
Durante três anos, médicos especialistas em Oncologia estudaram quais são os principais fatores de risco para o câncer na região da Serra. O resultado foi divulgado nesta semana, em Bento Gonçalves, e deve contribuir, principalmente, para a prevenção de novos casos da doença. O estudo, realizado pelo Hospital Tacchini, de Bento Gonçalves, foi feito em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e com o Hospital de Clínicas, de Porto Alegre. Mais de dois mil pacientes foram observados.
A pesquisa apontou que entre os fatores de risco mais relevantes estão o histórico familiar em primeiro ou segundo grau, tabagismo, consumo excessivo de álcool e, ainda, exposição a solventes, colas e pesticidas. Para os especialistas, o dado acende um alerta.
— É um dado preocupante que nos faz pensar em programas de educação pra essa população que faz uso desses agrotóxicos e desses pesticidas né nossa região — explica Juliana Giacomazzi, pesquisadora do Tacchini.
A identificação dos principais fatores de risco na região ajuda a entender quais ações podem ser efetivas no combate ao câncer. Isso porque, entre esses fatores, os considerados ambientais poderiam ser evitados a partir de escolhas de hábitos mais saudáveis.
— 50% dos casos de câncer poderiam ser evitados pelo manejo de fatores de risco para câncer: fumo, álcool, exposições químicas, sobrepeso. Então, são diversos fatores, é multifatorial. Reduzindo essas exposições poderíamos ter menos casos de câncer — diz Juliana.
O estudo ainda apontou que, nos últimos 15 anos, o número de casos de câncer aumentou 150% na região. Em 2005, os registros hospitalares mostram que 592 pacientes recebiam atendimento para tratar algum tumor; em 2021 eram 1.482.
— A gente acha que talvez algumas regiões têm uma concentração maior de casos pela população que originou as pessoas daquele lugar. Sabemos que algumas pessoas, de alguns grupos étnicos, têm mais risco do que outras, então é importante replicar estudos desse tipo em todas as regiões para entender qual é a magnitude do problema e demonstrar que precisamos dar atenção pra questão do câncer hereditário — explica Patricia Prolla, pesquisadora da UFRGS e do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Aos 23 anos, a arquiteta Sheila Dambros descobriu um câncer de mama. Além de histórico familiar, ela também possui uma mutação genética, que aumenta o risco de câncer de mama e de ovário em mulheres.
— Tive escolha de fazer a mastectomia bilateral, que é a retirada das duas mamas, porque eu tive câncer na mama esquerda, mas a probabilidade de desenvolver na direita, posteriormente, era muito grande. Por parte de mãe, eu não tinha nenhum histórico familiar e, por parte de pai, tinha histórico da minha vó, das irmãs da minha vó — conta.
O câncer que a Sheila enfrentou, o de mama, é considerado o de maior incidência na região da Serra, seguido pelo de intestino, próstata e pulmão. Por ser hereditário, a família da Sheila passou a redobrar os cuidados.
— Minha irmã faz acompanhamento, ela não teve câncer, mas faz controle a cada seis meses. Eu que tive faço revisões e acompanhamentos a cada seis, três meses. Meu pai todo ano a gente cobra dele e minha mãe, que não tem alteração nenhuma, a gente também pede para fazer todo acompanhamento. A família toda está se cuidando — diz.
Mas Sheila hoje comemora a vida:
— Depois disso tudo fui contemplada com o Davi. Ele chegou para ressignificar a nossa vida nesse momento. Meu mastologista disse que ele veio como uma uma celebração de todo esse processo, uma virada de chave na minha vida.
Tumores mais frequentes na Serra*
- 311 casos de câncer de mama
- 147 casos de câncer colorretal de intestino
- 132 casos de câncer de próstata
- 89 casos de câncer de pulmão
- 328 casos de outros tipos de câncer
Fatores de risco mais relevantes *
- histórico familiar em primeiro ou segundo grau
- tabagismo
- consumo excessivo de álcool
- exposição a solventes, colas e pesticidas
* Fonte: Hospital Tacchini