CORREÇÃO: A reclamação da professora aposentada Rosemeri Carvalho Teixeira se refere ao IPE Prev, e não ao IPE Saúde. A informação incorreta permaneceu publicada entre 16h30min do dia 25/04/22 e 16h15min de 26/04/22.
Em meio à crise financeira, o Instituto de Assistência à Saúde dos Servidores Públicos do Rio Grande do Sul (IPE Saúde) realiza encontros semanais com representantes de hospitais para tentar chegar a um acordo e garantir o atendimento aos funcionários do Estado. Enquanto isso, os servidores que dependem do plano de saúde na Serra aguardam o resultado dessas negociações. Nas quatro maiores cidades da região, são 30.390 pacientes que podem ser prejudicados, caso as instituições de saúde suspendam os atendimentos devido a dívidas acumuladas com o instituto.
De acordo com levantamento repassado pelo IPE Saúde, são 13.073 associados em Caxias do Sul, 9.106 em Bento Gonçalves, 6.291 em Vacaria e 1.920 em Farroupilha. Entre eles, estão servidores das forças de segurança, como Brigada Militar (BM) e Polícia Civil, professores e funcionários de escolas.
Na região, cinco hospitais integram a lista de 40 instituições que notificaram o plano de saúde sobre a possível rescisão de contrato. Os atendimentos ainda ocorrem normalmente nos hospitais Pompéia e Virvi Ramos, em Caxias do Sul, no Tacchini Sistema de Saúde, em Bento Gonçalves e Carlos Barbosa, e no Hospital São Peregrino Lazziozi, em Veranópolis.
A notificação foi encaminhada já que o instituto deve R$ 1,1 bilhão para hospitais e clínicas gaúchas pela prestação de serviços médicos aos usuários. Alguns pagamentos chegam a 180 dias de atraso.
Um grupo foi criado para discutir a crise enfrentada pelo plano de saúde e há um acordo para revisar as tabelas de diárias e taxas hospitalares, a tabela de medicamentos e os honorários dos médicos para correção.
IPE não tem agência e nem plantão pediátrico há mais de oito anos em Caxias
Além da possibilidade de restrição do atendimento, os usuários de Caxias do Sul estão sem agência do IPE Saúde desde 2019. O motivo foi a aposentadoria da servidora que trabalhava no local. Desde então, os usuários precisam ir a Bento Gonçalves para conseguir atendimento na agência de lá. Outra dificuldade relatada é a falta de plantão pediátrico pelo plano na maior cidade da Serra. As crianças têm que ser levadas para Farroupilha ou Bento Gonçalves.
Professora aposentada do Estado, Rosemeri Carvalho Teixeira, 55 anos, é filha de militar e tem o plano de saúde desde a infância.
— Para conseguir consultas especializadas leva de dois a três meses. Tem que esperar a agenda do médico, mas o desconto de R$ 432 está no meu contracheque todos os meses, mas na hora que precisamos onde está o plano? — questiona Rosemeri.
Para ela, um dos principais problemas é a falta da agência na cidade.
— Se falar com o IPE, eles dizem que está tudo online, mas as pessoas mais velhas não têm esse domínio da internet. Minha mãe já tem 75 anos e graças a Deus nunca precisei levar ela até Porto Alegre para fazer exames, mas é uma angústia não saber se terá o atendimento caso precisar. Tem a prova de vida que todos os anos é uma agonia porque se não fizer o salário é cortado — cita Rosemeri, ao se referir ao sistema do IPE Prev.
Essa apreensão aumenta com a possibilidade de restrição de atendimento nos hospitais. O sentimento é compartilhado com o 2º sargento da reserva da Brigada Militar (BM), Luiz Carlos da Cruz da Silva, 60.
— Tenho uma neta de oito anos e a minha filha paga outro plano para garantir atendimento para ela. São policiais militares, bombeiros, da civil, agentes penitenciários e professores que precisam de um plano de saúde e são desrespeitados. Como um pai vai trabalhar na rua com a criança em casa com febre? Como uma mãe vai estar em sala de aula com o filho doente? Pensando que tem que sair correndo até Farroupilha para ter esse atendimento? _ questiona ele.
Associação e sindicato acompanham situação
O andamento das negociações é acompanhado de perto pela Associação dos Servidores de Nível Médio da Brigada Militar e Bombeiros Militares (Abamf), com sede em Caxias do Sul, e pelo 1º Núcleo do Cpers Sindicato, que representa os professores.
O presidente da entidade, Júlio Francisco Haito, e o vice-presidente, Potiguara Galvan, contam que há uma série de dificuldades em relação ao plano. Sobre a falta do plantão em Caxias, ele lembra que em novembro de 2021 foi assinado um contrato para que o Hospital do Círculo passasse a atender pacientes do IPE Saúde, especialmente, na área da pediatria. De acordo com a instituição, o assunto está em tratativas, mas ainda não há data para que iniciem os serviços.
Outro assunto que não teve prosseguimento foi a negociação com entidades para reabrir uma agência no município. Como o instituto teve a transição para o digital, isso gerou dúvidas. Por causa dessa demanda, a associação instalou um ponto de atendimento para ajudar os servidores que têm dificuldade de acessar os serviços no site, mas não tem condições de atender todos os usuários.
— Vários médicos se descredenciaram do IPE e alegam valores baixos repassados pelo plano então tem que rever a tabela. Se os valores recolhidos fossem direto para autarquia tenho a convicção que o IPE estaria em outro patamar — destaca Haito.
O Cpers também monitora de perto a situação:
— Esperamos que cheguem a um consenso e tenha o pagamento para que os associados não sejam ainda mais prejudicados com o descredenciamento de hospitais — destaca o diretor do 1° Núcleo do CPERS, David Orsi Carnizella.
O que diz o IPE Saúde
"As equipes técnicas dos Hospitais e do IPE Saúde vêm se reunindo semanalmente desde o final de março. A questão é que qualquer mudança dessa magnitude exige um processo de construção conjunta para evitar que se cometa erros de grande proporção. Houve alguns avanços, mas o assunto ainda vai se estender por mais alguns dias em função do tempo exíguo e da necessidade de alinhamento dos entendimentos conceituais e de repercussão tanto para o IPE Saúde como para as instituições hospitalares.
Ainda não foi estipulada uma nova data. Os trabalhos continuam até que seja possível chegar a uma solução satisfatória para todos os envolvidos."