O número de infrações por embriaguez ao volante em Caxias do Sul apresentou variações significativas ao longo dos últimos anos, conforme dados da Secretaria Municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade (SMTTM). Após um pico de 984 autuações em 2014, houve uma queda acentuada para 510 em 2015. No entanto, os números voltaram a subir gradativamente, alcançando 1.012 em 2018.
Em 2020, o primeiro ano da pandemia de Covid-19, houve um recorde de 1.579 infrações. Após uma redução nos anos seguintes, com 898 casos em 2022 e 850 em 2023, os números voltaram a crescer em 2024, atingindo 1.175 infrações até novembro.
Os dados (confira a lista completa abaixo) reforçam a necessidade de medidas contínuas de fiscalização e conscientização, já que o comportamento de motoristas dirigirem embriagados persiste. O advogado e professor de Direito Marcos Peroto destaca que a continuidade ou não de políticas públicas está relacionada ao panorama de cada localidade.
Um exemplo é a Operação Balada Segura, que existe desde 2011. O especialista afirma que apenas 40 municípios do Estado, Caxias entre elas, têm a ação — o RS tem 497 cidades.
Segundo o gerente da Escola Pública de Trânsito (EPT), Carlos Beraldo, além das tradicionais blitze realizadas pela Fiscalização de Trânsito, Caxias do Sul investe em ações de conscientização, como palestras em Centros de Formação de Condutores (CFCs) e empresas. A alcoolemia é um tema constante nessas iniciativas.
Influência de fatores locais
A relação entre políticas públicas consistentes e a redução da embriaguez ao voltante, como explica Peroto, foi percebida pela Organização das Nações Unidas (ONU) após tentar realizar a década de ação pela segurança no trânsito entre 2011 e 2020.
— Ela lançou uma segunda década, que vai de 2020 a 2030. Quais foram os desafios persistentes que eles entenderam que influenciam nos resultados? A deficiência das políticas públicas implantadas. Elas influenciam desafios que são muito importantes para a situação, como a cultura do automóvel, a qualidade insuficiente do transporte público, restrições orçamentárias em todos os governos para ações estratégicas — explica Peroto.
Junto deste cenário, Peroto explica que há outras razões que podem fazer com o motorista decida dirigir após beber, entre elas o costumes do cidadão ou de uma região. O advogado cita como exemplo o hábito de tomar uma taça de vinho nas refeições e depois sair com um veículo, sem perceber que isso está alterando a capacidade de dirigir. Já outros pontos são em relação aos serviços e estruturas de uma cidade e a chamada cultura do automóvel:
— Em Caxias vamos ter os outros meios de transporte por aplicativo, ou táxi. Mas tem várias cidades que não existe isso. E aí, o cidadão não tem transporte público, ou não tem os meios de transporte coletivo pago. Infelizmente, também temos a cultura do automóvel. Ao invés de irem três ou quatro em um carro só e um sem beber, vai cada um com o seu carro — cita.
Beraldo reforça a importância de alternativas seguras para evitar o risco de acidentes.
— Nós temos transportes alternativos de várias maneiras. Não beba e dirija. Quer se divertir, quer fazer festa com a turma, vai, sem problema, mas não dirija. Pegue os meios alternativos. Temos táxis, aplicativos, transporte coletivo e até a figura do motorista da rodada. Curta a festa e volte para casa com tranquilidade — ressalta.
Ano a ano
Infrações por embriaguez ao volante em Caxias do Sul, segundo a SMTTM:
- 2014: 984
- 2015: 510
- 2016: 716
- 2017: 865
- 2018: 1.012
- 2019: 923
- 2020: 1.579
- 2022: 898
- 2023: 850
- 2024 (até novembro): 1.175
*Em 2021, na pandemia, houve recomendações sobre o uso do etilômetro. Também pelo cenário, conforme SMTTM, houve redução previsível de casos por conta das regras de distanciamento