforme o secretário de Trânsito, Manoel Marrachinho, foi definido ontem que o segundo corredor da Sinimbu será flexibilizado a partir do dia 6 de junho, permitindo a circulação de veículos particulares em alguns horários do dia. Os intervalos de tempo serão definidos até sexta-feira.
Congestionamento na Avenida Júlio de Castilhos
Com a proibição das conversões à direita nas Ruas Sinimbu e Pinheiro Machado, muita gente questiona o aumento do movimento na Avenida Júlio de Castilhos, via sugerida pela prefeitura para facilitar o acesso a ruas transversais. Esse excesso de carros numa via estreita prejudicaria o acesso de ambulâncias ao Hospital Pompéia, questão levantada no abaixo-assinado entregue ao prefeito e ao secretário de Trânsito na segunda-feira. Marrachinho admite que o problema na avenida é antigo, mas sem relação com o SIM Caxias. – O problema naquela região é histórico e estamos monitorando, se precisar realizar alguma intervenção, já temos algumas ideias. Por enquanto é preciso observar enquanto os usuários definem suas rotinas e fluxos – completa.
Dificuldade com as paradas e catraca dupla
Como muitas pessoas ainda sentem dificuldade para entender em qual parada cada linha circula, a Visate deve disponibilizar no próximo mês todos os dados referentes aos ônibus em três aplicativos para celular. Com ajuda dessa tecnologia, o usuário poderá acompanhar o deslocamento do seu ônibus em tempo real. Outro problema que está sendo ajustado é a demora no embarque de passageiros na área central, que seria causada por causa do pagamento em dinheiro, um processo mais demorado. Na última semana, um ônibus com duas catracas circulou pelos corredores: uma para os passageiros que utilizam cartão e outra para quem paga com dinheiro. Um novo teste deve ser feito nesta semana. No entanto, segundo o secretário, o primeiro teste foi positivo, com muita diferença na agilidade do embarque. A implementação do novo sistema de catraca deve ocorrer.
Lotação, atrasos e frequência
Tanto nas EPIs Imigrante e Floresta, quanto nas redes sociais, passageiros têm se manifestado para reclamar de ônibus lotados, especialmente em horários de pico da manhã e da tarde. A maior frequência dos coletivos nos bairros também ainda não é realidade, caso da linha De Zorzi/Campos da Serra. Para Marrachinho, esses transtornos são pontuais e não representam a maioria das linhas.
Lideranças de bairro sugerem melhorias
Para os diretores de Mobilidade Urbana da União das Associações de Bairros (UAB), Sérgio Campos e Tânia Menezes, o SIM Caxias tem funcionado bem. Ele afirmam que reclamações eram esperadas já que o sistema alterou a rotina de grande parte dos passageiros. Ainda assim, os dois sugerem ajustes para melhorar a qualidade do serviço. Tânia destaca a importância melhorar as informações para as pessoas nas paradas.
– É preciso produzir um material mais simples e didático para o conjunto da população, porque tem pessoas que não tiveram suas linhas integradas ao SIM, mas elas também utilizam outras linhas e precisam entender o funcionamento como um todo. Muitas vezes nem os funcionários da prefeitura que estão atuando nas paradas sabem passar as informações corretas, precisariam estar mais preparados – justifica Tânia.
Campos acredita que o sistema é um grande avanço para a cidade, mas questiona a retirada de diversas paradas de ônibus nos bairros sem antes debater com os moradores ou consultar os presidentes de bairro ou a UAB. – Ontem, três presidentes vieram me procurar para relatar retirada de paradas. Isso é um desrespeito conosco e com os usuários do transporte – reclama Campos, que é a favor do segundo corredor exclusivamente para os ônibus e veículos de transporte coletivo como forma de facilitar a ultrapassagem e dar mais agilidade.